31 de dezembro de 2006

Promessas e realizações

Publicado no Tribuna do Brasil de 29/12/2006

Caderno TB Programa, Coluna Psicoproseando com Maraci


Segundo Carlos Drumond de Andrade, é dentro da gente que o novo ano cochila e espera desde sempre. Não precisamos aguardar o 1º de janeiro. Mas há algo mágico na data. Talvez seja a energia de muita gente nela acreditando, por ela ansiando. E com 2007, não será diferente. Então, prepare-se para mais uma virada!

Faça um balanço de 2006. Em uma folha de papel, escreva os acontecimentos positivos e, em outra, os negativos, conforme eles lhe vierem à cabeça. A primeira, guarde para as orações de agradecimento. Agradecer é muito importante. Quanto à segunda, é nela que você vai começar a trabalhar.

O que não deu certo no ano que chega ao fim? Há acontecimentos irreversíveis, pelo menos à primeira vista? Esses, você deverá entregar "nas Mãos de Deus". Liste-os para suas preces. Pedir também é importante. Há providências que você pode e gostaria de tomar? Faça uma outra lista e atribua um peso a cada uma. Reserve-a.

Agora vejamos o que você deseja de novo para 2007: mudar de emprego, de parceiro, de casa, de país? Emagrecer? Engordar? Iniciar uma atividade física ou filantrópica? Montar uma empresa? Relacione tudo e atribua um peso a cada item.

Junte essa última lista àquela das providências que pode e gostaria de tomar. Transforme-as numa só, revendo os pesos atribuídos, indo da de maior à de menor importância. Aí estão suas prioridades para 2007. Até aqui, fácil. Realizar é outro papo. Atingir muitas dessas metas envolve mudanças radicais. Então, vou dar uma dica, usando um exemplo simples. Você só precisará entender o espírito da coisa.

Você é do tipo sedentário que sonha caminhar todos os dias durante duas horas, para ter mais saúde, emagrecer e parar de ouvir piadinhas dos familiares e amigos? Pois seus problemas acabaram. O primeiro passo é verificar do que necessita para iniciar: um check-up médico, roupas e tênis adequados, uma esteira? Providencie o que for preciso. Tudo pronto? Está na hora do exercício propriamente dito.

Lembre-se de que ninguém vira atleta do dia pra noite. Andar diariamente é ótimo. Mas, se tentar por duas horas logo de cara, terá grandes chances de fracassar porque isso não faz parte da sua rotina. Então, comece andando 10 minutos por dia, durante uma ou duas semanas. Mas lembre-se de só andar 10 minutos, nem menos nem mais, mesmo que o dia esteja lindo, você disposto e com tempo sobrando. Use um despertador para não se distrair. Depois, aumente para 15 minutos, por mais uma ou duas semanas. E assim sucessivamente. Quando menos esperar, estará caminhando duas horas sem o menor sacrifício. Caminhar já fará parte da sua rotina.

É maravilhoso ter hábitos saudáveis, uma vida financeira equilibrada, estar sempre lendo bons livros, fazer trabalhos voluntários, etc. Porém, não adianta forçar a barra. Algumas práticas já fazem parte da nossa vida, mas outras ainda não. Mudanças radicais costumam trazer sofrimento e frustração, o que não combina com um novo ano.

Para chegarmos onde queremos, teremos sempre de percorrer um caminho que pode ser enorme. Se pensarmos no percurso todo, tenderemos a desistir. Mas se o dividirmos em passos, a coisa mudará de figura. Caminhar 10 minutos por dia pode parecer uma bobagem. Mas talvez seja o início de uma vida atlética. Lembre-se de que toda jornada, por mais longa que seja, começa com o primeiro passo.

E já que comecei essa conversa citando Drumond... "... Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo. Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre".

Feliz Natal a todos

Publicado no Tribuna do Brasil de 22/12/2006
Caderno TB Programa, Coluna
Psicoproseando...com Maraci


Em três dias, comemoraremos o Natal. É época de nos reunirmos com familiares e amigos, trocarmos presentes, elevarmos o pensamento para agradecer as graças recebidas e fazer mais pedidos, como sempre.

Isso me faz lembrar uma ocasião em que um colega de trabalho me pediu uma dica de oração realmente eficaz. Ele estava precisando de "uma das boas", mas não sabia se era melhor decorar uma "quente" ou inventar. Além disso, queria saber qual o melhor momento para rezar - se na hora de dormir, de acordar, nesses dois momentos, ou na missa de domingo.

Lembro de ter respondido que o importante não é quando, onde, como ou quantas vezes rezamos, mas a fé que depositamos no ser a quem nos dirigimos. Há quem só lance mão de orações consagradas; há quem as use para entrar no clima e, na hora de formalizar o pedido, prefira as próprias palavras; há quem se sinta mais à vontade como se estivesse conversando com o alvo das súplicas. Tanto faz. O que vale é que a prece esteja no coração, não apenas nos lábios.

Também não importa o local. Para rezar, não precisamos ir a uma casa de oração. Podemos orar em qualquer lugar - em casa, no carro, no ônibus, na mata. Assim como não importa se oramos de pé, ajoelhados ou deitados; se à noite ou de dia; se sozinhos ou em grupo; se paramentados ou nus; se a prece é longa ou curta; se a pronunciamos uma, duas ou duzentas vezes ao dia. O que importa é a sinceridade do suplicante.

Mas nada supera a prece que dura dias, anos, uma vida. E não estou falando de ficar isolado num mosteiro, convento ou gruta, meditando e rezando, mas de fazermos da nossa rotina uma oração. Sei que estamos muito longe de conseguirmos isso na totalidade, mas todo esforço nesse sentido e qualquer vitória obtida são importantes.

Como viver em prece? Amando o próximo como a nós mesmos, fazendo pelos outros o que gostaríamos que os outros fizessem por nós. Isso soa familiar? Pois é, tem a ver com o famoso aniversariante de 25 de dezembro. Se conseguirmos viver dessa forma, estaremos sempre em oração, em contato com o divino.

Assim, reze quando, onde, como e quantas vezes quiser. Mas, independentemente disso, procure levar a vida em prece. Trate o outro como gostaria de ser tratado. Isso vale para pessoas, animais, vegetais e minerais, toda a Criação.

Gosta de respeito e dignidade? Então seja respeitoso e digno. Gosta quando são alegres, amorosos, gentis, amigos, verdadeiros, pacientes com você? Então seja assim com os outros. Gosta de ajuda nos momentos difíceis? Então ajude sempre que puder. Aprenda a se colocar no lugar do outro e a ver o mundo com os olhos dele. Um ombro amigo, uma palavra de apoio, um sorriso, um "bom dia" caloroso podem fazer uma enorme diferença. Orando sob a forma de atitudes, você estará, todo o tempo, agradecendo e conquistando bênçãos.

E, desejando a todos um feliz Natal, transcrevo o poema Falando a Jesus no Natal, ditado pelo Espírito Maria Dolores, psicografado pelo querido Chico Xavier: "Senhor, o teu Natal, de novo se descerra... Ouvem-se mais de perto as vozes cristalinas, dos pastores que ouviram as palavras Divinas: - "Glória a Deus no Alto Céu e paz na Terra!...". Proclamando a Verdade que não erra, amas, trabalhas, sofres, mas ensinas... Não possuis arma alguma, entretanto, dominas, com a força do Bem que a Tua vida encerra. Conquistadores passam nos milênios, carrascos, sob a máscara de gênios. Ficas, porém, conosco, em nosso amor profundo!... Cantamos Teu Natal, sobre guerras e povos, sabendo que És, com Deus, também nos tempos novos, a esperança da Paz e a Luz do Amor no Mundo."



O casamento e o sexo

Publicado no Tribuna do Brasil de 15/12/2006

Caderno TB Programa, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Além dos leitores que enviam suas dúvidas e pedidos de conselho, também os meus amigos são pródigos em sugerir temas para esta coluna. Assim, recebi da muito querida Hilta, uma grande amiga, super bem casada com o também meu amigo Rezende, um artigo que diz que sexo é bom, mas, no casamento, nem sempre. Só mesmo eles, que formam um casal invejavelmente feliz, poderiam ter a lembrança de me repassar um texto assim.

