31 de dezembro de 2006

Existe "estar" bem resolvido?

Publicado no Tribuna do Brasil de 8/7/2006

Caderno TBmulher, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Deu certo! Nossa coluna foi muito bem recebida e aproveito para agradecer as palavras de carinho. Tenho certeza de que não faltarão contribuições sobre temas a serem aqui abordados. Mas a mensagem de uma amiga jornalista chamou minha atenção. Entre palavras de congratulações, ela disse: "Como, ainda bem, estou super bem resolvida, não tenho questão a levantar (o que já pode ser uma pauta, esse negócio de se acreditar bem resolvida)". Claro que ela estava fazendo graça. Entretanto, isso ficou na minha cabeça. Cabeça de psicólogo é assim mesmo, sempre escarafunchando, até mesmo piadas.

E tentei imaginar o que seria "estar bem resolvida". Existe "estar" bem resolvido? Ou o fato de "estar", em lugar de "ser" bem resolvidos já não é uma indicação de temporariedade, de fragilidade na resolução? E o que seria "ser bem resolvido"? Seria "ter aquela velha opinião formada sobre tudo" ou "ser uma metamorfose ambulante", como dizia Raul Seixas? Talvez "ser bem resolvido" tenha a ver com ter um rumo na vida, um norte, só isso, tudo isso.

Ainda hoje, conversava com outra amiga sobre um amigo nosso. E ela dizia que o relacionamento entre eles está cada vez mais difícil, embora sejam grandes companheiros. A queixa concentrava-se na instabilidade emocional dele que, em um dia está de um jeito e, noutro dia, irreconhecível. Ela sabe que ele vem atravessando problemas em vários campos da vida. Mas as mudanças drásticas de humor, de postura, de valores dele a estavam deixando aturdida.

Pareceu-me que ele havia deixado de agir e limitava-se a reagir, na vida. Conforme os problemas surgiam, o que os outros diziam ou faziam, ele se posicionava na defesa ou no ataque. Mas, de qualquer forma, sempre apanhava, mesmo quando se defendia, mesmo quando atacava. Estava perdido, cansado, sem energia física ou mental, desesperançado, pensando em saídas fantásticas, drásticas, para as dificuldades, como sair da cidade onde havia vivido quase sempre e mudar para outra muito, muito longe, onde não conhecia ninguém, totalmente sozinho.

Às vezes penso que somos, na vida, como barcos no mar. Há momentos em que cortamos as águas, seguindo seguros numa determinada direção, e isso é bom, mesmo que, lá na frente, resolvamos mudar de rumo. Há momentos em que estamos ancorados, e isso também é bom, é quando aproveitamos para avaliar as condições, fazer reparos, reabastecer para prosseguir. E há momentos em que parecemos estar à deriva, perdidos. Somos jogados de um lado para outro pelas tempestades, pelos ventos fortes dos acontecimentos. E não conseguimos vislumbrar um porto, um farol, uma indicação do que podemos, do que devemos fazer. Parece que fomos esquecidos. Reagimos, em lugar de agirmos. Deixamos o leme solto ou nas mãos dos outros, incapazes de perceber que somos os únicos realmente habilitados a governar nossas vidas.

Claro que o que os outros fazem, dizem, pensam, nos atinge, de uma forma ou de outra. E não raro conhecemos pessoas que literalmente mudam o nosso rumo, ajudando-nos a ampliar nossos horizontes. Mas essas mudanças precisam ser raciocinadas. Precisamos "ser bem resolvidos" para aproveitar tudo o que de bom a vida, as pessoas têm a nos oferecer. Precisamos "ser bem resolvidos" para darmos passagem àquilo e àqueles que nada têm a ver conosco, mesmo que já tenham sido muito, muitíssimo importantes. Precisamos, literalmente, assumir o leme do nosso destino.

Nesses momentos, devemos ancorar, para pensar na vida e recarregar as energias. E se não o conseguimos sozinhos, vale pedir ajuda a uma força superior, aos amigos, a um profissional, lembrando sempre que "Nunca estamos sós. Há sempre alguém a zelar por nós".


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