27 de dezembro de 2007

Promessas e realizações

Segundo Carlos Drumond de Andrade, é dentro da gente que o ano novo cochila e espera desde sempre. Não precisamos aguardar o 1º de janeiro. Mas há algo mágico na data. Talvez seja a energia de muitos nela acreditando, por ela ansiando. E, com 2008, não será diferente. Então, prepare-se para mais uma virada!

Faça um balanço de 2007. Em uma folha de papel, escreva os acontecimentos positivos e em outra, os negativos, conforme eles lhe vierem à cabeça. A primeira, guarde para as orações de agradecimento. Agradecer é muito importante. Quanto à segunda, é nela que você vai começar a trabalhar.

O que não deu certo no ano que chega ao fim? Há acontecimentos irreversíveis, pelo menos à primeira vista? Esses, você deverá entregar "nas Mãos de Deus". Liste-os para suas preces. Pedir também é importante. Há providências que você pode e gostaria de tomar? Faça uma outra lista e atribua um peso a cada uma. Reserve-a.

Agora vejamos o que você deseja para 2008: mudar de emprego, de parceiro, de casa, de país? Emagrecer? Engordar? Iniciar uma atividade física ou filantrópica? Montar uma empresa? Relacione tudo e atribua um peso a cada item.

Junte essa última lista àquela das providências que pode e gostaria de tomar. Transforme-as numa só, revendo os pesos atribuídos, indo da de maior à de menor importância. Aí estão suas prioridades para 2008. Até aqui, fácil. Realizar é outro papo. Atingir muitas dessas metas envolve mudanças radicais. Então, vou dar uma dica, usando um exemplo simples. Você só precisará entender o espírito da coisa.

Você é do tipo sedentário que sonha caminhar todos os dias durante duas horas, para ter mais saúde, emagrecer e parar de ouvir piadinhas dos familiares e amigos? Pois seus problemas acabaram. O primeiro passo é verificar do que necessita para iniciar: um check-up médico, roupas e tênis adequados, uma esteira? Providencie o que for preciso. Tudo pronto? Está na hora do exercício propriamente dito.

Lembre-se de que ninguém vira atleta do dia pra noite. Andar diariamente é ótimo. Mas, se tentar por duas horas logo de cara, terá grandes chances de fracassar porque isso não faz parte da sua rotina. Então, comece andando 10 minutos por dia, durante uma ou duas semanas. Mas lembre-se de só andar 10 minutos, nem menos nem mais, mesmo que o dia esteja lindo, você disposto e com tempo sobrando. Use um despertador para não se distrair. Depois, aumente para 15 minutos, por mais uma ou duas semanas. E assim sucessivamente. Quando menos esperar, estará caminhando duas horas sem o menor sacrifício. Caminhar já fará parte da sua rotina.

É maravilhoso ter hábitos saudáveis, uma vida financeira equilibrada, estar sempre lendo bons livros, fazer trabalhos voluntários, etc. Porém, não adianta forçar a barra. Algumas práticas já fazem parte da nossa vida, mas outras ainda não. Mudanças radicais costumam trazer sofrimento e frustração, o que não combina com um novo ano.

Para chegarmos onde queremos, teremos sempre de percorrer um caminho que pode ser enorme. Se pensarmos no percurso todo, tenderemos a desistir. Mas se o dividirmos em passos, a coisa mudará de figura. Caminhar 10 minutos por dia pode parecer uma bobagem. Mas talvez seja o início de uma vida atlética. Lembre-se de que toda jornada, por mais longa que seja, começa com o primeiro passo.

E já que comecei essa conversa citando Drumond... "... Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo. Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre".

13 de dezembro de 2007

Feliz Natal a todos

Publicado no Tribuna do Brasil de 22/12/2006
Caderno TB Programa, Coluna
Psicoproseando...com Maraci


Em três dias, comemoraremos o Natal. É época de nos reunirmos com familiares e amigos, trocarmos presentes, elevarmos o pensamento para agradecer as graças recebidas e fazer mais pedidos, como sempre.

Isso me faz lembrar uma ocasião em que um colega de trabalho me pediu uma dica de oração realmente eficaz. Ele estava precisando de "uma das boas", mas não sabia se era melhor decorar uma "quente" ou inventar. Além disso, queria saber qual o melhor momento para rezar - se na hora de dormir, de acordar, nesses dois momentos, ou na missa de domingo.

Lembro de ter respondido que o importante não é quando, onde, como ou quantas vezes rezamos, mas a fé que depositamos no ser a quem nos dirigimos. Há quem só lance mão de orações consagradas; há quem as use para entrar no clima e, na hora de formalizar o pedido, prefira as próprias palavras; há quem se sinta mais à vontade como se estivesse conversando com o alvo das súplicas. Tanto faz. O que vale é que a prece esteja no coração, não apenas nos lábios.

Também não importa o local. Para rezar, não precisamos ir a uma casa de oração. Podemos orar em qualquer lugar - em casa, no carro, no ônibus, na mata. Assim como não importa se oramos de pé, ajoelhados ou deitados; se à noite ou de dia; se sozinhos ou em grupo; se paramentados ou nus; se a prece é longa ou curta; se a pronunciamos uma, duas ou duzentas vezes ao dia. O que importa é a sinceridade do suplicante.

Mas nada supera a prece que dura dias, anos, uma vida. E não estou falando de ficar isolado num mosteiro, convento ou gruta, meditando e rezando, mas de fazermos da nossa rotina uma oração. Sei que estamos muito longe de conseguirmos isso na totalidade, mas todo esforço nesse sentido e qualquer vitória obtida são importantes.

Como viver em prece? Amando o próximo como a nós mesmos, fazendo pelos outros o que gostaríamos que os outros fizessem por nós. Isso soa familiar? Pois é, tem a ver com o famoso aniversariante de 25 de dezembro. Se conseguirmos viver dessa forma, estaremos sempre em oração, em contato com o divino.

Assim, reze quando, onde, como e quantas vezes quiser. Mas, independentemente disso, procure levar a vida em prece. Trate o outro como gostaria de ser tratado. Isso vale para pessoas, animais, vegetais e minerais, toda a Criação.

Gosta de respeito e dignidade? Então seja respeitoso e digno. Gosta quando são alegres, amorosos, gentis, amigos, verdadeiros, pacientes com você? Então seja assim com os outros. Gosta de ajuda nos momentos difíceis? Então ajude sempre que puder. Aprenda a se colocar no lugar do outro e a ver o mundo com os olhos dele. Um ombro amigo, uma palavra de apoio, um sorriso, um "bom dia" caloroso podem fazer uma enorme diferença. Orando sob a forma de atitudes, você estará, todo o tempo, agradecendo e conquistando bênçãos.

