Publicado no Tribuna do Brasil de 17/11/2006
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci
Esse negócio de internet é incrível. Recebo as mensagens mais extravagantes por e-mail. Noutro dia, minha querida amiga Dalva Helena me enviou um texto atribuído ao Millôr Fernandes que fala sobre o poder redentor dos palavrões. Simplesmente genial.
Segundo ele, dizer o palavrão certo na hora certa pode lavar a alma da gente, manter em nível baixo o estresse e aumentar a auto-estima, muitas vezes revelando aquilo que não conseguimos exprimir com palavras politicamente corretas, as que estão nas gramáticas, nos dicionários. Há momentos em que um palavrão cai como uma luva, expressando altas doses de admiração, tristeza, espanto, raiva, alegria, preocupação.
Não é à toa que as crianças e muitos adultos, quando começam a aprender um idioma estrangeiro, procuram logo conhecer os palavrões. Na falta de um vocabulário razoável, eles podem ajudar muito, deixando bem claras nossas intenções.
Millôr diz que o direito a um bom palavrão deveria estar assegurado na Constituição Federal. Que eles "...não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia...".
Claro que, na maioria das vezes, não podemos resolver as coisas de forma tão direta. Mas nada de engolir sapos ou em seco; ficar fervendo por dentro, que nem chaleira; ou pra explodir, tal qual panela de pressão. Devemos encontrar alternativas para aquele palavrão que está na ponta da língua, doidinho pra sair e se atracar no pescoço de alguém, ou se perder, desconsoladamente vagando por este universo sem fim.
Talvez uma opção seja: num daqueles dias em que seu chefe torrou sua paciência, em lugar de mandá-lo "praquele lugar" ou se desesperar pensando "que m", ou "agora fu", simplesmente ir para casa mais cedo, desligar os telefones, entrar de cabeça num banho relaxante, colocar um calção ou uma camisola velha, abrir uma garrafa de vinho, jogar o corpo na cama e ligar a TV ou o som, só pra ficar ali, largado.
Uma outra seria: no meio daquela discussão chatérrima, a número 1.000 de outras que não levaram a lugar algum, dar as costas àquele marido porre ou àquela mulher mala, sem dizer absolutamente nada, desligar o celular e ir ao cinema assistir a um filme do gênero "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" ou "Shrek". Nada de Almodóvar ou iraniano nessas horas, por favor.
E o que me diz de ficar invisível para aqueles que parecem querer, a todo custo, arrancar-lhe um palavrão? Vá para a casa de um amigo muito querido e passe horas ou um fim de semana refugiado. Ou se esconda num hotel ou noutra cidade, de onde poderá avaliar quantos palavrões está economizando e quantos palavrões os chatos estarão engolindo, enlouquecidos tentando imaginar onde você se enfiou.
E que tal uma pegadinha light, daquelas de deixar o outro abobalhado sem conseguir imaginar quem poderia ter sido o engraçadinho? Nada ofensivo ou perigoso. Apenas uma brincadeira levemente malvada. Assim, você vai poder rir pra dentro, se estiver presente, e escancarado quando estiver sozinho. E lembre-se de se mostrar solidário com a vítima, negando até à morte a autoria.
O que importa é extravasar a raiva, não permitindo que ela consuma você. Como diz a Dalvinha, a vida às vezes "é de f". Mas, aos poucos, as coisas vão se ajustando. E, se não as tornarmos muito pesadas, elas se encaixarão quando menos esperarmos. Até sexta-feira!
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