Ele fala de pesquisas realizadas por profissionais e algumas publicações sobre o tema, que incluem depoimentos. A falta de tempo por excesso de trabalho, as pressões resultantes do compromisso de fidelidade, a obrigatoriedade de estarem sempre juntos e a rotina estão entre as justificativas dos entrevistados para a pobreza no sexo.

Todos querem prazer, charme e animação, como nos filmes e novelas. Muitos sonham com isso, acreditando que basta que estejamos com alguém de quem gostamos, toda noite, na mesma cama, para que tudo dê certo. Mas esbarram em problemas como os apontados pelos entrevistados. Não sabem que uma união estável não é garantia de boa vida sexual.

Sem querer parecer piegas, mas, para muitos, já sendo, os testemunhos lidos me fizeram pensar não em vida sexual ruim, apenas. Eles me fizeram pensar em falta de vida amorosa. Muitos casais vivem juntos e até fazem sexo, mas não têm uma vida amorosa. Nos depoimentos, senti que é isso o que falta, o amor praticado quotidianamente.

Não estou dizendo que não é possível sexo sem amor. Muitos desses encontros são bons e divertidos. Mas não consigo imaginar um casal mantendo uma vida sexual feliz, dia após dia, ano após ano, sem uma vida amorosa feliz. Se os dois estão física e emocionalmente saudáveis e há amor, a sintonia se encarrega de, na hora certa, derrubar cansaço, frustrações e as barreiras das pressões e da rotina. O sexo flui sem necessidade de grandes preliminares ou malabarismos. E é maravilhoso.

Quando há amor, o olhar nos olhos, o cheiro do outro, simples beijos e abraços ou um sorriso cúmplice são suficientes para despertar o desejo. Não é preciso ficar inventando coisas do outro mundo, uma após a outra, para manter alto o nível do interesse sexual pelo e do parceiro. É claro que a novidade é um dos temperos da vida. Mas, quando a vida amorosa está bem, até mesmo o de sempre, o básico, torna-se especial.

O amor é o melhor combustível para o sexo. É ele que proporciona o enxergar, o ouvir, o sentir o outro, a entrega. E isso não acontece só na cama. Quando estamos amando, podemos, a qualquer momento do dia, pensar no ser amado e sentir o coração aquecido. Podemos, a qualquer momento do dia, dirigir ao outro sublimes sentimentos. Podemos dar uma ligadinha, no meio da tarde, só pra dizer a ele: "Mal posso esperar a noite chegar". E aí, no momento em que o encontramos, já estamos prontos.

Então, para quem quer uma vida sexual realmente feliz, vai aqui uma receita: construa uma vida amorosa. Procure se ligar a alguém que também se ligue amorosamente a você. Aproxime-se desse alguém e permaneça amorosamente próximo, como se a ele estivesse abraçado em espírito. Quando nele pensar, que seja amorosamente. Quando para ele olhar, que seja amorosamente. Quando lhe dirigir palavras, que elas sejam sempre amorosas, mesmo quando precisarem ser duras. Tudo pode e deve ser feito com amor, respeitadas as individualidades, sem obsessões ou apegos egoístas.

E para quem pensa não saber o que é o amor, transcrevo as palavras do psiquiatra americano William Menninger: "O amor é um sentimento que a gente sente quando sente que vai sentir um sentimento que jamais sentiu." Até sexta-feira!

Vitoriosa

Publicado no Tribuna do Brasil de 8/12/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseand...com Maraci


Final de mais um semestre letivo. Estudantes se preparam para a formatura. Entre eles, a gauchinha Fernanda Barreto, que me honrou ao me mostrar seu projeto de conclusão de curso, elaborado para o Instituto de Cultura do Toque - Tocar, OSCIP de Brasília que trabalha com a difusão de terapias manuais.

Gostei de tudo o que li. Mas a conclusão do trabalho renovou em mim antigas esperanças. Nela, havia o seguinte: "Em nossas trocas cotidianas, percebemos que a geração da qual fazemos parte afigura-se, cada vez mais, na posição de vítima. Parecemos anestesiados, acuados, num beco sem saída. Contudo, essa impotência e silêncio soam, aos nossos ouvidos, como uma forma de conivência."

Por isso, quero falar de conscientização, de enxergarmos nossas limitações, mas também o poder que nos permitirá superá-las e mudar a realidade que não mais nos satisfaça. Porque de nada adianta termos consciência da realidade, se dela mantivermos distância, nela não atuarmos. A conscientização ultrapassa o nível da tomada de consciência, ela é transformadora.

Recentemente, assisti a uma entrevista em que o jornalista Washington Novaes disse que preservar o meio ambiente é uma questão que envolve a sobrevivência da Humanidade. Mas nem por isso nos mobilizamos como deveríamos. É verdade. Parece que não fazemos parte da Humanidade e que, se ela for extinta, ainda restaremos nós. Somente alguns poucos fazem algo efetivo. Os demais seguimos coniventes. Falta conscientização.

Fernandinha começou o trabalho no Tocar praticando e ensinando técnicas de massagem em crianças e idosos que freqüentam ou moram em instituições de comunidades carentes do DF. Logo ela percebeu que a entidade necessitava melhorar sua comunicação interna e trabalhou nisso também. Mas não parou por aí e, em parceria com outra formanda, criou um conjunto de propostas para aumentar a visibilidade do instituto perante a sociedade. Esse projeto se transformou no de conclusão do curso de jornalismo.

Estando mais visível, o Tocar atrairá mais colaboradores. Mas isso não ajudará só a instituição. Dará a outras pessoas a chance de sair da posição de vítimas coniventes. É disso que precisamos, de gente com visão crítica e vontade.

O mundo está cheio de reféns, prisioneiros das dificuldades emocionais, sociais, culturais que nos cercam e limitarão, se assim o permitirmos. Mas somos todos livres. Não precisamos passar pela vida fugindo do que nos aborrece ou entristece. Sempre temos alternativa.

Essa jovem mulher, pouco mais que uma menina e já uma grande jornalista, está aí fazendo o que todos fazemos. Estudando, trabalhando, namorando, curtindo festas e os amigos, leva uma vida muito parecida com a de outros jovens. Mas também está olhando em volta e além. Também está fazendo o que acredita que pode e deve, sem se limitar a reclamar ou maldizer.

A Fê me faz lembrar uma canção chamada Vitoriosa, não apenas por ter recebido, da banca que examinou seu projeto de formatura, conceito SS e nota 10. Mas porque muita gente a admira e torce por ela. Assim, parafraseando Ivan Lins, podemos lhe desejar felicidades e sucesso sempre, dizendo: "Queremos sua risada mais gostosa, esse seu jeito de achar que a vida pode ser maravilhosa; queremos sua alegria escandalosa, vitoriosa por não ter vergonha de aprender como se goza; queremos toda a sua pouca castidade; queremos toda a sua louca liberdade; queremos toda essa vontade de passar dos seus limites e ir além, e ir além; queremos sua risada mais gostosa, esse seu jeito de achar que a vida pode ser maravilhosa, que a vida pode ser maravilhosa." Até sexta-feira!

Os verdadeiros laços de amor

Publicado no Tribuna do Brasil de 1/12/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.


Por esses dias, recebi a visita de Jorge Lúcio, alguém que conheci recentemente e que entrou, sem a menor dificuldade, para o rol dos meus amigos. Ele queria dividir uma história interessante, sobre os laços de amor, que conto agora a vocês.

Um amigo dele, cujos pais estavam separados havia muitos anos, teve de lidar com a doença e a morte do pai. Só que esse processo naturalmente triste não envolveu apenas dor, mas também amor porque, no final da vida, o pai voltou pra casa, recebendo, da ex-mulher e desse filho, cuidados e carinho. É certo que o relacionamento do casal havia sido doloroso para aquela mulher. É certo que isso prejudicou os filhos. Também é certo que o distanciamento aconteceu. Mas, no momento da dor, a caridade, que é um dos nomes do amor, mostrou sua face e permitiu que mãe e filho deixassem de lado antigas mágoas.