E, desejando a todos um feliz Natal, transcrevo o poema Falando a Jesus no Natal, ditado pelo Espírito Maria Dolores, psicografado pelo querido Chico Xavier: "Senhor, o teu Natal, de novo se descerra... Ouvem-se mais de perto as vozes cristalinas, dos pastores que ouviram as palavras Divinas: - "Glória a Deus no Alto Céu e paz na Terra!...". Proclamando a Verdade que não erra, amas, trabalhas, sofres, mas ensinas... Não possuis arma alguma, entretanto, dominas, com a força do Bem que a Tua vida encerra. Conquistadores passam nos milênios, carrascos, sob a máscara de gênios. Ficas, porém, conosco, em nosso amor profundo!... Cantamos Teu Natal, sobre guerras e povos, sabendo que És, com Deus, também nos tempos novos, a esperança da Paz e a Luz do Amor no Mundo."


31 de outubro de 2007

Crônica de uma morte anunciada

Publicado no Tribuna do Brasil de 16/3/2007

Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci

Quem não conhece "Crônica de uma morte anunciada", de Gabriel García Márquez, deveria lê-lo. Logo no início, o autor revela o final - a morte do protagonista. Só que essa morte é meio posta de lado pelo leitor, que se deixa envolver pelo poder cativante da trama. Conforme avançam os capítulos, a profecia se apresenta como inevitável. Mas quem lê se agarra à esperança de que o escritor mude o epílogo e impeça aquela morte absurda, embora pressagiada. Uma situação semelhante à vivida por muitas mulheres.

Neste mês, comemoramos o Dia Internacional da Mulher. Muitas são as conquistas. Mas, o mais importante, a mulher ainda não alcançou - a consciência de que nossa sorte está em nossas mãos. Se as coisas vão bem, temos crédito nisso. Se vão mal, também. Não podemos continuar atribuindo nossas dores apenas aos outros, na posição de vítimas inocentes ou reféns sem opção. Precisamos assumir a responsabilidade pelo bem e pelo mal que nos rodeia.

Muita gente, equivocadamente, entende que estou culpando as mulheres pelo que de ruim lhes acontece. Isso não é verdade. Mas precisamos assumir nossa responsabilidade nos processos, para buscar evitar o problema e não apenas tentar resolvê-lo quando instalado. Se entendermos que somos responsáveis pelo rumo que toma nossa vida, nela atuaremos de forma mais inteligente, produtiva.

Imagine uma mulher que se envolveu com um homem que tem um comportamento intimidativo. Ela não tem culpa por ele ser como é. Mas, se ela se mantiver na relação, estará assumindo parte da responsabilidade pelo que possa acontecer. Isso não o exime de nada. Mas, se ele a agredir, ela será também responsável pela agressão porque teve a oportunidade de romper o relacionamento com alguém que dava sinais de ser perigoso, mas não o fez.

Agora, procure imaginar uma mulher que se envolveu com um viciado em jogo. Ela não tem culpa por ele ser como é. Mas, se vier a se casar com ele, estará assumindo parte da responsabilidade pelo que possa acontecer. Isso não o exime de nada. Mas, se um dia ela precisar vender seu único bem para saldar as dívidas dele, será também responsável pelo prejuízo porque poderia ter evitado o casamento com alguém que dava sinais de ser irresponsável, mas não o fez.

E o que você me diz de uma mulher que se envolveu com um homem que flerta abertamente com outras, comportando-se de forma desrespeitosa? Ela não tem culpa por ele ser como é. Mas, se mantiver o relacionamento, estará assumindo parte da responsabilidade pelo que possa acontecer. Isso não o exime de nada. Mas, se um dia ele a trair, ela será também responsável pela dor que sofrer porque poderia ter rompido um relacionamento que tudo indicava que terminaria em infidelidade, mas não o fez.

Essas mulheres, como os leitores de García Márquez, deixaram-se envolver pelo poder cativante do relacionamento, acreditando num epílogo diferente, embora o desfecho tenha sido predito. Se não quisermos ler nada que termine na morte do protagonista, devemos interromper "Crônica de uma morte anunciada" ainda no primeiro capítulo. Se não quisermos viver um amor que termine em dor, devemos interrompê-lo tão logo o triste final seja prenunciado.

Essa conscientização é difícil, mas é possível. Para isso, sempre que algo ruim me acontecer, deverei me perguntar: Qual foi minha participação nesse episódio? Identificando minha responsabilidade, estarei me mantendo no processo, não à margem. Poderei agir para mudar. E, de uma próxima vez, não incorrerei no mesmo erro. Estarei mais madura, melhor preparada, com as mãos mais firmes nas rédeas do meu destino.

8 de outubro de 2007

Gerúndio, o demitido


Na segunda-feira 1º de outubro, o Distrito Federal, perplexo, recebeu a notícia, por meio do Decreto 28.315, da demissão do gerúndio de todos os órgãos do GDF. A determinação, emanada do Governador, também proibiu o uso da forma verbal para desculpar ineficiência, além de revogar as disposições em contrário. Ficou difícil entender.

De acordo com o Aurélio, demitir significa: tirar cargo, função ou dignidade de; destituir; exonerar; licenciar; despedir; largar; deixar; depor; afastar; desviar; desempregar; pedir demissão; renunciar a; desistir de; abster-se ou abdicar de. Se um estrangeiro interessado na nossa língua tentasse alcançar o significado da decisão publicada, encontraria uma enorme dificuldade.

Afinal, pensaria ele: Seria o tal gerúndio um servidor com cargo em todos os órgãos do GDF, em flagrante caso de acumulação ilegal ou imoral? Teria o Chefe do Executivo cassado a dignidade do infeliz? Claro está que a iniciativa da exoneração não partiu do pobre coitado, num momento de loucura. Do jeito que as coisas andam, com tanta gente sonhando com um emprego público, teria sido um verdadeiro desatino dar as costas a uma boca como essa.

Entretanto, acho que a medida de afastar o gerúndio de uma vez por todas foi muito pesada. O pobrezinho não pode ser responsabilizado pelo mau uso que dele fazem por aí, ou seja, pelo "gerundismo". Sei o quanto é difícil ter de ouvir aquelas aberrações do tipo "vou estar providenciando" e, nesse ponto, sou solidária com o Governador. Mas acho o Decreto injusto, mesmo que pessoas mal intencionadas "estejam se valendo" dessa doença nacional como desculpa para a ineficiência, a lentidão, a burocracia, mazelas bem mais graves.

Desde a publicação do normativo, professores e doutores em Língua Portuguesa acorreram em defesa do gerúndio, indignados, alegando, inclusive, que uma forma verbal tão antiga e peculiar está acima de atitudes desastradas como essa, com o quê concordo plenamente. No entanto, acho que consegui captar "o espírito da coisa", quando, segundo a imprensa, o Governador esclareceu que "É preciso sempre estabelecer metas e cumpri-las num determinado prazo" e citou o exemplo da "enrolação" de um administrador regional que, um mês depois de receber as reivindicações dos moradores, numa rodada do "Governo nas Cidades", ainda não havia tomado as devidas providências".

É lamentável que os administradores tenham essa possibilidade, a de embromar os que lhes pagam para trabalhar bem. Isso não aborrece apenas o Governador, mas todos os moradores do Distrito Federal, contribuintes e não-contribuintes, eleitores e não-eleitores também. Quem deu a eles a força e a autoridade que vêm sendo mal utilizadas?

