31 de dezembro de 2006

Vitoriosa

Publicado no Tribuna do Brasil de 8/12/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseand...com Maraci


Final de mais um semestre letivo. Estudantes se preparam para a formatura. Entre eles, a gauchinha Fernanda Barreto, que me honrou ao me mostrar seu projeto de conclusão de curso, elaborado para o Instituto de Cultura do Toque - Tocar, OSCIP de Brasília que trabalha com a difusão de terapias manuais.

Gostei de tudo o que li. Mas a conclusão do trabalho renovou em mim antigas esperanças. Nela, havia o seguinte: "Em nossas trocas cotidianas, percebemos que a geração da qual fazemos parte afigura-se, cada vez mais, na posição de vítima. Parecemos anestesiados, acuados, num beco sem saída. Contudo, essa impotência e silêncio soam, aos nossos ouvidos, como uma forma de conivência."

Por isso, quero falar de conscientização, de enxergarmos nossas limitações, mas também o poder que nos permitirá superá-las e mudar a realidade que não mais nos satisfaça. Porque de nada adianta termos consciência da realidade, se dela mantivermos distância, nela não atuarmos. A conscientização ultrapassa o nível da tomada de consciência, ela é transformadora.

Recentemente, assisti a uma entrevista em que o jornalista Washington Novaes disse que preservar o meio ambiente é uma questão que envolve a sobrevivência da Humanidade. Mas nem por isso nos mobilizamos como deveríamos. É verdade. Parece que não fazemos parte da Humanidade e que, se ela for extinta, ainda restaremos nós. Somente alguns poucos fazem algo efetivo. Os demais seguimos coniventes. Falta conscientização.

Fernandinha começou o trabalho no Tocar praticando e ensinando técnicas de massagem em crianças e idosos que freqüentam ou moram em instituições de comunidades carentes do DF. Logo ela percebeu que a entidade necessitava melhorar sua comunicação interna e trabalhou nisso também. Mas não parou por aí e, em parceria com outra formanda, criou um conjunto de propostas para aumentar a visibilidade do instituto perante a sociedade. Esse projeto se transformou no de conclusão do curso de jornalismo.

Estando mais visível, o Tocar atrairá mais colaboradores. Mas isso não ajudará só a instituição. Dará a outras pessoas a chance de sair da posição de vítimas coniventes. É disso que precisamos, de gente com visão crítica e vontade.

O mundo está cheio de reféns, prisioneiros das dificuldades emocionais, sociais, culturais que nos cercam e limitarão, se assim o permitirmos. Mas somos todos livres. Não precisamos passar pela vida fugindo do que nos aborrece ou entristece. Sempre temos alternativa.

Essa jovem mulher, pouco mais que uma menina e já uma grande jornalista, está aí fazendo o que todos fazemos. Estudando, trabalhando, namorando, curtindo festas e os amigos, leva uma vida muito parecida com a de outros jovens. Mas também está olhando em volta e além. Também está fazendo o que acredita que pode e deve, sem se limitar a reclamar ou maldizer.

A Fê me faz lembrar uma canção chamada Vitoriosa, não apenas por ter recebido, da banca que examinou seu projeto de formatura, conceito SS e nota 10. Mas porque muita gente a admira e torce por ela. Assim, parafraseando Ivan Lins, podemos lhe desejar felicidades e sucesso sempre, dizendo: "Queremos sua risada mais gostosa, esse seu jeito de achar que a vida pode ser maravilhosa; queremos sua alegria escandalosa, vitoriosa por não ter vergonha de aprender como se goza; queremos toda a sua pouca castidade; queremos toda a sua louca liberdade; queremos toda essa vontade de passar dos seus limites e ir além, e ir além; queremos sua risada mais gostosa, esse seu jeito de achar que a vida pode ser maravilhosa, que a vida pode ser maravilhosa." Até sexta-feira!

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