Publicado no Tribuna do Brasil de 5/8/2006
Caderno TBmulher, Coluna Psicoproseando...com Maraci
Recentemente, como de costume, estava eu em uma conhecida Casa Espírita de nossa cidade para assistir a duas palestras: uma sobre a verdadeira fé e outra sobre o respeito à vida. E, durante uma hora, só ouvimos, além dos palestrantes, a vozinha de um menino de, mais ou menos, 1 ano de idade, que lá estava acompanhado dos pais e irmão. Apenas "dadás" e "vovôs", serviam de música de fundo para aquelas mensagens maravilhosas.
Terminado o evento, o ambiente ainda sob o impacto daquelas palavras, uma senhora procurou o pai do garotinho. De onde eu estava, não dava para ouvir bem, mas dava pra perceber que ela não lhe dirigia boas palavras. Ao final, ela voltou ao seu lugar na platéia, com uma cara “daquelas”, deixando o coitado desconcertado. De tudo, só entendi ela dizer "está escrito ali!", apontando para o palco, onde há a seguinte inscrição: "Esta é uma casa de oração. Silêncio".
Veio-me a desagradável sensação de que ela havia reclamado do menininho. Fiquei mal, mas consegui recuperar-me a tempo de procurar o casal, apresentando-me como psicóloga da Casa. O rapaz explicou, então, que a tal senhora havia dito "que se ele não conseguia manter o filho de boca fechada, era melhor não ir às reuniões". Perguntei se ele havia levado aquilo em consideração, ao que ele respondeu "Claro que sim!". Felizmente consegui reverter o mal que se fizera, explicando que aquela pessoa não falava em nome da Casa, que sempre acolhe com todo carinho àqueles que lá comparecem, especialmente as crianças. E que ele deveria considerar que muitos dos que lá encontramos estão ali exatamente procurando ajuda, em total desequilíbrio espiritual e/ou psicológico.
Mas aquele acontecimento ficou para mim como uma confirmação de que precisamos tomar cuidado com o que ouvimos. Quantas vezes, sem a menor crítica, adotamos como verdade o que nos falam, mesmo pessoas estranhas? Se aquele rapaz tivesse refletido, por poucos segundos, não teria nem considerado as observações da tal senhora, de quem ele sequer sabia o nome, mesmo porque aquelas palavras e a forma como elas foram ditas em nada combinavam com a instituição ou com as mensagens transmitidas naquela noite.
Essa situação foi facilmente contornada. Na realidade, não tive trabalho algum porque tudo naquele lugar conspira para um final feliz. Difícil é quando encontramos criaturas que trazem como verdades eternas as loucuras que lhes foram ditas por pais, avós, tios, professores, ou alguém em posição de autoridade. Como dói ouvir de uma mãe ou de um pai um “você não presta!”, ou ouvir de um professor um “você é burro!”. Essas pessoas têm um poder tão grande, mas muitas, muitas mesmo, não o sabem usar. E o resultado pode ser um homem de 40 anos que ainda não conseguiu escolher a profissão porque não se acredita capaz sequer de optar, ou uma mulher que vive um casamento torturante porque não crê que possa viver sozinha ou encontrar outro companheiro.
Não estou pregando que pais, irmãos, professores ou assemelhados não devem ser ouvidos. Mas precisamos entender que essas pessoas, como nós, são seres humanos, portanto não perfeitas, passíveis de erro. E se, quando crianças, dificilmente os enxergamos assim, podemos e devemos observá-los e avaliá-los quando adultos, para aproveitarmos o que eles têm de bom a nos oferecer, desprezando, em parte ou totalmente, aquelas “pérolas” que, muitas vezes, são resultado da ignorância ou do desequilíbrio.
E se não conseguirmos isso sozinhos, vale pedirmos ajuda profissional, lembrando sempre que as pessoas têm apenas o poder que nós concedemos a elas.
Até o próximo sábado!
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