16 de fevereiro de 2009

Andorinhas na Crise

Publicado em 24/1/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro


Série: "O dinheiro e os Relacionamentos" - Parte 9


A coluna de sábado passado, que tratou do pavor provocado pela onda de desemprego, recebeu vários comentários, mas dois me tocaram especialmente – o de Riomar, que disse: “... fiquei dois anos desempregado e quase perdi minha família. Meus filhos ficaram até sem ter o que comer. Se não fosse a ajuda de vizinhos bondosos, teria cometido uma loucura”; e o de Tião Silva, que nos contou o seguinte: “... Não é fácil conviver com o desemprego. Graças a Deus, estou empregado e não falta nada a minha família. Mas tenho amigos que estão desesperados porque só sobrevivem com a ajuda de familiares. Isso não é digno para ninguém”.

Essas duas histórias me fizeram lembrar outra, do livro O vendedor de sonhos, do psiquiatra e psicoterapeuta Augusto Cury, que me permito aqui resumir: Certa vez, houve uma inundação numa imensa floresta. Os grandes animais batiam em retirada, deixando até os filhos para trás e devastando tudo o que estava à frente. Os animais menores seguiam seus rastros. De repente, uma pequena andorinha, toda ensopada, apareceu na contramão procurando a quem salvar. Todos riam, dizendo que ela era louca, que não enxergava sua pequenez. Por onde passava, ela era ridicularizada, mas não desistia. Suas asas estavam fatigadas quando ela viu um filhote de beija-flor se debatendo na água. Mesmo sem saber nadar, com muito esforço, ela salvou o pequenino pássaro, deixando-o em local seguro. E, àqueles que a chamaram de maluca, dizendo que ela tentava aparecer dando uma de heroína, ela respondeu: “Só me sinto digna das minhas asas se eu as utilizar para fazer os outros voarem”.

Parece que esses dois leitores nos trouxeram histórias de andorinhas, de gente que não se acomoda na confortável e privilegiada posição de salvador; que entende a responsabilidade que todos temos com cada um de nós; que ultrapassou a barreira que nos leva a crer que basta que não façamos o mal e enxerga que precisamos fazer o bem; que tem consciência do poder dos talentos recebidos do Universo e de que é nosso dever usá-los da melhor forma também em favor dos outros; que já compreendeu que somos todos um.

No livro Renovando atitudes, psicografado por Francisco do Espírito Santo Neto, o Espírito Hammed nos diz que Allan Kardec, um dos precursores do pensamento ecológico, referia-se à Providência Divina como a atenção de Deus para com tudo e todos, definindo-a como a solicitude que “está por toda parte, tudo vê e a tudo preside, mesmo as menores coisas”. E Hammed completa afirmando que a humanidade continua estudando e observando essa atenção celestial em que cada ser vivo do planeta se interconecta, todos essencialmente necessários à manutenção de todos, aprendendo a ver a vida em suas harmoniosas relações de auto-ajuda, visto que submetida sempre a uma Ação Superior e Inteligente que a todos provê.

A crise que estamos atravessando não é a primeira e nem será a última. Vai levar um tempo até que consigamos parar de criá-las. Só que, do que aprendermos agora, dependerão as feições das próximas, a maneira como as receberemos e com elas lidaremos. E, ao contrário do que muitos pensam, não é quem socorre que nos dá a maior lição, mas aquele que se fez carente de ajuda, que passa por uma situação difícil e, naquele momento, corajosamente ou não, vivenciando uma árdua prova, submetido à rudeza e à ignorância que ainda nos cerca, permite que exercitemos nossa verdadeira missão, nem que seja só um pouquinho, que nos tornemos dignos das asas recebidas. Valeu, Riomar! Valeu, Tião! Valeu, irmã! Até sábado, leitores!

