18 de maio de 2009

Amor, Imbatível Amor

Série "O dinheiro e os relacionamentos" - Parte 13


Publicado em 18/4/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro


Quem acompanha esta coluna deve lembrar da terceira parte da série O dinheiro e os relacionamentos, publicada em vinte de setembro do ano passado, que recebeu o título Sobre pais, filhos e heranças. Esse texto foi objeto de muitos comentários, inclusive o de Lúcia, que postou o seguinte:“É Maraci, não está fácil a vida. Dia desses ouvi uma história horrível, de um casal de gays em que um dos rapazes morreu e, antes mesmo de ser enterrado, sua família invadiu a casa que ele morava e expulsou o parceiro sem que ele pudesse sequer tirar suas roupas. Mas quando o rapaz era vivo, a família o tinha abandonado há mais de 10 anos. Pais e irmãos sequer sabiam que ele tinha uma doença grave. E quem cuidou dele foi o parceiro que ficou sem nada, quase na miséria”.

Eu me sinto gratificada com a participação dos leitores. Acompanhar os comentários que fazem é uma grande curtição, mesmo que tragam histórias tristes como essa, porque eles retratam a nossa realidade, a verdadeira situação do mundo em que vivemos. Sobre o caso relatado por Lúcia, creio que muito poderia ser dito. No primeiro momento, a idéia que ele em mim despertou é a de que ali houve uma combinação perigosa de preconceito e cobiça.

Para muitas almas, acontecimentos como o relatado por Lúcia não fazem o menor sentido porque, a todo momento, lemos e ouvimos relatos sobre relacionamentos que deveriam ser de amor, mas se mostraram de horror; de crianças atiradas pela janela de suas casas; de garotos matando pais e avós; de maridos matando mulheres; de mulheres matando maridos; de pais e irmãos abandonando seus doentes. É tanta loucura que, se não formos fortes, terminaremos por perder a fé no ser humano, em nós mesmos. Às vezes, parece que vivemos mergulhados numa espécie de pântano. E, o que é pior, pouco fazemos para dele sair.

Além disso, estamos cansados de ver casais que vivem uma relação que nem de longe eu chamaria casamento. Homens e mulheres que mal se falam e mal se conhecem; que se uniram movidos por uma paixão sem embasamento ou que não foi cultivada e chegou ao fim; que se mantêm juntos por convenção, comodismo ou interesse; que, em verdade, nada constroem de bom, nem para eles mesmos nem para os que os cercam.

Diante desse quadro, é, no mínimo um abuso essa gente, desfraldando a bandeira do preconceito, criticar ou interferir em um relacionamento apenas por ele fugir ao padrão, por ser entre pessoas do mesmo sexo. Fico pensando em quantos casais heterossexuais conseguem se manter unidos, não por obrigações, mas por amor, numa situação difícil como a que envolveu esses rapazes.

No livro Amor, Imbatível Amor, psicografado por Divaldo Pereira Franco, o Espírito Joanna de Ângelis diz que o amor é substância criadora e mantenedora do Universo, constituído por essência divina. É um tesouro que, quanto mais se divide, mais se multiplica, e se enriquece à medida que se reparte. Mais se agiganta, na razão que mais se doa. Fixa-se com mais poder, quanto mais se irradia. Nunca perece, porque não se entibia nem se enfraquece, desde que sua força reside no ato mesmo de doar-se, de tornar-se vida.

Lamentavelmente, muitos ainda veem a união entre duas pessoas apenas como um ato social ou religioso e se esquecem de que ela envolve, ou pelo menos deveria envolver, muito mais do que geração de filhos e formação de patrimônio; que o que mantém viva a união é a amizade, o diálogo, o interesse pelo outro, a alegria de amar e ser amado; que somente o companheirismo abre as portas para a realização do par. Não importa se o casal é hetero ou homossexual. Encontrar um relacionamento de amor verdadeiro não é fácil. E quando um se apresenta, ele deve ser comemorado e servir de exemplo.


É nosso dever lutar contra o preconceito, a arbitrariedade, o abuso, para que histórias como essa trazida por Lúcia não mais se repitam. Não basta apenas criticar. O Livro dos Espíritos traz a seguinte pergunta: “ Por que, neste mundo, a influência dos maus geralmente sobrepuja a dos bons?”. E, em resposta, lá está: “ Por fraqueza dos bons. Os maus são intrigantes e audaciosos; os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, haverão de preponderar”. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!

Maraci Sant'Ana

3 de maio de 2009

Mônica, Eduardo, Sônia e o bloqueio ao telemarketing

Publicado em 4/4/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro


São Paulo saiu na frente e espero que seja seguido de perto pelos demais estados. Lá, já se pode, mediante cadastro na página eletrônica do Procon, bloquear telefones para o recebimento de ligações de telemarketing. Em menos de uma semana, o número de linhas inscritas havia superado 182 mil. Conforme publicado em Veja.com, Evandro Zuliani, diretor de atendimento daquele órgão, teria assim resumido o benefício trazido pelo novo dispositivo: "A lei proíbe que incomodem o cidadão".