Bonita história, não? Mas não foi isso o que chamou a atenção de Jorge. O que o intrigou foi o seguinte: uma vez separada, já bem madura, a mãe da nossa história havia iniciado outro relacionamento, esse sim de amor, com um homem com quem não dividia o teto, mas os momentos importantes da vida. E esse, diferentemente daquele que havia sido seu marido, soube conquistar ela e o filho que com ela morava. Era um grande companheiro, amigo das boas e más horas, amoroso e confiável, que entendeu e respeitou a decisão dela de buscar de volta o ex-marido, para ampará-lo até que ele morresse.

Só que, dois anos depois, esse homem maravilhoso também morreu, de repente. E o que Jorge percebeu, não só da parte da senhora, mas também do filho dela, foi uma dor enorme, um sofrimento que não havia dado as caras quando da partida daquele que fora esposo e pai. Situações parecidas, mas bem diferentes que merecem reflexão.

Às vezes vemos casais que parecem ter tudo para formar e manter uma família feliz. Encontram-se e se apaixonam. Depois de um tempo de namoro, decidem se casar. Montam uma casa, planejam a cerimônia, assinam papéis, festejam a decisão e passam a viver juntos.

Acontece que, após um tempo, as coisas, que na realidade nunca haviam dado certo mesmo - só depois é que se enxerga isso - começam a se complicar. Algumas pessoas, por despreparo ou dificuldades emocionais, não conseguem criar ou manter bem nada que envolva sentimento, compromisso, troca. Afastam o outro, mesmo que esse outro esteja apaixonado e bem intencionado, mesmo que haja uma estrutura voltada para que dê certo, mesmo que isso envolva casa e filhos.

Por outro lado, às vezes conhecemos pessoas que trazem luz à vida da gente, mesmo que nada tenha sido planejado, quando nem esperamos ou acreditamos ser possível. Ao lado delas, a vida fica mais fácil porque nunca estamos sós. São as nossas verdadeiras companheiras e não precisam de formalidade para amar e se fazerem amadas.

Nessa narrativa, facilmente identificamos um casal que se juntou legalmente, mas que não se ligou verdadeiramente. Pode ter faltado carinho, respeito, compromisso, o que trouxe sofrimento aos dois e aos filhos. Mas também encontramos um casal que se uniu pelos laços do amor. Esses sim trazem felicidade. E mesmo que venha a haver uma separação, eles não se romperão, serão desfeitos delicadamente, amorosamente.

Isso serve para nos mostrar que as verdadeiras famílias são as que se formam graças ao carinho, à comunhão de idéias e aos valores. A afeição recíproca dispensa formalidades e nem dá bola pra genética. Não são os frágeis laços da matéria que nos prendem. São os que ligam as almas, que não se desfazem ou quebram jamais, nem mesmo com a morte. Até sexta-feira!

Nossos irmãos, nossa responsabilidade

Publicado no Tribuna do Brasil de 24/11/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.


No domingo, graças à generosidade do amigo Denizard Souza, mais uma vez participei do programa de TV Sinais da Evolução. Dessa vez, não na qualidade de entrevistada, mas para fazer um apelo em favor dos animaizinhos que estão no corredor da morte do Centro de Controle de Zoonoses do Distrito Federal.

São cães e gatos, com e sem raça definida, filhotes e adultos. Muitos foram abandonados pelos donos porque cresceram, adoeceram, ou perderam a graciosidade da tenra juventude. Quem vai ao CCZ não consegue sair de lá sozinho. Quem vai ao CCZ não resiste ao apelo desesperado contido no olhar daqueles seres tão maltratados pelos homens, que têm a câmara de gás como triste destino.

Admiro o trabalho de quem se dedica a tentar salvar esses amores, procurando lares adotivos, definitivos ou temporários. Admiro quem luta pelos abandonados, deficientes, doentes. Admiro quem olha um animal e vê ali uma criatura de Deus, tão digna e merecedora, quanto qualquer um de nós, de respeito, atenção, cuidados. O mundo está cheio de bichinhos precisando de um lar, concluímos.

Mas a verdade é que há mais lares precisando de um bichinho. A ciência tem comprovado que a companhia dos animais melhora a qualidade de vida dos humanos. Pessoas com problemas cardíacos, por exemplo, vivem mais, já que essa convivência ajuda a manter baixos a pressão sangüínea e o nível do colesterol, além de reduzir depressão e ansiedade. Crianças com dificuldades de aprendizagem e relacionamento também se beneficiam, têm mais auto-estima, melhor integração na escola e maior vontade de aprender.

E existem vários estudos sobre os benefícios para quem atravessa dificuldades típicas da terceira idade e para pessoas com necessidades especiais, problemas neurológicos ou emocionais. Os relatos de recuperação são fantásticos. Por isso o Brasil vem adotando um trabalho que já é uma realidade em alguns países como EUA e Bélgica. Chama-se Terapia Assistida por Animais (TAA), em que profissionais utilizam cães e gatos para incrementar o tratamento de seus pacientes, tornando prazeroso o que poderia ser sacrificante.

Isso sem falar naquelas pessoas que não estão doentes mas sós, precisando de um amigo sincero, fiel. Um companheiro que sempre o receberá com alegria, disposto a passear, brincar, ver TV, tirar um cochilo, ouvi-lo sem censura, protegê-lo ou simplesmente permanecer a seu lado, sem cobranças ou reclamações. Se temos um animal de estimação, certamente desfrutaremos esses felizes momentos. Diferentemente dos humanos, eles sempre retribuirão afeto com afeto. Essa fórmula é infalível.

O Centro de Controle de Zoonoses do DF está lotado, em especial porque pessoas em pânico, por falta de esclarecimentos acerca da ocorrência de leishmaniose, têm abandonado os animais de estimação à própria sorte, sem sequer procurar saber se eles estão contaminados ou não.

Assim, se você quiser um amigo, poderá facilmente encontrá-lo no CCZ. Só precisará deixar o preconceito de lado e abrir seu coração para recebê-lo, mesmo sem pedigree, mesmo que ele não seja mais um bebezinho, ou perfeitinho. Pode ser que a aparência dele não esteja das melhores. Mas a gente também passa por isso. Há dias em que estamos de assustar. Mas nada que um banho, comida, cuidados básicos e carinho não resolvam.

Se precisar de ajudar ou orientação, poderá visitar blogs como o http://salvandovidas.zip.net e o http://adotecczdf.zip.net. Lá você sempre será muito bem recebido.

E nunca é demais lembrar que os animais são filhos de Deus, portanto nossos irmãos, nossa responsabilidade. Até sexta-feira!

Com ou sem palavrão

Publicado no Tribuna do Brasil de 17/11/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Esse negócio de internet é incrível. Recebo as mensagens mais extravagantes por e-mail. Noutro dia, minha querida amiga Dalva Helena me enviou um texto atribuído ao Millôr Fernandes que fala sobre o poder redentor dos palavrões. Simplesmente genial.

Segundo ele, dizer o palavrão certo na hora certa pode lavar a alma da gente, manter em nível baixo o estresse e aumentar a auto-estima, muitas vezes revelando aquilo que não conseguimos exprimir com palavras politicamente corretas, as que estão nas gramáticas, nos dicionários. Há momentos em que um palavrão cai como uma luva, expressando altas doses de admiração, tristeza, espanto, raiva, alegria, preocupação.

Não é à toa que as crianças e muitos adultos, quando começam a aprender um idioma estrangeiro, procuram logo conhecer os palavrões. Na falta de um vocabulário razoável, eles podem ajudar muito, deixando bem claras nossas intenções.

Millôr diz que o direito a um bom palavrão deveria estar assegurado na Constituição Federal. Que eles "...não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia...".

Claro que, na maioria das vezes, não podemos resolver as coisas de forma tão direta. Mas nada de engolir sapos ou em seco; ficar fervendo por dentro, que nem chaleira; ou pra explodir, tal qual panela de pressão. Devemos encontrar alternativas para aquele palavrão que está na ponta da língua, doidinho pra sair e se atracar no pescoço de alguém, ou se perder, desconsoladamente vagando por este universo sem fim.

