8 de julho de 2007

O preço da liberdade


Publicado no Tribuna do Brasil de 06/7/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


O preço da liberdade é a eterna vigilância. A frase é conhecida, mas, quanto à autoria, há controvérsias. Alguns a atribuem a Aldous Huxley, autor de Admirável mundo novo, que estaria nos advertindo para que estivéssemos atentos, não permitindo o futuro sombrio desenhado no livro. Outros a creditam a Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos, que afirmava que o poder está sempre roubando dos muitos para os poucos, o que exigiria precaução.

Mas há quem a atribua a Patrick Henry, que governou a Virgínia no século XVIII e ficou conhecido por sua oratória apaixonada contra a escravidão. Assim como ao estadista irlandês John Philpot Curran, que teria incluído em um dos seus discursos que "É comum o indolente ver seus direitos serem tomados pelos ativos. A condição sobre a qual Deus dá liberdade ao homem é a eterna vigilância; se tal condição é descumprida, a servidão é, ao mesmo tempo, a conseqüência de seu crime e a punição de sua culpa".

Independentemente de quem tenha sido o autor, todos foram maravilhosamente felizes ao declarar que devemos ser cuidadosos e proativos, competentes e ágeis o bastante para prever problemas, necessidades ou mudanças, alterar eventos, fazer acontecer em vez de apenas reagir.

Mas creio que, para a verdadeira liberdade, necessitamos nos voltar para nós mesmos, vigiando nossos pensamentos. Porque são eles que comandam nossas vidas e podem gerar sentimentos que funcionam tal qual prisão, como a raiva, o ciúme, o medo, a inveja, a tristeza, a angústia, e que podem nos levar a atitudes nocivas.

Isso me faz lembrar o sujeito que ia dirigindo quando o pneu do carro estourou. Ele estava sem macaco e logo percebeu que, por ali, não passaria nenhum socorro. Dominado pela raiva, avistou uma casinha no alto de um morro. Não havia outra saída - o jeito era encarar a caminhada, que não ia ser nada fácil, pra tentar conseguir ajuda.

No caminho, ele ia ruminando as piores idéias. Só lhe passavam coisas ruins pela cabeça. Pensava que talvez o esforço fosse inútil, pois a casa poderia estar abandonada ou vazia; ou talvez lá não houvesse um macaco que servisse; ou o dono não o quisesse emprestar; ou o recebesse mal, sem dar a mínima pra ele.

À medida que imaginava cada uma dessas situações, sentia o sangue ferver, odiando aquele que já via como um inimigo. Seguia envolvido por pensamentos que iam despertando e alimentando sentimentos péssimos. Quanto mais pensava, pior se sentia. Ao chegar, estava transtornado, tão preso naquele emaranhado mental quanto um inseto numa teia de aranha.

Então, ao abrir a porta, o dono da casa deparou com um sujeito enlouquecido, que ele nunca havia visto e que, sem mais nem menos, deu-lhe um soco, gritando que não precisava de macaco algum, e que, batendo a porta, tomou o caminho de volta, morro abaixo. Um verdadeiro desastre!

O que o sujeito não sabia é que o dono da casa era mecânico aposentado e um exímio borracheiro, pessoa boníssima, conhecido por estar sempre disposto a ajudar todos os que por ali passavam. Além de não receber ajuda, o agressor quase foi linchado pelos moradores do povoado. Ele não chegou a ser preso pelo que fez, mas, durante muito tempo, amargou grande remorso.

Assim, se as coisas não estiverem indo bem pra você, se estiver se sentindo preso de alguma forma, pare e observe suas atitudes, sentimentos e pensamentos. Quem quer ser realmente livre, deve estar sempre vigilante, mas não atento ao resto do mundo, como muitos pensam. Quem quer gozar a verdadeira liberdade, deve tomar cuidado com os próprios pensamentos. Esse é o preço. Até sexta-feira!

2 comentários:

Anônimo disse...

Provavelmente a frase foi mesmo cunhada por Jefferson, e mais tarde aproveitada pelo nosso Floriano Peixoto. O que Patrick Henry disse foi "Dêem-me a liberdade ou dêem-me a morte".

Anônimo disse...

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