Fosse o Governador Arruda meu paciente ou leitor, conheceria o texto por mim publicado nesta coluna sob o título Crônica de uma morte anunciada. Ele fala exatamente disso, de que as pessoas só têm o poder que damos a elas, que ninguém pode nos fazer mal sem que nós tenhamos dado permissão para tanto. O poder é de quem o concede.

Se entendermos que somos responsáveis pelo rumo que toma nossa vida ou, no caso, nosso governo, atuaremos de forma mais inteligente, produtiva. Essa conscientização é difícil, mas possível. Para isso, sempre que algo ruim nos acontecer, deveremos nos perguntar: Qual foi minha participação nesse episódio? Identificando nossa responsabilidade, estaremos nos mantendo no processo. Poderemos agir para mudar efetivamente, em lugar de tentar responsabilizar quem, na verdade, está, desde que a nossa língua existe, cumprindo de forma absolutamente impecável o seu papel. Até sexta-feira!

28 de setembro de 2007

Fazer o quê?!

Publicado no Tribuna do Brasil de 28/9/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Tenho uma amiga, de quem já falei algumas vezes nesta coluna, que é aquele tipo de pessoa que podemos chamar de figura ímpar. Dalva Helena tem sempre uma tirada engraçada quando as coisas não saem exatamente como deveriam, ou quando acontece algo surpreendente, estranho, sem propósito. E, de uns tempos pra cá, são tantas as ocorrências esquisitas que, na maioria das vezes, só nos tem restado olharmos uma pra outra e dizer: Fazer o quê?!

É claro que sabemos que a vida não é como a gente quer que seja, mas como precisa ser. Sabemos que, independentemente de nossa vontade, de nossa boa fé e de nossos melhores esforços, algumas situações ruins são inevitáveis. E sabemos, também, que, muitas vezes, mesmo tentado acertar, pisamos na bola e terminamos nos atrapalhando. Entretanto, ficamos espantados quando vemos o quanto ainda temos a aprender.

Noutro dia, assisti a uma conferência em que o palestrante falava sobre os estragos que o remorso e a mágoa podem fazer em nossas vidas, o quanto que nos arriscamos cada vez que olhamos para trás e deparamos os nossos erros, assim como os cometidos contra nós. Muitos distúrbios emocionais, como depressão e síndrome do pânico, são decorrentes dessas dificuldades volta e meia relembradas e revividas, não superadas.

E, ampliando o cenário, ele chamou nossa atenção para a bondade de Deus que, em Sua sabedoria, lança sobre o espírito prestes a reencarnar o véu do esquecimento, o que o impede de lembrar as faltas cometidas e as sofridas em existências passadas. Assim, na nova vivência, a criatura pode seguir sem pesares ou amargura, para construir um futuro melhor do que foi o passado.

A partir desse raciocínio, ele sugeriu que nós, a exemplo do que faz o Criador quando reencarnamos, deixássemos, definitivamente no passado, o que passou, para irmos em frente de forma leve e construtiva. Não precisamos esperar uma próxima encarnação para desfrutarmos essa benção e o recomeço.

Então, se você se arrependeu de ter mudado de emprego, rompido um relacionamento, firmado um compromisso, efetuado uma compra, dito umas "verdades" a alguém, torrado uma herança. Ou se alguém o magoou muito, sendo injusto, infiel, perverso, não se desespere! Todo mundo faz bobagem. Apenas fique esperto para não passar o resto da vida sofrendo e se maldizendo, perdendo, inclusive, a lição que a vida tem a oferecer a cada dificuldade.

Tudo serve como aprendizado. A diferença é que há coisas que podem ser mudadas, enquanto para outras não há jeito. Para algumas burradas há conserto, mas, para outras, não. Claro que, o que puder ser ajeitado, deverá ser alvo de nossa atenção e esforços. Mas o que não puder ser arrumado deverá ser encarado e registrado como ensinamento, sem tormentos.

Se desgosto, amargura, pesar, tristeza e lamentações servissem para alguma coisa, o mundo estaria salvo. O grande lance está em entendermos as lições, pedirmos perdão àqueles que ofendemos, perdoarmos a nós mesmos, e nos esforçarmos para não repetir os erros. Como diria a Dalvinha, "Fazer o quê?!".

31 de agosto de 2007

Dismorfofobia


Publicado no Tribuna do Brasil de 31/08/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Duas das indústrias que mais crescem no Brasil são a da cirurgia plástica e a das academias. Todos queremos um corpo sarado e um rosto que fique bem na foto. Para isso, muitos recorrem a dietas orientadas, à malhação e ao bisturi. É natural que nos preocupemos em parecer mais jovens, bonitos, atraentes. Mas há quem exagere e termine por transformar o sonho da beleza num filme de terror.

Volta e meia vemos pelas ruas ou na TV pessoas que já espicharam tanto o rosto ou estão tão "bombadas" que não mais parecem humanas, mas personagens do desenho Pokémon. Isso sem falar naquelas que, de tão obcecadas, topam qualquer coisa e terminam se tornando presas fáceis de profissionais inescrupulosos ou traficantes de drogas que acenam com promessas fantásticas de milagre a baixo custo. As que não morrem, acabam mutiladas. A mídia não pára de noticiar esses desastres. Só não vê quem não quer.

Acho que exercícios físicos deveriam fazer parte da rotina de todos nós. E nada tenho contra a cirurgia estética. Quem quer e pode melhorar algo com que não está satisfeito, deve fazê-lo. O problema está no exagero, na preocupação patológica com a aparência, no eterno descontentamento, na perseguição de um ideal que nunca é alcançado. A isso damos o nome de dismorfofobia, doença que as autoridades da área de saúde já deveriam tratar como epidemia.

Homens e mulheres que nunca estão felizes com sua aparência; que malham sem parar, buscando a perfeição; que se submetem a cirurgias sucessivas para resolver um problema mínimo ou que nem existe; que fazem uso de anabolizantes; que se espremem em espartilhos cada vez mais apertados; que fazem regime mesmo sem precisar, podem estar dismorfofóbicos e precisam de ajuda.

Essas pessoas vivem se olhando no espelho ou, ao contrário, evitam ver a própria imagem, achando que poderiam ser mais altas ou baixas; mais magras ou gordas; ter seios maiores ou menores; mais ou menos quadris; mais peitoral ou pênis maiores. Muitas têm o amor-próprio tão abalado que passam a evitar o contato social e terminam por se isolar de parentes e amigos, abandonar os estudos e o trabalho. Nessa fase, inclusive, há o risco do suicídio. Portanto, é preciso cuidado.

Em geral, o distúrbio se manifesta na adolescência ou na primeira idade adulta, períodos em que a auto-estima não está plenamente desenvolvida. Mas não é rara perto dos 40 anos, quando muitos entram em pânico por não aceitarem o envelhecimento, que é natural e acomete todos aqueles que não morreram jovens. Há relatos, inclusive, de pessoas que, para não envelhecer, mataram-se, por preferirem ser lembradas ainda moças e belas. Quanta insensatez !

Um caso bem conhecido é o do cantor Michael Jackson, cujo rosto parece que nunca estará pronto. E há relatos de pessoas se submeteram a mutilações como a extração de costelas, para afinar a cintura, ou até mesmo ao absurdo da amputação de membros não considerados esteticamente em bom estado. Essa doença não pode ser subestimada. Cada dia sem o tratamento adequado é um grande risco.