Talvez uma opção seja: num daqueles dias em que seu chefe torrou sua paciência, em lugar de mandá-lo "praquele lugar" ou se desesperar pensando "que m", ou "agora fu", simplesmente ir para casa mais cedo, desligar os telefones, entrar de cabeça num banho relaxante, colocar um calção ou uma camisola velha, abrir uma garrafa de vinho, jogar o corpo na cama e ligar a TV ou o som, só pra ficar ali, largado.

Uma outra seria: no meio daquela discussão chatérrima, a número 1.000 de outras que não levaram a lugar algum, dar as costas àquele marido porre ou àquela mulher mala, sem dizer absolutamente nada, desligar o celular e ir ao cinema assistir a um filme do gênero "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" ou "Shrek". Nada de Almodóvar ou iraniano nessas horas, por favor.

E o que me diz de ficar invisível para aqueles que parecem querer, a todo custo, arrancar-lhe um palavrão? Vá para a casa de um amigo muito querido e passe horas ou um fim de semana refugiado. Ou se esconda num hotel ou noutra cidade, de onde poderá avaliar quantos palavrões está economizando e quantos palavrões os chatos estarão engolindo, enlouquecidos tentando imaginar onde você se enfiou.

E que tal uma pegadinha light, daquelas de deixar o outro abobalhado sem conseguir imaginar quem poderia ter sido o engraçadinho? Nada ofensivo ou perigoso. Apenas uma brincadeira levemente malvada. Assim, você vai poder rir pra dentro, se estiver presente, e escancarado quando estiver sozinho. E lembre-se de se mostrar solidário com a vítima, negando até à morte a autoria.

O que importa é extravasar a raiva, não permitindo que ela consuma você. Como diz a Dalvinha, a vida às vezes "é de f". Mas, aos poucos, as coisas vão se ajustando. E, se não as tornarmos muito pesadas, elas se encaixarão quando menos esperarmos. Até sexta-feira!

Numa Caixa de Skinner

Publicado no Tribuna do Brasil de 10/11/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


No sábado passado, eu conversava com o grupo PARA SOBREVIVER A UM GRANDE AMOR a respeito de o que mantém muitas mulheres presas a homens problemáticos. Falávamos especificamente sobre aqueles que, embora tenham um comportamento lamentável em grande parte do tempo, volta e meia são amorosos, deixando a parceira confusa quanto aos sentimentos dele e ao futuro da união.

Lembrei, então, da faculdade, quando fazíamos experimentos com a famosa Caixa de Skinner. Funcionava mais ou menos assim: um ratinho faminto era colocado em uma pequena caixa com uma barra que liberaria para ele uma bolinha de comida se pressionada. Por estar em privação, o animalzinho movimentava-se muito e terminava por topar a barra, recebendo uma pelota de ração. Depois de algumas esbarradas, ele associava apertar a alavanca a receber comida. Estava estabelecido o comportamento pressionar a barra.

Se deixássemos que o rato recebesse ração sempre que apertasse a alavanca, ele abandonaria o comportamento instituído quando saciado. Se suspendêssemos o fornecimento, o animalzinho, depois de um tempo sem nada receber, também desistiria do procedimento, que se extinguiria. Mas se a liberação acontecesse de forma não contínua, intermitente, ele, ainda faminto, continuaria pressionando a alavanca, na expectativa da comida surgir.

Algo semelhante parece acontecer em algumas uniões. Imagine uma mulher casada com um homem que, em situação normal, é amoroso e responsável. Ela e os filhos estão vivendo felizes quando, um dia, ele aceita um convite pra tomar uma cervejinha. Sai na sexta-feira e só volta no domingo à noite, embriagado e transtornado, agredindo todos, ou numa tremenda ressaca, depois de muita bebedeira com companheiros de copo e a mulherada. Passado o estresse inicial, ele pede desculpas, promete nunca mais beber ou farrear e volta a ser maravilhoso, até o próximo porre.

A mulher fica dividida. Quando ele apronta, sofre e pensa em deixá-lo. Quando ele se mostra arrependido, lembra o quanto ele pode ser bom e se decide por uma nova oportunidade. Assim, a vida vai passando e a situação se agravando. Os prejuízos para todos os envolvidos, inclusive os filhos, são incalculáveis.

O que se observa, em geral, é que essa mulher tem uma carência enorme, com origem, muitas vezes, na infância. Está em estado de privação como o rato do experimento, só que não de comida, mas de carinho. Movimentando-se pela vida, ela, assim como o bichinho topa a alavanca, esbarrará num homem que lhe dará algo que ela chamará de amor, mesmo que seja uma atenção mínima. Associando aquele homem a felicidade, ela fará tudo para continuar recebendo seu afeto, como o rato pressionando a alavanca. Está estabelecido o comportamento insistir no relacionamento.

Se ele for amoroso sempre que solicitado, ela poderá ficar enjoada e se desinteressar depois de um tempo. Por não ser emocionalmente saudável, nunca estará feliz, mesmo que o companheiro seja tudo aquilo com que ela disse ter sonhado a vida inteira. Se ele lhe negar amor, ela insistirá no relacionamento, sofrerá muito com a rejeição, e acabará desistindo dele, movimentando-se em busca de outro. Mas se ele liberar afeto de forma intermitente, ora se comportando de maneira amorosa, ora com desrespeito, ela, sempre faminta de afeto, procurará manter a união, a qualquer preço, esperançosa apesar de tudo.

Essa mulher, tal qual o rato da experiência, parece viver de migalhas, à mercê de alguém nada confiável, de quem qualquer coisa pode ser esperada. E você? Conhece alguém que vive como se estivesse numa Caixa de Skinner? Até sexta-feira!

Rita, o feijão e o sonho

Publicado no Tribuna do Brasil de 3/11/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


No último sábado, tive a sincera alegria de encontrar uma amiga que não via há algum tempo. Não dessas com quem costumamos trocar confidências, receitas, dicas de beleza ou nome de lojas. Daquelas que participam da vida da gente de outra forma, embora nada menos importante. Estive com uma ex-professora do meu filho.

Fiquei feliz por revê-la e surpresa quando ela se confessou leitora assídua e apreciadora desta coluna. Em poucos minutos, conseguimos dar uma geral nos últimos acontecimentos. Só que, de tudo o que conversamos, o que mais me chamou a atenção foi a forma apaixonada como ela, agora aposentada, falou sobre sua vida como educadora. E foi ali, dentro de uma farmácia, que ela me contou as dificuldades que precisou superar para, nascida numa família de médicos, abraçar, apesar da oposição de todos, a carreira de seus sonhos.

Disse Confúcio: "Escolha um trabalho que tu ames e não terás que trabalhar um único dia em tua vida". E é assim que funciona. Quando fazemos o que gostamos, estamos sempre apaixonados. Dispostos, encontramos tempo e oportunidade para o trabalho; entusiasmados, não nos cansamos tanto ou, mesmo cansados, estamos felizes; criativos, procuramos melhorar a cada dia. Isso não quer dizer que nunca enfrentaremos problemas, tristezas, frustrações. Mas os obstáculos não nos abaterão.

Então, se quer iniciar sua vida profissional e ainda não escolheu uma carreira, aí vai uma dica. Procure pensar: o que se imagina fazendo? Que profissionais admira? Tem algum hobby que poderia transformar em atividade remunerada? Não se deixe bloquear por preconceitos, confundir por palpites sem sentido ou levar pelo materialismo puro. Toda atividade honesta tem seu valor, independentemente da escolaridade exigida, da popularidade ou do glamour que dela possa decorrer. O mais importante é que você trabalhe com vontade, alegria, dedicação.

Já iniciou uma carreira, não está satisfeito, mas não tem outra em mente? Comece tentando conhecer as razões do seu descontentamento. Um dia você se interessou pela profissão que tem. Então, procure identificar exatamente do que não está gostando. Será que o problema está realmente no ofício? Será que não está na carga horária? Ou no ambiente físico? Ou no relacionamento com chefes e colegas? Ou na remuneração? Ou no seu despreparo para as tarefas? Mudanças de horário, de sala, de chefe, de emprego podem ajudar muito, assim como cursos que o deixem mais confiante e feliz.

