21 de julho de 2007

Sem fiança

Publicado no Tribuna do Brasil de 20/7/2007
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.


Na última terça-feira, assisti a uma palestra, na Comunhão Espírita de Brasília, intitulada Drogas à luz do Espiritismo - prevenção e tratamento, feita por um profissional competente e carismático que se dedica incansavelmente à causa, o Químico e Toxicologista da Polícia Civil Olegário Versiani.

Foi uma exposição objetiva e muitíssimo esclarecedora que ratificou informações já conhecidas e trouxe novos dados sobre o tema. Além disso, um bate-papo carinhoso, que restaurou a esperança de muitos corações aflitos que lá estavam.

Durante a conferência, enquanto Olegário falava a respeito do impacto físico, emocional e social do uso de drogas, aí incluído o álcool, lembrei do caso do homem que se recusou a pagar fiança de quinhentos reais para retirar da cadeia o filho de 21 anos, preso por dirigir bêbado.

Foi o próprio pai quem chamou a polícia, ao ser alertado pela mulher de que o rapaz pegara a caminhonete da família sem autorização. Além de embriagado, o jovem estava sem habilitação, suspensa há alguns meses. Cansado de aconselhar o filho, que volta e meia aprontava, faltando ao serviço, bebendo e se drogando, ele havia lhe dito que o amava, mas não mais passaria a mão pela cabeça dele. E cumpriu a promessa.

Após nove dias de prisão, o jovem foi solto graças a uma decisão judicial. Indiciado, poderá ser condenado a pena que varia entre seis meses e três anos de detenção. Entretanto, segundo a imprensa, deixou a prisão declarando que o pai agiu acertadamente e que está disposto a se tratar e a mudar pra valer.

Imagino o quanto não foi difícil para aquele homem fazer o que fez e seguir com a vida, sabendo que o filho estava preso, dormindo e acordando numa cela. Ninguém deveria passar por uma coisa assim, nem pais nem filhos. Mas a nossa ignorância não nos permite gozar a felicidade plena.

Ao fazer o que fez, acredito que o pai tenha tentado transmitir ao filho que não está mais disposto a ser conivente com os erros por ele cometidos a despeito dos conselhos, da orientação, do carinho. Ele deverá arcar sozinho com as conseqüências das suas atitudes.

E, ao dizer ao filho que o ama, acredito que tenha tentado passar a mensagem de que está pronto a ajudá-lo caso ele decida deixar de lado o álcool e as drogas, a delinqüência, para dar outro rumo à própria vida.

A paternidade é uma verdadeira missão. Quando colocamos no mundo ou recebemos um ser que nos compete formar, precisamos entender que temos sob nossa responsabilidade um filho de Deus, um irmão. Mas, independentemente de sua verdadeira origem, que é Divina, e dos nossos melhores esforços, não há garantias. E sofremos, como se tivéssemos perdido um pedaço, quando vemos nossa cria fracassar.

É difícil criar um filho num mundo que consome álcool e drogas cada vez mais. É difícil dizer não a um ser tão querido. É difícil distinguir amor de permissividade, especialmente num relacionamento tão íntimo. Entretanto, muitas e muitas vezes, é mais do que necessário, é imprescindível, é essencial.

Disse Confúcio que a maior glória não está em nunca cair, mas em levantar a cada queda. O verdadeiro pai e a verdadeira mãe sempre estarão prontos a ajudar um filho sinceramente disposto a se recuperar, não importando as faltas por ele cometidas. O meu desejo é o de que essa família consiga ser feliz. Até sexta-feira !

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