Então, se você conhece alguém que enveredou por esse caminho, apoie-o e o oriente a procurar ajuda. O tratamento consiste em acompanhamento psiquiátrico, para a prescrição de remédios que são indispensáveis, e também psicoterapia. Sei que ainda existe muita resistência a profissionais "psi". Mas um paciente corretamente orientado logo poderá voltar a ter uma vida normal, libertando-se dessa dolorosa prisão. Até sexta-feira !


24 de agosto de 2007

Sophia, Gabriel e Linda


Publicado no Tribuna do Brasil de 10/08/2007
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.


No último dia 30, nasceu a primeira neta da minha amiga Hilta, filha da Bia, que vi crescer andando de patins embaixo do prédio onde morávamos. Sophia é linda, fazendo jus à herança genética, e veio ao mundo em grande estilo. Ao romper da bolsa-d'água, a avó mais gostosona do pedaço embarcou de Brasília pra São Paulo. Nem o caos do transporte aéreo atrapalhou o evento. As fotos de Sophia, em poses de top model, percorrem o mundo. Mal abriu os olhos e ela já é uma celebridade internética.

Como uma alegria nunca vem só, nasceu, no dia oito, o primeiro filho de outra amiga, a bela e doce Fernanda Sonntag. Gabriel chegou como um príncipe, rodeado de esperanças e muito carinho. Fê está encantada e com toda razão - é uma experiência ímpar para qualquer mulher. Ele é um lindo rapazinho que logo estará um rapagão, pra balançar muitos corações. E, pelo visto, não lhe faltarão recursos, inclusive tecnológicos. Nem bem aprendeu a mamar e Gabriel já tem seu próprio site. Pode?

E, para o final deste ano ou início de 2008, estamos aguardando a primeira filha de Cintia e Rafael, um casalzinho fofo também amigo, jovem e alegre, que está curtindo cada momento da gravidez. O nome dela é Linda, em homenagem à mãe do Rafa. Mas costumamos brincar dizendo que, embora leve o nome da avó paterna, ela será linda porque se parecerá com a mãe, não com o pai. E não demorará muito para que o meu amiguinho comece a pagar até mesmo aqueles pecados de que já se arrependeu, preocupado que estará em espantar os candidatos a genro.

Bia, Fernanda e Cíntia já sabem o que é amor materno, como é essa ligação inigualável entre mãe e filho. As três marinheiras de primeira viagem estão começando a aprender a ser mãe. Nessa empreitada, já estão usando o instinto, força inconsciente, natural, inata, que dispensa aprendizado. Também estão lançando mão do que aprenderam com suas próprias mães. E logo se atirarão na grande aventura de tentar ser melhores do que elas.

Assim, descobrirão que não há nada mais fácil e, ao mesmo tempo, mais difícil; que os filhos, embora tenham sido por elas gerados, não lhes pertencem; que, mesmo que se pareçam com elas, são seres únicos e merecem ter suas individualidades respeitadas; que devem lhes oferecer o que tiverem de melhor, sem expectativas de retribuição; e que, apesar da frágil aparência, talvez eles dirijam mais a vida delas do que elas conduzirão a deles.

Aprenderão que o amor de mãe é o maior e mais bonito; que, tentando acertar, fatalmente errarão; que, errando, deverão ter humildade para pedir perdão ao filho, sem esquecer de se perdoar também; que terão muito a ensinar, assim como a aprender com eles.

Como ditado por Joanna de Ângelis e diversos outros Espíritos psicografados por Divaldo Pereira Franco, em "S.O.S. Família", os deveres dos pais em relação aos filhos estão inscritos na consciência. Técnicas de psicologia e metodologias educacionais são importantes, mas nada supera o amor, que inclui companheirismo, diálogo franco, solidariedade, indulgência e energia moral. Diante dos filhos, nem o excesso de severidade, nem o acúmulo de receios injustificados ou aflições. A virtude está no caminho do meio, no equilíbrio, na harmonia.

E, finalizando, deixo às três um conselho: não se esqueçam de que continuam a ser filhas. Então, a cada dia, procurem dar a suas mães o melhor que puderem. Lembrem-se de que os filhos prestam mais atenção às nossas atitudes do que aos nossos conselhos, o que faz do exemplo o mais eficiente instrumento de educação. O plantio é livre, mas a colheita é obrigatória.

11 de agosto de 2007

Sim à Vida

Publicado no Tribuna do Brasil de 10/08/2007
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.


Na próxima quarta, dia 15, às 17 horas, em frente ao Congresso, acontecerá a “Primeira Marcha Cívica Nacional Em Defesa da Vida – Brasil Sem Aborto”, uma manifestação contra a legalização do infanticídio pré-natal, crime hediondo cuja vítima nem pode implorar compaixão.

Descriminar o aborto é retroceder. Até nos animais ditos inferiores, a maternidade se expressa como um dos mais vigorosos mecanismos da vida. E mesmo fêmeas dóceis são capazes de tudo para defender a cria. Além disso, a interrupção da gravidez traz enormes danos à mulher - muitas não mais conseguem engravidar ou sustentar uma gestação; outras sofrem doenças como vaginismo, endometrite e câncer, além de distúrbios mentais de origem emocional e espiritual.

Sou contra até em caso de estupro. No Brasil, não há pena de morte. Aqui, um estuprador não poderá ser executado. Da mesma forma, nem mesmo uma mãe que mate um filho já nascido ou em gestação será sentenciada à pena capital. Então, o que justificaria punir dessa forma uma criatura indefesa, que não tem culpa de ter sido gerada a partir de um ato de violência?

Há mulheres que não podem ou querem criar um filho. Mas há centenas de pais que aguardam nas filas de adoção. Se não for possível à mãe assumir a criança, ela poderá transferir essa missão a alguém que a queira. Afinal, pais são os que criam. Mas, matar, nunca!

Defensores do aborto tentam se justificar dizendo que, nas primeiras semanas, o ser em gestação é apenas um punhado de células. Mas a ciência já derrubou esse argumento, provando que, a partir do momento da fecundação, inicia-se uma vida. Também costumam alegar que a mulher é dona do próprio corpo. Só que, ao interromper uma gravidez, ela está dispondo do corpo e da vida de outra pessoa. Não há diferença entre matar uma criança ainda no ventre, atirá-la numa lagoa ou num lixão, ou espancá-la até a morte, como temos visto acontecer.

Nem cabe o argumento de que o aborto é um problema de saúde pública, que, quando clandestino, leva à morte milhares de mulheres. Legalizar o assassínio da criança para evitar a morte da mãe, matar um ser indefeso para salvar alguém que pode se defender e tem opções é um absurdo! Um crime para evitar outro? Seria essa regra justa?

Além disso, as que morrem são as que não podem pagar uma boa clínica. Em caso de legitimação, restaria às pobres os hospitais públicos. Será que o SUS terá disponibilidade para atender mulheres que desejem matar o próprio filho, sendo que não vem conseguindo ajudar as que imploram socorro para um filho doente? E não parece uma contradição legalizar o aborto num país em que mulheres que não têm o que comer encontram tantos obstáculos para uma simples laqueadura de trompas?