Anda desejando uma profissão diferente? Nada de decisões precipitadas. Pesquise sobre essa nova carreira. Aos poucos, procure trazer o sonho para a realidade. É isso mesmo o que quer? Então planeje a transição. Não se preocupe com o que vão pensar ou dizer a esse respeito. Mudar de idéia é humano e você tem direito a isso. E se o novo ofício se mostrar impossível ou incompatível com outros interesses como dinheiro e status, não precisará abandoná-lo. Talvez ele possa virar, num primeiro momento, uma segunda profissão, recreação ou atividade voluntária, trazendo-lhe grande prazer.

Não importa se você acertou a profissão logo de cara. Não importa se você vai precisar, além dela, ter outra atividade pra se sustentar ou complementar seus rendimentos. Não importa sua idade, sexo ou grau de instrução. Se você sonhou, pode começar.

Imagino, Rita, que você lerá estas palavras, que são dedicadas a você e a todos que sonham, acreditam e fazem acontecer. Junto com elas, os meus agradecimentos pelo exemplo dado ao meu filho e todas aquelas criaturinhas em formação que tiveram o privilégio do seu contato firme a amoroso no INEI. Até sexta-feira!

O gênio e a dor

Publicado no Tribuna do Brasil de 27/10/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci



Há 100 anos, em 23 de outubro de 1906, realizava-se o vôo reconhecido como o primeiro de um aparelho mais pesado que o ar. Alberto Santos Dumont apresentava ao mundo o 14 Bis.

O Pai da Aviação foi um gênio em múltiplas atividades. Além de inventar, construía o que criava e era o corajoso piloto de provas de seus artefatos futuristas. Em 12 anos, produziu um invento importante a cada seis meses, em média. Seu desempenho era extraordinário.

Santos Dumont nada cobrou por suas invenções, dedicando-as à humanidade. O altruísmo era uma das belas facetas do seu caráter. E ele é tido como irrepreensível no campo da ética e da moral. Mas esse homem exemplar e genial sucumbiu a uma depressão crônica, envelhecendo prematuramente, adoecendo e, por fim, suicidando-se aos 59 anos.

A depressão é uma das maiores preocupações da Organização Mundial de Saúde. É uma doença grave e comum. Ela está em toda parte e talvez isso a torne vulgar a ponto de ser subestimada até mesmo por muitos profissionais da área de saúde. E a falta de diagnóstico, aliada à desinformação e ao preconceito, faz com que vários doentes fiquem sem o tratamento adequado.

Diferentemente do que muitos imaginam, ela não é resultado de uma fraqueza de caráter e não pode ser vencida apenas com força de vontade, viagens, conselhos ou presentes. Indica um desequilíbrio bioquímico cerebral que precisa ser corrigido com medicação bem específica. E o profissional para esse tratamento é o psiquiatra. Além disso, é imprescindível o acompanhamento de um psicólogo, que ajudará o paciente a entender a doença e superar os problemas que a ela deram causa, a agravaram, ou dela decorreram.

Há diferentes tipos de depressão. Mas convém ficar atento aos seguintes sintomas: tristeza, pessimismo, desesperança, cansaço físico ou mental, sentimento de pesar, de ser um fracasso, ou de culpa, crises de choro ou dificuldade para chorar, falhas de memória, incapacidade de iniciar, dar continuidade ou concluir as atividades, mesmo as corriqueiras, dificuldade para tomar decisões, perda do interesse em coisas que antes eram interessantes, falta de concentração, alterações do apetite, do sono ou do desejo sexual, irritabilidade ou impaciência, sentimento de que não vale a pena viver, vontade de se isolar, de sumir ou de morrer.

Além disso, observe seus parentes. Muitas famílias têm tendência à depressão. A mãe de Santos Dumont, por exemplo, matou-se. Dois sobrinhos dele cometeram o suicídio. E acredito que outros familiares do Pai da Aviação também sofriam desse mal, mesmo não tendo tomado uma atitude desesperada.

Pode ser que você não apresente todos esses sintomas, ou não se sinta mal todo o tempo. Mas se essas informações mexem com você, procure ajuda profissional. A depressão não se limita ao nosso humor. Ela restringe nossa vida, impedindo-nos de ver o mundo como ele é, tornando difícil a convivência, incapacitando-nos. É uma doença progressiva que não desaparece espontaneamente. Relacionamentos amorosos foram destruídos, empregos foram perdidos, doenças foram desenvolvidas e vidas foram extintas por esse mal.

E não há motivo para alguém recear pedir ajuda. Se você quebrar a perna, vai deixar de consultar um ortopedista? Se estiver diabético, vai fugir do endocrinologista? Preconceitos em relação a psiquiatras e medicação controlada não levam a nada. Hoje temos muitos recursos e o tratamento é simples. Ninguém mais precisa passar pela dor que arrancou prematuramente de nós um dos mais ilustres brasileiros, um exemplo que, no país em que atualmente vivemos, tanta falta faz. Até sexta-feira!

A importância do que não temos

Publicado no Tribuna do Brasil de 20/10/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Li a notícia da morte de Sandra Arantes do Nascimento, vítima de câncer de mama. Muitos acompanharam a história dessa mulher, conhecida por enfrentar longa disputa judicial para que o Rei Pelé a reconhecesse como filha. Confirmada a paternidade, ela acrescentou, ao seu nome, o do pai.

Segundo a Folha Online, Sandra teria dito, na véspera de sua morte, que um de seus últimos desejos era ver o pai ou receber um telefonema dele. Sua mãe teria entrado em contato com Pelé, sem retorno. Ao velório, compareceram apenas flores que chegaram em nome de "todos os funcionários da empresa Pelé".

O que sei sobre o caso se resume ao que li em jornais e revistas. Não sei o que motivou Sandra a lutar para ser perfilhada. Assim como o que impediu Pelé de reconhecer a filha sem brigas. Mas sei que uma situação estressante como essa pode detonar alguém a ponto desse alguém desenvolver um câncer.

O mundo está cheio de filhos que se sentem incompletos, que vagam por aí tal qual almas penadas, arrastando correntes por pais que não os quiseram. Essas pessoas vivem obcecadas, lutando por um reconhecimento, mesmo informal. Algumas até conseguem o carinho desejado. Mas outras só encontram o mesmo desprezo ou um ainda pior.

Ser amado pelos pais é o que todos queremos. Mas se esse amor nos é negado, o que fazer? Transformar isso numa obsessão, arrastar correntes, desenvolver um câncer? Costumo dizer, em consultório, que a vida da gente deve ser construída como os prédios. Nenhum é erguido sobre uma única coluna. Todos têm vários pontos de sustentação. Assim, se uma pilastra for derrubada, o edifício até ficará abalado, mas não desabará, podendo ser recuperado.

Devemos viver sobre diversos pilares. A família original, a família que formamos, o trabalho, os estudos, um hobby, a religião, os amigos, um relacionamento amoroso, uma atividade voluntária e os filhos são exemplos disso. Dessa forma, se o casamento acabar, sofreremos, mas não entraremos naquela de "Meu mundo caiu e me fez ficar assim...". Se nossa mãe morrer, não nos sentiremos completamente perdidos. Se formos despedidos, encontraremos forças pra procurar um novo emprego. Teremos outras pilastras, que nos sustentarão.

Quando consideramos que nossa vida é formada por um grupo de coisas e pessoas relevantes, procuramos cuidar de todas. Umas podem até ter mais importância. Mas nenhuma será o centro de nossa existência, sem a qual tudo perderia o sentido, a ponto de nos desestruturarmos. E é essa noção de conjunto que nos faz enxergar não apenas o que não temos, mas também o que temos.