Maraci Sant'Ana


Os interessados nos grupos de terapia Para sobreviver a um grande amor, para mulheres adultas e adolescentes que viveram ou estão vivendo um relacionamento amoroso problemático; TOC, para adultos e adolescentes que sofrem de Transtorno Obsessivo-Compulsivo; e PÂNICO, para adultos e adolescentes que sofrem de Síndrome do Pânico, poderão falar comigo no telefone (61)9967.0990.

9 de fevereiro de 2009

O Pavor do Desemprego

Publicado em 17/1/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro



Não tem jeito – falou em crise, logo surge em nossa mente a ideia de inflação, mercado e juros enlouquecidos, recessão, pé no freio, cinto apertado. Mas, o que apavora mesmo é pensar especificamente em desemprego. Assim que começam a anunciar férias coletivas e fechamento de grandes empresas, todos ficamos preocupados, muitos ficam apavorados. Poucas coisas são tão assustadoras quanto a perda do meio de sobrevivência. É dureza, principalmente para quem tem família a sustentar, contas a pagar.

Quando ficamos desempregados ou estamos correndo esse risco, bate um desespero, uma agonia, um desassossego. Os pensamentos vão e vêm num verdadeiro frenesi, mistura de decepção, raiva, desânimo, remorso, vergonha, sentimento de impotência, de ser um fracasso. Nessas horas é que as pessoas lamentam não terem estudado para um concurso público; não terem se especializado; não terem se arriscado em outro ramo ou país; a poupança torrada em supérfluos; a falta de empenho, de juízo, de coragem.

Ontem, o Jornal da Globo mostrou o que está acontecendo na Renault. Mil empregados da fábrica tiveram seus contratos suspensos, numa alternativa à demissão, e estão frequentando cursos que podem lhes abrir novas oportunidades. Talvez nós devessemos nos ocupar desse tipo de medida ao longo da vida, aproveitando os ventos favoráveis para aumentar nossa empregabilidade, tal qual fazem empresas que atuam em diferentes ramos e pessoas que diversificam seus investimentos financeiros na tentativa de se precaver, resguardar o já conquistado o mais possível. Estudar sempre, buscando especialização ou nova profissão deve ser encarado como necessidade. É uma medida que nos permite ampliarmos nossos horizontes intelectuais e nossos contatos profissionais e pessoais. Penso que, dessa forma, diluímos os riscos de sermos pegos de surpresa e, apesar do susto inicial, evitamos o pânico, por termos em que nos segurar.

Estarmos bem hoje não é garantia de estarmos bem sempre. Mesmo quem não corre o risco de perder o emprego pode vir a ter uma perda financeira, como a saída de um cargo comissionado. Todos os dias, vemos excelentes profissionais dispensados como resultado de uma mudança de governo, de triste politicagem. Pessoas que, de repente, sentem-se perdidas depois de anos numa mesma área, numa mesma atividade, preparadíssimas que estão para um único posto, incapazes de sacudir a poeira e dar a volta por cima de pronto.

Para estarmos em situação de risco, basta que estejamos vivos. E considerando que vivos sempre estamos, já que nunca morremos, submetemo-nos a essa lei de virmos a nos dar bem ou mal. Para uns, o perigo é maior e imediato, é verdade, mas ninguém escapa. Nunca foi diferente, mas, quando vivemos em um mundo globalizado, fica tudo mais visível, tangível. A crise no Citigroup, por exemplo, pode desempregar vários operários da construção civil aqui, em Brasília. Fica difícil para um ajudante de pedreiro entender isso, mas essa é a nossa realidade. Até parece que o Universo está tentando nos dizer algo, a cada um de nós, individualmente. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!

Maraci Sant'Ana


Os interessados nos grupos de terapia Para sobreviver a um grande amor, para mulheres adultas e adolescentes que viveram ou estão vivendo um relacionamento amoroso problemático; TOC, para adultos e adolescentes que sofrem de Transtorno Obsessivo-Compulsivo; e PÂNICO, para adultos e adolescentes que sofrem de Síndrome do Pânico, poderão falar comigo no telefone (61)9967.0990.