Talvez o mais grave problema da saúde seja a falta de ou o mau atendimento nos hospitais. E boa parte dessa deficiência resulta dos criminosos desvios de verbas. Mas nem por isso vejo campanhas para matar os servidores, empresários e políticos corruptos que roubam da sociedade, deixando os hospitais à míngua - isso seria um crime para evitar outros. E isso seria justo?

As únicas condições para se aceitar o aborto são: a mãe estar em perigo e concordar com a interrupção. Nem mesmo a anencefalia justifica o infanticídio. Já ocorreram casos em que crianças malformadas foram trazidas ao mundo, receberam o carinho dos pais e, após o desencarne, tiveram seus órgãos doados para salvar outros bebês.

Mesmo que legalizado, o aborto nunca encontrará amparo nas Leis Soberanas que regem o Universo. O direito à vida não é relativo, como muitos pregam - é soberano. Até a marcha da quarta-feira!

6 de agosto de 2007

Pan

Publicado no Tribuna do Brasil de 27/7/2007
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.

De 13 a 29 de julho últimos, o Brasil, mais especificamente o Rio de Janeiro, sediou a 15ª versão dos Jogos Pan-americanos. Durante 16 dias, 5.662 atletas de 42 países das Américas buscaram os melhores resultados nas quadras, pistas, campos e piscinas. A cada edição, os Jogos crescem em tamanho e importância. E já estão entre as principais competições do calendário esportivo mundial.

Os Pan-americanos foram realizados, pela primeira vez, em 1951, em Buenos Aires, capital da Argentina. São uma versão das Olimpíadas, que tiveram início na Grécia por volta de 2500 a.C. Os gregos buscavam, com os jogos, a paz e a harmonia entre as cidades. Os cinco anéis entrelaçados da bandeira olímpica representam a união de povos e raças que formam os continentes. Esse é o espírito.

O símbolo escolhido pelos brasileiros para o PAN Rio 2007 foi o solzinho Cauê, com uma mensagem de paz, respeito ao meio ambiente, amizade e confraternização; e o slogan dos Jogos foi "Viva essa energia!". Parece que a nossa estrela maior nos trouxe sorte. Essa foi a melhor edição para o Brasil.

A delegação brasileira deste ano foi a maior da história, composta por 999 pessoas - 660 atletas, 212 técnicos e auxiliares, 51 chefes de equipe, 60 profissionais médicos e 16 profissionais administrativos. As nossas conquistas resultaram do esforço de toda essa gente. Foi um trabalho de equipe, de perfeita comunhão. O mérito é desse conjunto e também da torcida que, embora tenha "pisado na bola" algumas vezes, com vaias nada esportivas, conseguiu manter elevado o moral dos nossos, mesmo nos momentos mais cruciais e até nas implacáveis derrotas.

Participar desse tipo de evento exige vocação, talento, coragem, perseverança, disposição, sorte. Muitos dos que ali estavam, inclusive atletas brasileiros, disputaram de teimosos que são. Para chegar ao PAN, tiveram de se dividir entre os treinos e o trabalho que dá o sustento. Parte daquelas medalhas foi ganha na raça, sem apoio, sem patrocínio. Muitos, numa situação assim, teriam desistido.

É preciso ser especial para conseguir desviar os olhos da adversidade e seguir o brilho da esperança; para enxergar arbustos verdes, flores, borboletas e passarinhos onde só há árvores secas; para ver colorido onde tudo é cinza; para perceber a luz no fim de um túnel escuro. É preciso ser fora do comum para, apesar dos pesares, manter os sonhos que fomentam o entusiasmo, a esperança que conduz à vitória.

Naturalmente, não assisti a todos os jogos. Apesar da importância do evento, a vida continuava para nós, criaturas nada olímpicas, pobres mortais. Nem foram todas as apresentações do Brasil que consegui acompanhar. Mas, sempre que o momento se apresentou, torci por nossos atletas e vibrei com suas conquistas, como todo brasileiro.

Só que, sinceramente, mesmo quando éramos vitoriosos, não me sentia totalmente feliz. Partia meu coração ver a tristeza dos que não haviam conseguido, a decepção enchendo de sombras gente tão preparada e que tanto se empenhou, rostos ainda tão jovens. Penso que o espetáculo seria muito mais bonito se todos saíssem triunfantes, carregando uma medalha.

O que me conforta é saber que a grande maioria, mesmo aqueles que nada conquistaram, já retomou os treinos, com o pensamento voltado para a próxima competição. Graças a Deus essas criaturas não se deixam impressionar com a derrota. E, em breve, nos proporcionarão belos espetáculos. Eles parecem acompanhar Mário Quintana - "Se as coisas são inatingíveis... ora!; não é motivo para não querê-las...; que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas!

28 de julho de 2007

Puff

Publicado no Tribuna do Brasil de 27/7/2007
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.

Na semana passada, minha amiga Dalva Helena perdeu um companheiro - morreu Puff, um de seus "meninos", um poodle todo branquinho e fofo de onze anos. Ela ficou bem triste, como era de se esperar - chorou muito, mesmo sabendo que a morte não é o fim.

O tamanho da tristeza dela me comoveu. Também tenho três gatos que são pra mim tal qual filhos. Diferentemente de outras pessoas, não vejo Frajola, Menininha e Docinho como fontes de trabalho e despesa. Nós trocamos carinhos e eles me trazem muitas alegrias. São meus parceiros de vida, verdadeiros e amorosos.

Muitos questionam a legitimidade desse tipo de relacionamento, de amor, entre um ser humano e um animal. E, em caso de morte, acham que uma grande dor só é cabível se se tratar de um parente querido ou um amigo muito próximo.

Lembro de uma paciente que estava péssima por ter sentido mais a morte do seu cachorro do que a da própria mãe. Era difícil, até mesmo para ela, entender uma coisa assim, embora o cão tenha sido um grande amigo e a mãe a tenha prejudicado terrivelmente.

Essas reflexões me fazem lembrar outra amiga que também adora cães, já tem um e, se pudesse, adotaria todos os que encontra pelas ruas. Um dia, ela me ligou angustiada, sentindo-se uma pecadora, por não ter o mesmo carinho e disposição para acolher uma das muitas crianças que estão também abandonadas. A predileção pelos animais a estava incomodando.

Acredito que, neste mundo, precisa haver todo tipo de gente - as que adorem crianças, as que curtam idosos, as que amem animais, as que prefiram se cercar de plantas. Acredito que, neste mundo, precisa haver todo tipo de gente para se ocupar e dar amor a todo tipo de criatura.

Não importa a qual espécie de ser ou a quem você dirige o seu amor. Não importa se prefere uns a outros. Chegará o dia em que nós todos nos amaremos verdadeiramente, sem distinção. Mas, até lá, não devemos nos prender àquilo que não conseguimos ainda. Devemos amar quem, como e quanto pudermos. E nos alegrar com essa conquista porque é isso o que a capacidade de amar representa - uma vitória.