Pode ser que alguém que não tenha tido um pai biológico amoroso tenha sido criado por um tio, um irmão ou um padrasto que nada tenha deixado a desejar. Talvez tenha tido uma mãe maravilhosa. Talvez seja um profissional de sucesso, com uma vida confortável, filhos lindos, marido amoroso ou esposa nota dez, uma saúde de ferro ou grandes amigos. Só que tudo isso pode passar despercebido se esse alguém se fixar justamente naquilo que lhe faltou, que é importante, mas não é tudo.

A filha de Pelé não tinha o amor do pai. Mas tinha mãe, marido e filhos, estudava Direito, freqüentava a Assembléia de Deus e, como Vereadora de Santos, conseguiu aprovar um projeto que garante a realização de testes de DNA gratuitamente, para pacientes da rede pública. Ela tinha família e religião, fazia um curso superior e tinha um trabalho que lhe permitia levantar bandeiras importantes. Talvez tenha valorizado excessivamente o que não tinha. Vai fazer falta pra muita gente. Que Sandra encontre a paz! Até sexta-feira!

O que você faria se só lhe restasse este dia?

Publicado no Tribuna do Brasil de 13/10/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Recebi, na 2a. feira, uma mensagem com um resumo das principais profecias atribuídas a Jucelino Nóbrega da Luz. Para quem não o conhece, trata-se de um professor de 45 anos, nascido em Floriano, Município de Maringá, Paraná, que desde os nove anos de idade tem sonhos premonitórios.

As previsões incluem atentados, catástrofes naturais, e doenças que extinguirão cidades e milhões de pessoas. Até mesmo o resultado das próximas eleições para presidente foi por ele visto antecipadamente, assim como que "80% dos seres humanos, como nós os conhecemos, serão dizimados em 2043".

Não sei se essas antevisões são verdadeiras. Mas acredito que prever dessa forma é possível. A história da humanidade está cheia de relatos de pessoas com esse poder, que nada tem de sobrenatural. Mas acho que uma questão maior se apresenta.

Como Paulinho Moska e Billy Brandão, na música "O último dia", eu lhe pergunto: "O que você faria se só te restasse esse dia? Se o mundo fosse acabar, me diz, o que você faria? Ia manter sua agenda de almoço, hora, apatia? Ou esperar os seus amigos na sua sala vazia? Corria prum shopping center ou para uma academia? Pra se esquecer que não dá tempo pro tempo que já se perdia? Andava pelado na chuva? Corria no meio da rua? Entrava de roupa no mar? Trepava sem camisinha? Abria a porta do hospício? Trancava a da delegacia? Dinamitava o meu carro? Parava o tráfego e ria?"

Nas vezes em que indaguei isso em consultório, ouvi dos pacientes coisas do tipo: "Eu me reconciliaria com minha mãe", "Perdoaria meu marido". "Diria ao meu filho o quanto me arrependo do mal que fiz a ele", "Tiraria o dia pra fazer amor", "Pediria perdão a Deus pelos meus pecados", "Aproveitaria pra descansar", "Reuniria toda minha família pra esperarmos juntos o fim dos tempos". Casos diferentes, respostas diferentes. Mas, em todas elas, conseguimos identificar importantes determinações.

Se pensarmos que 99% dessas pessoas estavam em processo de sofrimento, o que as levou a procurar a ajuda de um psicólogo, podemos concluir que, com essas decisões, elas estariam buscando remissão, reconciliação, alívio, consolo, prazer. Estariam correndo atrás daquilo com que sonham, que não pode deixar de ser realizado.

Nesses momentos, costumo perguntar: Se reconciliar-se com sua mãe, desculpar seu marido, ou se apresentar, sem máscaras, ao seu filho é tão importante, o que o impede de fazê-lo já? Um filho que está brigado com a mãe e que com ela faria as pazes diante da possibilidade do mundo acabar, já a perdoou de fato, embora não o tenha admitido ainda. O mesmo acontece com uma mulher que aceitasse desculpar o marido. Ou com um pai que reconhecesse a necessidade de se mostrar a um filho como um ser humano, não perfeito.

Será que precisamos que o planeta esteja por um fio para tirarmos o dia pra fazer amor, implorar o perdão de Deus, reunirmo-nos com nossos familiares, ou simplesmente aproveitarmos pra descansar? O que nos faz adiar, até o derradeiro minuto, tudo aquilo que, no fundo, é o que mais desejamos?

O que mudaria com o fim do mundo? Sumiriam as pessoas? Desapareceria a necessidade de arcarmos com as conseqüências de nossas resoluções? Será que é das pessoas e do que elas vão pensar das nossas atitudes que temos medo? Tememos nos mostrar como somos realmente? Ou os desdobramentos do que ficar decidido?

Talvez não passemos de prisioneiros das coisas do mundo, das outras pessoas, das convenções que costumamos adotar sem questionamento. Talvez isso nos impeça de fazer hoje o que faríamos se o mundo estivesse prestes a acabar.

O que você faria se só lhe restasse este dia? Até sexta-feira!

Li na Folhaonline

Publicado no Tribuna do Brasil de 6/10/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Li na Folhaonline que "...os resultados gerais das eleições de domingo indicam que a mentalidade do "rouba, mas faz" ainda tem uma forte aceitação no eleitorado brasileiro. A avaliação foi feita por Silke Pfeiffer, diretora regional das Américas da Transparência Internacional, organização que se dedica ao combate à corrupção...".

Algumas vezes ouvi "rouba, mas faz". Nessas ocasiões, senti um misto de raiva, pena e desesperança, uma vontade louca de sacudir as criaturas pelos ombros, gritando: "Não! Não é por aí! Essas pessoas têm a obrigação de fazer sem roubar! Ninguém está autorizado, sob nenhuma hipótese, a ser desonesto!".

Quem pensa assim me faz lembrar do meu grupo de terapia para mulheres vítimas de relacionamentos amorosos abusivos. Muitas vezes, em consultório, ouvi coisas do tipo: "Ele briga, humilha, faz da minha vida um inferno, mas nunca me bateu"; "Ele passa o fim de semana bêbado, mas é um pai maravilhoso"; "Ele costuma me agredir quando se droga, mas nunca deixou faltar nada em casa"; "Ele me trai, mas está sempre pedindo perdão, dizendo que é louco por mim".

As autoras dessas frases são mulheres presas a parceiros problemáticos. Essas tentativas de minimizar a dor, como a da primeira declaração; de tapar o sol com uma peneira, como a da segunda; de compensar o que não pode ser compensado, como a da terceira; ou de acreditar contra todas as evidências, como a da quarta, são típicas. Todas estão passando por um processo depressivo tão violento que perderam a noção do que lhes está acontecendo. Sofrem terrivelmente, esgotadas, sem perspectiva, incapazes de se salvarem sozinhas.

O trabalho que desenvolvo com o grupo "Para sobreviver a um grande amor" não é fácil, mas é simples. Quase todas as pacientes são orientadas a procurar um psiquiatra, para tratar também quimicamente a depressão. Isso permite que o cérebro, já tão debilitado pelo estresse, seja recuperado. Paralelamente, com a psicoterapia, elas aprendem a, num primeiro momento, enxergar, como um todo, o processo em que estão envolvidas.

A visão do conjunto permite a análise da situação. Será que nunca ter sido agredida fisicamente torna brando o fogo do inferno em que se vive? Será que alguém que passa o fim-de-semana bêbado pode ser considerado um pai maravilhoso? Será que ser um bom provedor autoriza um homem a se drogar e agredir mulher e filhos? Será que pedidos de perdão e juras de amor diminuem a dor de quem foi traído?

Será que quem pensa "rouba, mas faz" não estaria precisando de um tratamento? Parece coisa de gente deprimida, sem auto-estima, sem perspectiva. Parece coisa de quem busca minimizar o ruim, como se isso o fizesse bom; tapar o sol com uma peneira, como se isso fosse possível; compensar aquilo que não pode ser compensado; acreditar contra todas as evidências. Parece coisa de quem não tem noção do que está acontecendo.

Quem aceita um representante que "rouba, mas faz" não está em situação muito diferente da de quem acha vantagem nunca ter apanhado do companheiro carrasco; de quem não tem idéia do que é um pai maravilhoso; de quem se arrisca e expõe os filhos à violência de um viciado; de quem se consola com pedidos de perdão e promessas de amor vazios.

