31 de dezembro de 2006

O projeto "Deixar de Ser Ansiosa"

Publicado no Tribuna do Brasil de 9/9/2006

Caderno TBmulher, Coluna Psicoproseando...com Maraci


No último final de semana, passei horas conversando ao telefone com uma amiga muito, muito querida. Ela contou o quanto está cansada, precisando de férias, embora tenha voltado delas há menos de dois meses. Anda preocupadíssima com o que tem de organizar para que a unidade onde agora trabalha funcione às mil maravilhas. Rotulando-se de ansiosa, acrescentou que, normalmente, lida dessa forma com quase tudo em sua vida. No caso específico, não consegue se desligar das atividades profissionais. Fica ligada o dia todo e até sonha que está trabalhando.

Declarou que não gosta de ser assim. Mas nada que fez para mudar deu um resultado realmente significativo, aí incluídos diferentes tipos de terapia. Como uma maldição, quanto mais ela tenta se livrar da ansiedade, mais a ansiedade se agarra a ela. E, conforme seguia contando sua desventura, a angústia aumentava e ela falava cada vez mais rápido. Uma verdadeira agonia. Credo!

Pra mim, está muito claro. No momento em que ela concentra energias no projeto "deixar de ser ansiosa", traz a ansiedade, essa mesma que quer deixar, para o centro da própria vida. Dá ao problema um lugar de destaque. As forças que antes canalizava para outros assuntos são desviadas para combatê-lo, fortalecendo-o, inacreditavelmente. E quando eu disse que, desse jeito, a coisa só iria piorar, ela quase teve um ataque!

Nós, seres humanos, temos esta tendência: a de focar o que não queremos. Canso de ouvir, no consultório, o que os pacientes não querem. E quando me atrevo a perguntar o que eles querem, muitos se assustam, sem saber o que dizer. Como pôr um fim numa situação assim, como essa da ansiedade? Passo então a vocês, leitores amigos, uma receita simples, a mesma que passei à minha amiga, que pode ser aproveitada por qualquer pessoa em situação semelhante.

Em primeiro lugar, pense no que você QUER GANHAR, não no que QUER PERDER. Em lugar de se concentrar em perder a ansiedade, concentre-se em ganhar capacidade de relaxamento.

Em segundo lugar, tenha em mente que muitas dessas condições, como a ansiedade, são resultado de um treinamento rigoroso normalmente iniciado na infância. Assim, a capacidade de relaxar também dependerá de um esforço nesse sentido. Mas nada impossível.

Em terceiro lugar, procure identificar o que relaxa você. Ouvir música? Assistir a um filme? Ler um livro? Passear pelo shopping? Bater papo com os amigos? Brincar com seus filhos? Um romântico programa a dois? Um banho de banheira com sais? Caminhar ao sol? Um hobby? Liste o que vier à sua cabeça, sem censurar nada, sem se preocupar se há tempo ou disposição para essas atividades.

Então, é só começar. Vá colocando essas coisas em prática, sem medo de ser feliz. Quanto mais praticar, melhor. Não espere a ansiedade se avizinhar pra recorrer à lista. Ocupe-se de atividades relaxantes, o mais que puder. E quando aquela agonia se aproximar, nem tente se livrar dela. Afinal, isso faz parte de você. Pense nela com carinho, respire fundo e simplesmente RE-LA-XE.

Tudo isso você poderá fazer só. E assim obter ótimos resultados. Também poderá lançar mão de outros recursos, como aulas de yoga. Mas se, de qualquer forma, o bicho continuar pegando, procure ajuda profissional. Muitas vezes precisamos entender o curso da nossa dificuldade para nele atuarmos. Quem leu a coluna de sábado passado já sabe que, se queremos um resultado diferente, temos de realizar mudanças no processo.

Um bom psicoterapeuta certamente o ajudará a identificar os gatilhos da sua ansiedade. E, se for necessário, medicamentos específicos deverão ser usados. Fé no Poder Superior é imprescindível, com foco na saúde, sempre. Até o próximo sábado!

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