A gente entende que empresários e atendentes estão tentando ganhar seu sustento. Só que, nesse tipo de atividade, acontecem muitos abusos, com ligações inoportunas, insistentes e às vezes agressivas. E nem quero me referir ao irritante gerundismo. Agora, os paulistas é que decidem que empresas podem lhes oferecer produtos ou serviços, entrar em suas casas, em suas vidas. Lógico, não? Pois, vou contar aqui o caso de uma paciente que viveu uma situação parecida, embora diferente. Eu a chamarei de Mônica; o marido dela, de Eduardo; e a ex-mulher dele, de Sônia.

Mônica e Eduardo se conheceram no trabalho e se apaixonaram. Ela morava na mesma cidade em que trabalhavam, mas ele, em uma vizinha. Logo que o romance começou, Eduardo tratou de colocar ponto final em seu casamento, que há muito acabara de fato. Segundo ele, nem a esposa merecia ser traída nem Mônica merecia levar vida de amante. Resolvida essa questão, foram viver juntos. Entretanto, para que Eduardo pudesse acompanhar o crescimento dos filhos, ficou acordado que, a cada 15 dias, ele viajaria para a antiga cidade e lá passaria o final de semana. Como diz uma amiga minha, tudo arrumadinho dentro dos vidrinhos.

Só que eles não contavam com a revolta de Sônia. Quanta ingenuidade! Passado o primeiro mês e o impacto inicial, a ex colocou em prática um plano singelo mas poderoso – nos finais de semana em que Eduardo estava com os filhos, ela se dedicava a infernizar Mônica. Sônia telefonava várias vezes ao dia, inclusive de madrugada, dando a entender que ela e Eduardo estavam curtindo tórridos momentos de amor. Valia tudo – sussuros, gemidos, o nome dele languidamente pronunciado, barulho de copos em brinde, Leonardo ou Daniel cantando ao fundo, terrorismo puro. E, pra complicar, a operadora de telefonia móvel não colaborava. O celular de Eduardo vivia fora da área de serviço. É aquela velha máxima – a coisa sempre pode piorar.

Para Mônica, era um suplício. Ela tinha razões para confiar em Eduardo, mas... Tudo bem que ele demonstrara bom caráter providenciando logo a separação, na tentativa de não expor nenhuma das duas, mas... É certo que eles estavam vivendo uma grande paixão, com todos as vantagens de um relacionamento em fase inicial, mas... A verdade é que ela não conseguia tirar da cabeça que, com Sônia, ele já havia percorrido muitos anos, tido filhos, construído um patrimônio, uma história. Ela começou a pensar que, de repente, a chegada dela à vida de Eduardo poderia ter servido apenas para espanar o marasmo do casamento deles, enfim revigorado. O que inicialmente era maravilhoso agora se mostrava perigoso. E Sônia, nossa versão feminina de Bin Laden, parecia adivinhar os pensamentos de Mônica. Aliás, não é difícil para uma mulher saber o que se passa na cabeça de outra. Então, ela se fazia implacável.

Dá para imaginar o que acontecia quando Eduardo chegava de volta a casa no domingo à noite? Isso mesmo – o pau comia e não era daquele jeito legal. As brigas foram se tornando frequentes e intensas. Ele se defendia como podia. Mônica tentava confiar, mas não conseguia. Tudo bem que ela tinha muitos motivos para acreditar nele e muitos para desconfiar de Sônia, mas... O paraíso virou o inferno. Quando ela me procurou, já pensava em separação. E foi só durante o processo terapêutico que Mônica entendeu que estava na hora de tomar de volta as rédeas de sua vida que, num momento de invigilância, ela deixara ao alcance de Sônia.

Havia a possibilidade de Eduardo estar mentindo e Sônia dizendo a verdade? Havia. Ela tinha como checar isso? Tinha. Entretanto, Mônica decidiu que só tomaria essa providência se acontecesse algo que ela julgasse relevante, mais significativo do que o amor que pareciam viver, e se o coração dela apontasse nessa direção. Finalmente, se fosse preciso deixar Eduardo, ela o faria. Mas essa decisão seria dela e não de Sônia. Assim pensando, procurou a polícia e registrou uma ocorrência. Afinal, também nesses casos, a lei proíbe que incomodem um cidadão. A ex foi chamada para uma convesa e advertida pelo delegado. Impedida de infernizar Mônica, nada mais restou a Sônia, além, é claro, da opção de abaixar o facho. Meio desconfiada, mas livre do tormento, Mônica, aos poucos, voltou a se entender com o marido.

As insinuações de Sônia nunca restaram comprovadas. Mas o desfecho poderia ter sido diferente? Sim. Há ex-mulheres que falam a verdade? Há. Mas isso, naquele momento, não era o mais importante. A providência tomada por Mônica deixou claro que ela estava novamente no controle de sua vida. Somente a ela cabia decidir o que fazer e quando fazer, sem pressões, tal qual os consumidores paulistas. Moral da história: devemos nos manter vigilantes. Os relacionamentos pessoais são importantíssimos e estamos sempre aprendendo com os outros, da mesma forma que a eles ensinando, mas não devemos permitir que ninguém determine o tipo de pessoa que seremos, nem as decisões que tomaremos pela vida afora. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!

Nem toda ex-mulher é uma peste. Aliás, eu sustento a teoria de que qualquer mulher, antes de se envolver com um homem, deveria procurar conversar com suas antecessoras. Quer conhecer uma situação em que uma ex tentou ajudar? Acesse maracisantana.blogspot.com e pesquise o texto Dormindo com o inimigo.

Maraci Sant'Ana