Tudo isso resulta do desconhecimento do valor que temos. Muitas dessas mulheres foram "treinadas" pelas próprias famílias e pela sociedade para agüentar firme esse tipo de situação. Da mesma forma, nós brasileiros fomos "treinados" para suportar o abuso a que temos sido submetidos desde a chegada dos portugueses ao Brasil. Acho que vale a pena refletir sobre isso. Até a próxima sexta-feira !

Não foi fácil chegar aqui

Publicado no Tribuna do Brasil de 29/9/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


As duas últimas crônicas desta coluna falaram das eleições. Esta não é diferente. Afinal, faltam só dois dias. Domingo estaremos lá, não apenas cumprindo um dever. Antes de tudo, exercendo um direito. Também acho que direito que é direito não precisa ser obrigatório. Mas, vamos combinar: esse, mesmo assim estranho, foi arduamente conquistado.

Não foi fácil chegar onde estamos. Nosso país foi descoberto em 1500. Só em 1824 foi criada a primeira lei eleitoral do Brasil independente. E, apenas em 1881, as eleições para Câmara, Senado e Assembléias passaram a ser diretas. De 1937 a 1945, não houve eleições. De 1965 a 1989, estivemos impedidos de votar pra presidente. E, de 1966 a 1982, pra governador. Dureza, não?

Muitos lutaram corajosa e incansavelmente para que pudéssemos fazer o que faremos domingo: eleger os que tomarão decisões importantes para o Brasil. E não apenas por quatro anos. O reflexo desses próximos quatro alcançará outros tantos. As ações dos que vierem a ser eleitos poderão repercutir por longo tempo.

Então, em respeito aos que batalharam pelo direito a voto neste país e a nós mesmos, brasileiros e brasileiras, é que devemos pensar bem nas cinco procurações que passaremos no domingo. Existe uma forma certa de votar? Sim, a consciente. E, como voto consciente, não podem ser classificados os "em branco" e os "nulos".

Os votos em branco são os chamados votos da apatia. O que acontecerá com esses votos? Simplesmente não serão considerados. Os apáticos estarão deixando que os não apáticos elejam os que representarão todos. Quem vota em branco teve a chance de participar e a jogou no lixo. Se você pretende votar assim, aproveite para pensar que outras importantes oportunidades desperdiçou na vida. Talvez seja o caso de procurar ajuda profissional. Apatia pode significar doenças como depressão e verminose.

Os votos nulos são os chamados votos de protesto. Há quem acredite que, assim, as eleições poderão ser anuladas. Mas, na verdade, diferentemente do que andaram divulgando, uma eleição só será invalidada se tiver mais de 50% dos votos anulados pela Justiça Eleitoral. Isso só acontece em caso de ilícito. Os votos anulados por vontade ou erro do eleitor simplesmente não serão considerados. Em outras palavras, você não estará fazendo protesto algum. E se, mesmo conhecedor da legislação, insistir em "protestar", sugiro que procure um psicoterapeuta. Isso não é nada saudável.

Entendo que o triste cenário político pode nos deixar sem energia ou revoltados. Mas será que não há pelo menos 1 candidato, por categoria, que não valha a pena? São 8 a presidente, 6 a governador, 9 a senador, 109 a deputado federal e 661 a distrital. Dá pra tirar unzinho de cada grupo. FORÇA GENTE! CORAGEM!

Agora, se você é do tipo que acha que não há ninguém que se apresente; que votando estará apenas ajudando a eleger os "menos ruins"; e que a legislação eleitoral precisa ser mudada, MEXA-SE! Você é um cidadão ou um rato?

Tem um amigo ou parente que daria um bom político? Proponha que ele se candidate e o apóie. E quanto a você? Seria um bom representante? Então, procure um partido e a ele se integre. Não gosta dos que aí estão? Veja o que é preciso para fundar um. Isso parece muito mais lógico do que viver reclamando, votando em branco ou nulo, apático ou fazendo protestos sem sentido.

Há um trecho do Livro dos Espíritos, escrito por Allan Kardec, onde está dito que, no mundo, freqüentemente, o mau "vence" por fraqueza dos bons. Que os maus são intrigantes e audaciosos. Que os bons são tímidos. E que, quando os bons quiserem, preponderarão. Até a próxima sexta-feira!

Não voto em mesmeiro

Publicado no Tribuna do Brasil de 16/9/2006

Caderno TBmulher, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Logo elegeremos os que nos representarão, pelos próximos anos, no Planalto, no Buriti, no Senado, na Câmara dos Deputados e Legislativa. São 8 candidatos a Presidente, 6 a Governador, 9 a Senador, 109 a Deputado Federal e 661 a Distrital. Para quem leva isso a sério, escolher não é fácil. Há os que já se decidiram. Mas muitos ainda não sabem em quem votar. É tanta gente querendo, tanta gente prometendo...

Para nos socorrer, temos o Programa Eleitoral Gratuito. Sim, ele mesmo, aquele que seria cômico se não fosse trágico. Ele pode nos auxiliar muitíssimo, ajudando a eliminar centenas de candidatos a partir da seguinte premissa: NÃO VOTO EM MESMEIRO. Nessa categoria, estão incluídos os que ninguém sabe de onde saíram, que vão pra televisão e pro rádio só pra dizer que precisamos acabar com a corrupção, melhorar a segurança pública, a saúde, a educação e os sistemas de habitação e transporte. O mesmo blá blá blá de sempre.

A todo vapor, como manda a tradição e permite a legislação eleitoral, eles invadem nossas casas. Alto e bom som, disparam as mesmas promessas. Tentando agradar a gregos e troianos, dizem o óbvio ululante. Garantem que vão arregaçar as mangas, se eleitos. Pedem nosso voto, carta branca para nos representar. E, tentando nos convencer de que suas intenções são as melhores possíveis, aparecem do nada com uma conversa sem conteúdo, chovendo no que já está molhado. O leque de opções ruins é tão grande que desanima. É tanto nhenhenhém que dá até vontade de votar em branco. Mas nem pense em bater em retirada. Precisamos de calma, fé e uma estratégia.

Antes de mais nada, SEM PÂNICO!. Uns 70% desses candidatos deixam a desejar. Em sã consciência, ninguém neles votaria. Estão no páreo, é certo. E fazem das tripas coração para serem eleitos, num jogo de vida ou morte, todos desejosos de um lugar ao sol. Ninguém quer perder o bonde da história ou passar em brancas nuvens. Mas, em verdade, nunca fizeram por merecer nosso voto. Assim, pode ajudar se você começar por separar o joio do trigo.

Aqueles que querem ser eleitos à custa de falatório político; que não têm, de fato, nenhuma proposta, devem ser defenestrados. Eles saltam do Programa a olhos vistos. A esses devemos dizer NÃO, mesmo que ameacem atear fogo às próprias vestes. E que o resultado das votações caia como uma bomba sobre os que pensam que eleição pode ser ganha com ladainhas, que acreditam que vamos dar o nosso voto assim, de mão beijada.

Não devemos deixar que os maus políticos e aqueles pobres diabos que são por eles usados, empanem o brilho de um processo tão bonito, de importância vital para todos nós. Nem tudo está perdido. Há uma luz no fim desse túnel. Vamos lavar a nossa alma no dia da votação, dizer a esse pessoal pra tirar o cavalo da chuva. Vamos colocar um ponto final nessa comédia de erros, dar um tiro de misericórdia nas candidaturas angustiantes.

Chumbo grosso neles! É chegada a hora da verdade! Vamos fazer esse pessoal bater em retirada. Eles precisam aprender que estamos em ponto de bala, mais exigentes a cada dia que passa. Não vamos fugir da raia, nem entregar o ouro facilmente. Assim, quem sabe, poderemos, nas próximas eleições, respirar aliviados ao ver em campanha apenas quem tem algo interessante a propor.