Conforme dito pelo Espírito Joanna de Ângelis, no livro Amor, imbatível amor, psicografado pelo médium Divaldo Pereira Franco, o amor é a substância criadora e mantenedora do Universo; que, quanto mais se divide, mais se multiplica; que se enriquece à medida que se reparte; que se agiganta na razão que mais se doa; que se fixa com mais poder quanto mais se irradia; que nunca perece porque não se enfraquece.

O amor está presente em todos os seres - os ditos racionais e os ditos irracionais, variando apenas de expressão e de dimensão. Ele une almas, alimenta corpos e nutre o nosso eu profundo. Por isso é importante que esse sentimento seja lançado no mundo. Quanto mais amor, melhor.

Então, a você, Dalvinha, tenho a dizer que essa tristeza passará, como você bem sabe. Mas, o amor que você dedicou ao Puff e o que ele dedicou a você permanecerá para sempre. E todos continuaremos a ser, indistintamente, por ele tocados. Temos muito a agradecer aos dois.

21 de julho de 2007

Sem fiança

Publicado no Tribuna do Brasil de 20/7/2007
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.


Na última terça-feira, assisti a uma palestra, na Comunhão Espírita de Brasília, intitulada Drogas à luz do Espiritismo - prevenção e tratamento, feita por um profissional competente e carismático que se dedica incansavelmente à causa, o Químico e Toxicologista da Polícia Civil Olegário Versiani.

Foi uma exposição objetiva e muitíssimo esclarecedora que ratificou informações já conhecidas e trouxe novos dados sobre o tema. Além disso, um bate-papo carinhoso, que restaurou a esperança de muitos corações aflitos que lá estavam.

Durante a conferência, enquanto Olegário falava a respeito do impacto físico, emocional e social do uso de drogas, aí incluído o álcool, lembrei do caso do homem que se recusou a pagar fiança de quinhentos reais para retirar da cadeia o filho de 21 anos, preso por dirigir bêbado.

Foi o próprio pai quem chamou a polícia, ao ser alertado pela mulher de que o rapaz pegara a caminhonete da família sem autorização. Além de embriagado, o jovem estava sem habilitação, suspensa há alguns meses. Cansado de aconselhar o filho, que volta e meia aprontava, faltando ao serviço, bebendo e se drogando, ele havia lhe dito que o amava, mas não mais passaria a mão pela cabeça dele. E cumpriu a promessa.

Após nove dias de prisão, o jovem foi solto graças a uma decisão judicial. Indiciado, poderá ser condenado a pena que varia entre seis meses e três anos de detenção. Entretanto, segundo a imprensa, deixou a prisão declarando que o pai agiu acertadamente e que está disposto a se tratar e a mudar pra valer.

Imagino o quanto não foi difícil para aquele homem fazer o que fez e seguir com a vida, sabendo que o filho estava preso, dormindo e acordando numa cela. Ninguém deveria passar por uma coisa assim, nem pais nem filhos. Mas a nossa ignorância não nos permite gozar a felicidade plena.

Ao fazer o que fez, acredito que o pai tenha tentado transmitir ao filho que não está mais disposto a ser conivente com os erros por ele cometidos a despeito dos conselhos, da orientação, do carinho. Ele deverá arcar sozinho com as conseqüências das suas atitudes.

E, ao dizer ao filho que o ama, acredito que tenha tentado passar a mensagem de que está pronto a ajudá-lo caso ele decida deixar de lado o álcool e as drogas, a delinqüência, para dar outro rumo à própria vida.

A paternidade é uma verdadeira missão. Quando colocamos no mundo ou recebemos um ser que nos compete formar, precisamos entender que temos sob nossa responsabilidade um filho de Deus, um irmão. Mas, independentemente de sua verdadeira origem, que é Divina, e dos nossos melhores esforços, não há garantias. E sofremos, como se tivéssemos perdido um pedaço, quando vemos nossa cria fracassar.

É difícil criar um filho num mundo que consome álcool e drogas cada vez mais. É difícil dizer não a um ser tão querido. É difícil distinguir amor de permissividade, especialmente num relacionamento tão íntimo. Entretanto, muitas e muitas vezes, é mais do que necessário, é imprescindível, é essencial.

Disse Confúcio que a maior glória não está em nunca cair, mas em levantar a cada queda. O verdadeiro pai e a verdadeira mãe sempre estarão prontos a ajudar um filho sinceramente disposto a se recuperar, não importando as faltas por ele cometidas. O meu desejo é o de que essa família consiga ser feliz. Até sexta-feira !

15 de julho de 2007

Efeito Bebel

Publicado no Tribuna do Brasil de 13/7/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Gosto de assistir a novelas. Prefiro as "de época", mas as contemporâneas me trazem informações sobre o que anda rolando no mundo da moda de vestir, de pentear. Mais prático do que visitar shoppings ou ler revistas sobre a matéria. Sempre gostei, apesar de as histórias seguirem um padrão, não exigindo esforço para que se adivinhe o final.

Mas, nos últimos anos, os autores parecem ter enxergado a grande oportunidade de se aproveitar o interesse das pessoas pelos folhetins para mostrar dramas que fazem parte do nosso quotidiano, como o alcoolismo, a violência doméstica, o racismo, a homofobia, levando mensagens de utilidade pública, derrubando tabus e preconceitos.

Só que, como diz a música, o que dá pra rir dá pra chorar. Quando Paraíso Tropical começou, senti que a personagem interpretada por Camila Pitanga poderia se transformar num ídolo. A atriz é linda e carismática. Muitos homens sonham poder dela se aproximar e muitas mulheres adorariam ser como ela.

O resultado é que a Bebel faz tanto sucesso que, no Programa Mais Você de terça-feira passada, foi apresentada uma matéria sobre o assunto. Adultos, adolescentes e crianças a consideram o máximo. Curtem o jeito dela se comportar, falar, andar, vestir. Divertem-se com as gafes e com o que ela apronta pra conseguir o que quer. Tudo muito encantador.

Entretanto, é preciso que se diga que não há glamour no mundo da prostituição. A Bebel é meretriz de novela. As da vida real, inclusive as que fazem ponto no famoso calçadão de Copacabana, não usam roupas caras como as dela, vindas diretamente dos camarins da Globo, mas coisas simples, normalmente compradas em feiras, que é o que o dinheiro ganho "na vida" permite.

Também não vivem rodeadas de empresários e "mauricinhos" enlouquecidos, dispostos a tudo para tê-las com exclusividade, fixas. Ao contrário, precisam fazer vários programas por dia, se não quiserem apanhar do cafetão, passar fome, dormir ao relento.

Estão sempre expostas a doenças e a outros perigos. Arriscam-se a serem escravizadas, violentadas, agredidas e mortas. Vivem cercadas de malfeitores de toda espécie, num mundo que inclui traficantes de drogas, de armas, de mulheres e de crianças, malandros, ladrões, assassinos e até jovens bandidos de classe média alta. Não há beleza ou charme no meretrício.

Fico preocupada com o interesse das garotas pela Bebel, em se vestir como ela, em falar como ela. É preciso que se diga às crianças que ela fala e se comporta daquele jeito porque é uma jovem sem educação, sem instrução; que ela se veste de forma a expor um corpo que será vendido a um estranho, com quem manterá contato sexual por dinheiro, sem o menor envolvimento, num encontro vazio de sentimento, nada romântico.