2 de fevereiro de 2009

O pescador e o executivo

Publicado em 10/1/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro


Série "O Dinheiro e os Relacionamentos" - Parte 8


O texto O PODER DO DINHEIRO, primeiro desta série, recebeu comentário do leitor José Stélio. Ele mencionou um conto que, embora muito conhecido, merece novo destaque. “Um homem, depois de um tempo observando um pescador, aproxima-se dele e dá início ao seguinte diálogo: – Sou executivo de uma multinacional e meu trabalho é aumentar a eficiência da fábrica, otimizando recursos, reduzindo preços, melhorando a qualidade dos produtos. Sou um expert nessa área, com vários cursos, inclusive no exterior. Então, vou lhe dar uma sugestão: você poderá se tornar um homem rico se, em lugar desse equipamento tosco, usar uma vara com molinete. Assim, arremessará a isca mais longe e pegará peixes maiores. Melhorando as vendas, comprará um barco motorizado com uma boa rede e terá produção para vender a cooperativas. Daí, adquirirá um caminhão e dispensará os intermediários, aumentando o lucro. Além disso, distribuirá seu produto para grandes supermercados e peixarias. Em aproximadamente uns 15 anos, uma vez rico, você poderá vir para cá, como eu, descansar e curtir essa praia maravilhosa. E, diante de tudo isso, apenas o espanto do pescador que retrucou dizendo: – Mas, dotô, isso eu já tenho hoje!”

São muitas as lições que podemos tirar desse conto. Uma delas é a de que corremos o risco de parecermos ridículos sempre que tentamos, mesmo que movidos pelas melhores intenções, impor aos outros nosso estilo de vida. E essa tendência parece tomar força especialmente quando deixamos de lado nossa rotina e nos arriscamos em aventuras que incluem terras distantes, pessoas diferentes, realidade diversa. Lá vamos nós, prontos a distribuir sabedoria e refratários a aprender, a não ser que estejamos em viagem a, por exemplo, países do chamado primeiro mundo, nos quais costumamos nos espelhar, deslumbrados que somos. Do contrário, tendemos a ver as pessoas como peças folclóricas, apenas como excentricidades que nas férias estão e nelas deverão permanecer.

Se o executivo tivesse relaxado o bastante para conseguir ampliar sua visão – isso sim uma experiência incomum e surpreendente para muitos –, perceberia que o pescador já tinha o que ele oferecia – a praia, a brisa, o silêncio, a tranquilidade, a paz, mesmo sem ter precisado trabalhar enlouquecidamente por 15 anos. Não estou dizendo que todos devemos abandonar nossas vidas e mudar para uma aldeia de pescadores, munidos apenas de uma varinha simples de pescar, certos de que ali está a felicidade. Mas acho que devemos exercitar a arte de deixar de lado, pelo menos de vez em quando, as nossas “verdades”, de nos limitarmos a dar apenas o que nos for pedido, de respeitar o momento do outro, de procurarmos nos posicionar como ele e ver a vida sob um novo prisma, de nos colocarmos em posição de observadores isentos de idéias preconcebidas.

E isso vale em qualquer situação, no nosso dia-a-dia, com pais, irmãos, filhos, colegas de trabalho, chefes e subordinados, inclusive nos relacionamentos com quem parece nada ter a nos oferecer e com aqueles que acreditamos terem vindo ao mundo só para nos irritar ou atrapalhar. Sempre podemos e devemos procurar aprender com o outro. Valeu Stélio! Valeu irmã! Até sábado, leitores!

Maraci Sant'Ana


Além do grupo de terapia Para Sobreviver a um grande amor, para mulheres que viveram ou estão vivendo um relacionamento amoroso problemático, estou iniciando um grupo para adultos e adolescentes que sofrem de Transtorno Obsessivo-Compulsivo - TOC e outro para adultos e adolescentes que sofrem de Síndrome do Pânico. Interessados poderão obter informações pelo telefone (61) 9967.0990.