Quem acompanha esta coluna, deve estar estranhando o texto cheio de clichês. Mas escrevi assim de propósito. E todos estão em negrito. Não é um horror falar ou escrever assim? O que podemos esperar de um candidato que se comporta dessa maneira, banalizando o processo eleitoral? NÃO VOTO EM MESMEIRO.

E, para sábado, EU PROMETO o restante da estratégia. MEU NOME É MARACI !!!

Pessoas escolhendo pessoas

Publicado no Tribuna do Brasil de 22/9/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


No sábado passado, conversamos sobre a primeira parte de uma estratégia para escolha dos nossos candidatos. E prometi que hoje continuaríamos o assunto. Como costumo cumprir minhas promessas, aí vai.

Descartados aqueles 70% mesmeiros, restam 30% que merecem nossa atenção. Logo de cara, rejeitemos quem andou envolvido em baixaria, como compra de voto, ou outros episódios suspeitos, e não conseguiu se explicar convincentemente. Na dúvida, não vote nesses.

Imagino que agora temos, aproximadamente, 25% dos candidatos para analisar. Uns são marinheiros de primeira viagem. Outros estão tentando ser novamente eleitos. Comecemos por esses últimos.

Será que entre eles estão aqueles que mereceram sua confiança nas últimas eleições? Que tal pesquisar o que andaram fazendo? Procure conhecer suas proposições e realizações. Será que cumpriram o prometido na última campanha? Realmente trabalharam? O que nos diz a prestação de contas deles relativa a esta campanha, a que está em curso? Quem nada fez de útil não mais merece seu voto.

Se não lembrar em quem votou, pesquise todos os veteranos. Aí, volte àquelas perguntinhas básicas: cumpriram o prometido na última campanha? Realmente trabalharam? E a prestação de contas? Quem nada fez de útil não mais merece ser votado.

Ainda não se definiu? Mantenha a calma! Passe para os novos candidatos. Descarte aqueles que não têm proposta. E também os que prometem coisas absurdas. Observe se eles têm proposições condizentes com as atribuições e poderes do cargo a que estão se candidatando. Presidente e Governador executam. Senadores e Deputados legislam e fiscalizam o Executivo.

A essa altura da análise, acho que restarão uns 15%. E aí vejamos: esses novos, quem são? De onde surgiram essas pessoas? O que já fizeram pela comunidade onde vivem? Que atividades desenvolvem? Que experiência profissional ou de vida têm? O que sabem sobre o trabalho que deverão realizar? O que os candidatos a Governador, Senador e Deputado sabem sobre o Distrito Federal e as nossas necessidades? Será que eles estão conscientes de que são candidatos pelo DF e não apenas por Brasília? Alguns parecem não saber disso. Só se referem a Brasília em seus discursos.

Não dá para imaginar alguém que nunca fez nada além de viver sua própria vida e cuidar unicamente de seus interesses, de repente, assim, do nada, virar representante do povo. Será que você tem mesmo boas razões para dar a essas pessoas o seu voto? Se não, deixe-as também de lado.

Dos 5% que restaram, vamos analisar as propostas. Devemos escolher 1 candidato a Presidente, 1 a Governador, 1 a Senador, 1 a Deputado Federal e 1 a Distrital. Nesse momento, você até poderá ficar em dúvida entre alguns. Embora possa não parecer, em princípio, temos ótimos candidatos. Assim, recomendo que opte por aqueles que combinam mais com você, que tocaram seu coração. Parece estranho usar o coração para essa escolha, não é? Mas lembre-se: não somos apenas eleitores e candidatos. Somos pessoas escolhendo pessoas.

E se nada disso resolver, você poderá votar na legenda, pelo menos para Deputado Federal e Distrital. Não tem preferência por um partido? Visite a página eletrônica de cada um. Procure conhecer as idéias e propostas.

Essas escolhas não são fáceis. E às vezes dão um trabalhão! Mas são importantes. Então, capriche. Nada de anular, votar em branco ou em protesto. E cuidado para não se deixar influenciar pelas pesquisas. Faça a sua parte. Boa sorte e até o próximo sábado!

Informações importantes podem ser obtidas nos sítios eletrônicos www.tre-df.gov.br, www.senado.gov.br, www.camara.gov.br e www.cl.df.gov.br.

O projeto "Deixar de Ser Ansiosa"

Publicado no Tribuna do Brasil de 9/9/2006

Caderno TBmulher, Coluna Psicoproseando...com Maraci


No último final de semana, passei horas conversando ao telefone com uma amiga muito, muito querida. Ela contou o quanto está cansada, precisando de férias, embora tenha voltado delas há menos de dois meses. Anda preocupadíssima com o que tem de organizar para que a unidade onde agora trabalha funcione às mil maravilhas. Rotulando-se de ansiosa, acrescentou que, normalmente, lida dessa forma com quase tudo em sua vida. No caso específico, não consegue se desligar das atividades profissionais. Fica ligada o dia todo e até sonha que está trabalhando.

Declarou que não gosta de ser assim. Mas nada que fez para mudar deu um resultado realmente significativo, aí incluídos diferentes tipos de terapia. Como uma maldição, quanto mais ela tenta se livrar da ansiedade, mais a ansiedade se agarra a ela. E, conforme seguia contando sua desventura, a angústia aumentava e ela falava cada vez mais rápido. Uma verdadeira agonia. Credo!

Pra mim, está muito claro. No momento em que ela concentra energias no projeto "deixar de ser ansiosa", traz a ansiedade, essa mesma que quer deixar, para o centro da própria vida. Dá ao problema um lugar de destaque. As forças que antes canalizava para outros assuntos são desviadas para combatê-lo, fortalecendo-o, inacreditavelmente. E quando eu disse que, desse jeito, a coisa só iria piorar, ela quase teve um ataque!

Nós, seres humanos, temos esta tendência: a de focar o que não queremos. Canso de ouvir, no consultório, o que os pacientes não querem. E quando me atrevo a perguntar o que eles querem, muitos se assustam, sem saber o que dizer. Como pôr um fim numa situação assim, como essa da ansiedade? Passo então a vocês, leitores amigos, uma receita simples, a mesma que passei à minha amiga, que pode ser aproveitada por qualquer pessoa em situação semelhante.

Em primeiro lugar, pense no que você QUER GANHAR, não no que QUER PERDER. Em lugar de se concentrar em perder a ansiedade, concentre-se em ganhar capacidade de relaxamento.

Em segundo lugar, tenha em mente que muitas dessas condições, como a ansiedade, são resultado de um treinamento rigoroso normalmente iniciado na infância. Assim, a capacidade de relaxar também dependerá de um esforço nesse sentido. Mas nada impossível.

Em terceiro lugar, procure identificar o que relaxa você. Ouvir música? Assistir a um filme? Ler um livro? Passear pelo shopping? Bater papo com os amigos? Brincar com seus filhos? Um romântico programa a dois? Um banho de banheira com sais? Caminhar ao sol? Um hobby? Liste o que vier à sua cabeça, sem censurar nada, sem se preocupar se há tempo ou disposição para essas atividades.

Então, é só começar. Vá colocando essas coisas em prática, sem medo de ser feliz. Quanto mais praticar, melhor. Não espere a ansiedade se avizinhar pra recorrer à lista. Ocupe-se de atividades relaxantes, o mais que puder. E quando aquela agonia se aproximar, nem tente se livrar dela. Afinal, isso faz parte de você. Pense nela com carinho, respire fundo e simplesmente RE-LA-XE.

Tudo isso você poderá fazer só. E assim obter ótimos resultados. Também poderá lançar mão de outros recursos, como aulas de yoga. Mas se, de qualquer forma, o bicho continuar pegando, procure ajuda profissional. Muitas vezes precisamos entender o curso da nossa dificuldade para nele atuarmos. Quem leu a coluna de sábado passado já sabe que, se queremos um resultado diferente, temos de realizar mudanças no processo.

Um bom psicoterapeuta certamente o ajudará a identificar os gatilhos da sua ansiedade. E, se for necessário, medicamentos específicos deverão ser usados. Fé no Poder Superior é imprescindível, com foco na saúde, sempre. Até o próximo sábado!