Fico preocupada quando vejo as garotas vestidas daquela forma. É diferente de quando uma adulta usa aquele tipo de roupa, porque ela sabe exatamente o que poderá despertar, atrair. Uma criança não tem essa noção. E o mundo está cheio de gente má, pervertida, que, ao ver uma menininha vestida como a Bebel, não vai enxergar ali uma imitação ingênua, infantil, de um personagem de novela, mas alguém que faz um convite, que se oferece como uma prostituta.

Não julgo quem entra nisso por necessidade, conveniência, convicção ou ignorância. Mas sei que muitas mulheres que estão no meretrício foram seduzidas ainda jovens demais para ver o que se esconde por detrás desse apelo fantasioso, jovens demais para dizer NÃO, acreditando que, um dia, um Richard Gere apareceria e enxergaria nelas uma linda mulher. Até sexta-feira !

8 de julho de 2007

O preço da liberdade


Publicado no Tribuna do Brasil de 06/7/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


O preço da liberdade é a eterna vigilância. A frase é conhecida, mas, quanto à autoria, há controvérsias. Alguns a atribuem a Aldous Huxley, autor de Admirável mundo novo, que estaria nos advertindo para que estivéssemos atentos, não permitindo o futuro sombrio desenhado no livro. Outros a creditam a Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos, que afirmava que o poder está sempre roubando dos muitos para os poucos, o que exigiria precaução.

Mas há quem a atribua a Patrick Henry, que governou a Virgínia no século XVIII e ficou conhecido por sua oratória apaixonada contra a escravidão. Assim como ao estadista irlandês John Philpot Curran, que teria incluído em um dos seus discursos que "É comum o indolente ver seus direitos serem tomados pelos ativos. A condição sobre a qual Deus dá liberdade ao homem é a eterna vigilância; se tal condição é descumprida, a servidão é, ao mesmo tempo, a conseqüência de seu crime e a punição de sua culpa".

Independentemente de quem tenha sido o autor, todos foram maravilhosamente felizes ao declarar que devemos ser cuidadosos e proativos, competentes e ágeis o bastante para prever problemas, necessidades ou mudanças, alterar eventos, fazer acontecer em vez de apenas reagir.

Mas creio que, para a verdadeira liberdade, necessitamos nos voltar para nós mesmos, vigiando nossos pensamentos. Porque são eles que comandam nossas vidas e podem gerar sentimentos que funcionam tal qual prisão, como a raiva, o ciúme, o medo, a inveja, a tristeza, a angústia, e que podem nos levar a atitudes nocivas.

Isso me faz lembrar o sujeito que ia dirigindo quando o pneu do carro estourou. Ele estava sem macaco e logo percebeu que, por ali, não passaria nenhum socorro. Dominado pela raiva, avistou uma casinha no alto de um morro. Não havia outra saída - o jeito era encarar a caminhada, que não ia ser nada fácil, pra tentar conseguir ajuda.

No caminho, ele ia ruminando as piores idéias. Só lhe passavam coisas ruins pela cabeça. Pensava que talvez o esforço fosse inútil, pois a casa poderia estar abandonada ou vazia; ou talvez lá não houvesse um macaco que servisse; ou o dono não o quisesse emprestar; ou o recebesse mal, sem dar a mínima pra ele.

À medida que imaginava cada uma dessas situações, sentia o sangue ferver, odiando aquele que já via como um inimigo. Seguia envolvido por pensamentos que iam despertando e alimentando sentimentos péssimos. Quanto mais pensava, pior se sentia. Ao chegar, estava transtornado, tão preso naquele emaranhado mental quanto um inseto numa teia de aranha.

Então, ao abrir a porta, o dono da casa deparou com um sujeito enlouquecido, que ele nunca havia visto e que, sem mais nem menos, deu-lhe um soco, gritando que não precisava de macaco algum, e que, batendo a porta, tomou o caminho de volta, morro abaixo. Um verdadeiro desastre!

O que o sujeito não sabia é que o dono da casa era mecânico aposentado e um exímio borracheiro, pessoa boníssima, conhecido por estar sempre disposto a ajudar todos os que por ali passavam. Além de não receber ajuda, o agressor quase foi linchado pelos moradores do povoado. Ele não chegou a ser preso pelo que fez, mas, durante muito tempo, amargou grande remorso.

Assim, se as coisas não estiverem indo bem pra você, se estiver se sentindo preso de alguma forma, pare e observe suas atitudes, sentimentos e pensamentos. Quem quer ser realmente livre, deve estar sempre vigilante, mas não atento ao resto do mundo, como muitos pensam. Quem quer gozar a verdadeira liberdade, deve tomar cuidado com os próprios pensamentos. Esse é o preço. Até sexta-feira!

2 de julho de 2007

Um feliz aniversário!

Publicado no Tribuna do Brasil de 29/6/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci

Na próxima segunda-feira, dois de julho, esta coluna completará um ano de existência. A Psicoproseando... com Maraci está fazendo um feliz aniversário. Foi um tempo de muitas alegrias, de proximidade com os leitores, alguns fiéis que não só acompanham as crônicas, as comentam, mandando mensagens eletrônicas e torpedos, telefonando. Para mim, a data tem um especial significado.

Mas esse não é o único acontecimento importante do período. Na última quarta-feira, 27 de junho, comemoramos o aniversário da Regina Pires, a madrinha desta coluna, a primeira pessoa a acreditar que o que vocês lêem toda semana merecia ser lido por mais gente. Foi ela quem me apresentou ao Moa, da Tribuna, dando início a toda essa história.

Regina é ímpar. Elegante, loura e de olhos azuis, é uma bela mulher. Não é mais uma garota, mas conserva a jovialidade de uma adolescente, que as dificuldades da vida adulta, a maternidade, o ritmo estressante de trabalho não conseguiram apagar. Uma mistura interessante, mescla de hippie e workaholic. Não sei se ela está mais para alguém que chegou de Woodstock e assumiu um tailler, ou mais para uma executiva que, apesar de tudo, consegue se manter "em alfa", como se costumava dizer na década de 70.

É uma canceriana típica, responsável, tenaz, carismática, hospitaleira, protetora, sonhadora, receptiva, apreciadora da beleza, sensível, com uma grande capacidade de trabalho. E espero que a Psicoproseando, a exemplo de sua madrinha, torne-se cada vez mais bonita, atual, ousada, séria, honesta, alegre, polêmica, guerreira, intrigante, direta, simples, inspirada e inspiradora.

Ao longo desse ano, Regina acompanhou esta coluna, analisando os textos de forma séria ou brincalhona, fazendo, muitas vezes, comentários do tipo "nada a ver" com uma graça única. Riu, chorou, criticou, divulgou, vibrou com o que leu, deixando-me envaidecida. Tenho muito a lhe agradecer.

