Publicado no Tribuna do Brasil de 15/12/2006
Caderno TB Programa, Coluna Psicoproseando...com Maraci
Além dos leitores que enviam suas dúvidas e pedidos de conselho, também os meus amigos são pródigos em sugerir temas para esta coluna. Assim, recebi da muito querida Hilta, uma grande amiga, super bem casada com o também meu amigo Rezende, um artigo que diz que sexo é bom, mas, no casamento, nem sempre. Só mesmo eles, que formam um casal invejavelmente feliz, poderiam ter a lembrança de me repassar um texto assim.
Ele fala de pesquisas realizadas por profissionais e algumas publicações sobre o tema, que incluem depoimentos. A falta de tempo por excesso de trabalho, as pressões resultantes do compromisso de fidelidade, a obrigatoriedade de estarem sempre juntos e a rotina estão entre as justificativas dos entrevistados para a pobreza no sexo.
Todos querem prazer, charme e animação, como nos filmes e novelas. Muitos sonham com isso, acreditando que basta que estejamos com alguém de quem gostamos, toda noite, na mesma cama, para que tudo dê certo. Mas esbarram em problemas como os apontados pelos entrevistados. Não sabem que uma união estável não é garantia de boa vida sexual.
Sem querer parecer piegas, mas, para muitos, já sendo, os testemunhos lidos me fizeram pensar não em vida sexual ruim, apenas. Eles me fizeram pensar em falta de vida amorosa. Muitos casais vivem juntos e até fazem sexo, mas não têm uma vida amorosa. Nos depoimentos, senti que é isso o que falta, o amor praticado quotidianamente.
Não estou dizendo que não é possível sexo sem amor. Muitos desses encontros são bons e divertidos. Mas não consigo imaginar um casal mantendo uma vida sexual feliz, dia após dia, ano após ano, sem uma vida amorosa feliz. Se os dois estão física e emocionalmente saudáveis e há amor, a sintonia se encarrega de, na hora certa, derrubar cansaço, frustrações e as barreiras das pressões e da rotina. O sexo flui sem necessidade de grandes preliminares ou malabarismos. E é maravilhoso.
Quando há amor, o olhar nos olhos, o cheiro do outro, simples beijos e abraços ou um sorriso cúmplice são suficientes para despertar o desejo. Não é preciso ficar inventando coisas do outro mundo, uma após a outra, para manter alto o nível do interesse sexual pelo e do parceiro. É claro que a novidade é um dos temperos da vida. Mas, quando a vida amorosa está bem, até mesmo o de sempre, o básico, torna-se especial.
O amor é o melhor combustível para o sexo. É ele que proporciona o enxergar, o ouvir, o sentir o outro, a entrega. E isso não acontece só na cama. Quando estamos amando, podemos, a qualquer momento do dia, pensar no ser amado e sentir o coração aquecido. Podemos, a qualquer momento do dia, dirigir ao outro sublimes sentimentos. Podemos dar uma ligadinha, no meio da tarde, só pra dizer a ele: "Mal posso esperar a noite chegar". E aí, no momento em que o encontramos, já estamos prontos.
Então, para quem quer uma vida sexual realmente feliz, vai aqui uma receita: construa uma vida amorosa. Procure se ligar a alguém que também se ligue amorosamente a você. Aproxime-se desse alguém e permaneça amorosamente próximo, como se a ele estivesse abraçado em espírito. Quando nele pensar, que seja amorosamente. Quando para ele olhar, que seja amorosamente. Quando lhe dirigir palavras, que elas sejam sempre amorosas, mesmo quando precisarem ser duras. Tudo pode e deve ser feito com amor, respeitadas as individualidades, sem obsessões ou apegos egoístas.
E para quem pensa não saber o que é o amor, transcrevo as palavras do psiquiatra americano William Menninger: "O amor é um sentimento que a gente sente quando sente que vai sentir um sentimento que jamais sentiu." Até sexta-feira!
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