31 de dezembro de 2006

O que você faria se só lhe restasse este dia?

Publicado no Tribuna do Brasil de 13/10/2006

Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Recebi, na 2a. feira, uma mensagem com um resumo das principais profecias atribuídas a Jucelino Nóbrega da Luz. Para quem não o conhece, trata-se de um professor de 45 anos, nascido em Floriano, Município de Maringá, Paraná, que desde os nove anos de idade tem sonhos premonitórios.

As previsões incluem atentados, catástrofes naturais, e doenças que extinguirão cidades e milhões de pessoas. Até mesmo o resultado das próximas eleições para presidente foi por ele visto antecipadamente, assim como que "80% dos seres humanos, como nós os conhecemos, serão dizimados em 2043".

Não sei se essas antevisões são verdadeiras. Mas acredito que prever dessa forma é possível. A história da humanidade está cheia de relatos de pessoas com esse poder, que nada tem de sobrenatural. Mas acho que uma questão maior se apresenta.

Como Paulinho Moska e Billy Brandão, na música "O último dia", eu lhe pergunto: "O que você faria se só te restasse esse dia? Se o mundo fosse acabar, me diz, o que você faria? Ia manter sua agenda de almoço, hora, apatia? Ou esperar os seus amigos na sua sala vazia? Corria prum shopping center ou para uma academia? Pra se esquecer que não dá tempo pro tempo que já se perdia? Andava pelado na chuva? Corria no meio da rua? Entrava de roupa no mar? Trepava sem camisinha? Abria a porta do hospício? Trancava a da delegacia? Dinamitava o meu carro? Parava o tráfego e ria?"

Nas vezes em que indaguei isso em consultório, ouvi dos pacientes coisas do tipo: "Eu me reconciliaria com minha mãe", "Perdoaria meu marido". "Diria ao meu filho o quanto me arrependo do mal que fiz a ele", "Tiraria o dia pra fazer amor", "Pediria perdão a Deus pelos meus pecados", "Aproveitaria pra descansar", "Reuniria toda minha família pra esperarmos juntos o fim dos tempos". Casos diferentes, respostas diferentes. Mas, em todas elas, conseguimos identificar importantes determinações.

Se pensarmos que 99% dessas pessoas estavam em processo de sofrimento, o que as levou a procurar a ajuda de um psicólogo, podemos concluir que, com essas decisões, elas estariam buscando remissão, reconciliação, alívio, consolo, prazer. Estariam correndo atrás daquilo com que sonham, que não pode deixar de ser realizado.

Nesses momentos, costumo perguntar: Se reconciliar-se com sua mãe, desculpar seu marido, ou se apresentar, sem máscaras, ao seu filho é tão importante, o que o impede de fazê-lo já? Um filho que está brigado com a mãe e que com ela faria as pazes diante da possibilidade do mundo acabar, já a perdoou de fato, embora não o tenha admitido ainda. O mesmo acontece com uma mulher que aceitasse desculpar o marido. Ou com um pai que reconhecesse a necessidade de se mostrar a um filho como um ser humano, não perfeito.

Será que precisamos que o planeta esteja por um fio para tirarmos o dia pra fazer amor, implorar o perdão de Deus, reunirmo-nos com nossos familiares, ou simplesmente aproveitarmos pra descansar? O que nos faz adiar, até o derradeiro minuto, tudo aquilo que, no fundo, é o que mais desejamos?

O que mudaria com o fim do mundo? Sumiriam as pessoas? Desapareceria a necessidade de arcarmos com as conseqüências de nossas resoluções? Será que é das pessoas e do que elas vão pensar das nossas atitudes que temos medo? Tememos nos mostrar como somos realmente? Ou os desdobramentos do que ficar decidido?

Talvez não passemos de prisioneiros das coisas do mundo, das outras pessoas, das convenções que costumamos adotar sem questionamento. Talvez isso nos impeça de fazer hoje o que faríamos se o mundo estivesse prestes a acabar.

O que você faria se só lhe restasse este dia? Até sexta-feira!

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