Sei que ela não curte comemorar o próprio aniversário, mas sei que adora previsões. Então, permito-me arriscar algumas, diretamente das cartas do Tarô:

Querida Rê,

De acordo com a data do seu nascimento, você é regida pelo Arcano Maior O Julgamento. Assim, é uma pessoa que nasceu com uma carga de responsabilidades além do normal, o que faz com que sua cobrança interior, a exemplo da exterior, seja bastante pesada. Isso tende a provocar um desequilíbrio que mais facilmente poderá ser superado se você escrever ou encontrar alguém para conversar. A escrita, para uma jornalista do seu naipe, não é nenhum problema. Mas, se preferir a troca de idéias, sabe que não lhe faltam amigos, inclusive eu, para falar sempre que quiser ou precisar. Então, está fácil!

Neste ano, especificamente, você está sendo guiada pelo Arcano Maior Os Namorados. Isso quer dizer que a atração universal agirá. Não espere muito para tomar uma decisão amorosa ou profissional. Ouça, na hora da escolha, o coração. Se os problemas emocionais interferirem no trabalho, afaste os pensamentos e se concentre no que deve fazer. Zele por sua saúde mental, evitando desgastes ao sistema nervoso. Elimine o que desequilibra ou pressiona desnecessariamente. Mas, se o bicho pegar, recorra a nós, seus amigos. Você tem o nosso coração. Muitas felicidades !

25 de junho de 2007

Adeus, não. Até breve!


Publicado no Tribuna do Brasil de 22/6/2007

Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Como podemos ajudar alguém que perdeu um ente querido? No último domingo, passei pela triste experiência de participar das despedidas à mãe de um jovem amigo, vítima de um estúpido acidente de carro, durante uma pequena viagem. Waldete partiu deixando os filhos André e Roberto.

Numa situação assim, totalmente inesperada, a maioria das pessoas se assusta. Em primeiro lugar, porque a morte de alguém nos traz a lembrança de que não ficaremos aqui para sempre, de que, um dia, o corpo que usamos também perderá a vida. Em segundo lugar, porque nos colocamos no lugar daqueles que ficam, que sofrerão por saudade.

Na verdade, quase todo mundo se apavora com a idéia de que vamos morrer ou de que podemos perder alguém amado. Falta confiança nas leis que regem o Universo, no Criador. E esse pânico é que nos impede ou torna difícil a missão de apoiar um amigo na hora da dor. O que fazer para tentar ajudar quem sofre? Como agir? O que dizer? Como suavizar o padecimento?

Não conheci Waldete, mas logo fiquei sabendo que se tratava de uma mulher que acreditava na imortalidade da alma. E percebi que os garotos dela, embora ainda não tenham as mesmas certezas com relação à morte e à continuação da vida, tendem a acompanhar as crenças maternas, uma indicação de que algo especial ela plantou no coração dos filhos. Nessas situações, só a fé pode consolar. Só ela é capaz de dissipar as nuvens pesadas e escuras que se formam em momentos tão dolorosamente tristes, impedindo que vislumbremos o horizonte infinito que nos traz confiança.

Quando alguém parte, repetimos, aos que ficam, o de sempre - que é preciso ter força, ter fé. Prescrevemos o único remédio para esse tipo de dor, tentando contagiar o outro com nossas palavras, nosso olhar, nosso abraço. Mas o sucesso desse intento dependerá do quanto estejamos sendo sinceros. E mesmo que estejamos também sofrendo muito, quanto mais firmes forem nossas esperanças, mais conseguiremos falar diretamente à alma de quem sofre.

Então, meus queridos, deixo-lhes estas palavras, as da minha fé inequívoca de que a mãe de vocês não morreu, apenas voltou à sua condição original. Waldete não era aquele corpo que pereceu. Ela é muito mais, é um ser espiritual que, agora liberto, habita um outro mundo. Nós não somos um corpo que contém uma alma, mas um espírito que se utiliza da matéria, quando necessita transitar por este planeta. Ela não desapareceu da vida de vocês, porque mantém a individualidade, a inteligência, os mesmos sentimentos de carinho, de amor.

Os laços de afeto que os uniam antes da morte do corpo dela continuam existindo e tendem a se tornar cada vez melhores, mais estreitos. Não foi por um acaso do destino que ela os recebeu como filhos amados. Por isso, de uma forma ou de outra, esteja onde estiver, sempre velará por vocês, ajudando no que puder, intercedendo, amparando como até então, abraçando-os e beijando-os durante o sono.

Há uma passagem do livro "Chico Xavier, Mediunidade e Ação", escrito por Carlos Antônio Baccelli, que narra diálogo entre o famoso médium e uma mãe aflita, que havia perdido os dois filhos num desastre. Ao ver o desespero da pobre mulher, ele a consola dizendo: -"Filha, o nosso Emmanuel sempre me diz que a aceitação de nossos problemas, sejam eles quais forem, representa cinqüenta por cento da solução; os outros cinqüenta por cento vêm com o tempo ... Tenhamos paciência e fé, pois não estamos desamparados pela Bondade Divina."

18 de junho de 2007

Também materiais

Publicado no Tribuna do Brasil de 15/6/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Na semana passada, escrevi que não podemos mais negar as evidências de que não somos apenas matéria. Relatei o caso de alguém que vem lutando contra um transtorno psiquiátrico apenas com medicação, sem psicoterapia, sem religiosidade, esquecida de que somos, antes de tudo, seres espirituais. Hoje, quero falar a respeito do outro lado dessa mesma moeda, contando uma história diferente, embora sobre o mesmo tema.

Há alguns anos, recebi no consultório uma mulher que vivia um casamento doloroso, com um homem que bebia muito e também usava cocaína, transformando num inferno a própria vida, a da esposa e a das quatro filhas que tinham.

Após uns 16 anos de drama, essa mulher iniciou comigo um processo psicoterapêutico. Logo de cara, identificamos que a história vivida com o marido não era nenhuma novidade para ela, gerada em um lar desajustado que incluía, além de um pai beberrão e infiel, uma mãe permissiva. Assim, ficou também claro que a depressão dela não teve início no casamento, mas na infância roubada.

No entanto, quando expliquei que ela precisava de uma medicação que corrigisse a disfunção química cerebral de que sofria, ela reagiu dizendo que tentaria um tratamento alternativo, já que tomar remédio não era com ela. Além disso, ela possuía um grupo de amigas religiosas que também se manifestaram radicalmente contra, afirmando que esse tipo de medicamento faz mais mal do que bem, que ela precisava era de fé e que, se freqüentasse determinada igreja, logo estaria curada.

Só que, após uns meses, embora se mantivesse firme na terapia e na igreja, os problemas ainda não estavam resolvidos. Ela os enxergava de outra forma, sentindo-se psicologicamente e espiritualmente apoiada. Mas continuava sem forças para dar outro rumo à vida. A verdade é que o corpo não estava conseguindo acompanhar a alma, que ansiava por mudanças, que sentia delas necessidade. E foi aí que ela entregou os pontos, procurando um médico.

Um mês depois, durante a consulta semanal, surge ela animadamente contando que estivera com as amigas e que havia deixado bem claro que sua recuperação nada tinha a ver com Deus, que o milagre havia sido feito por mim, pelo psiquiatra e pelo remédio prescrito. O resultado foi que as outras ficaram escandalizadas, considerando blasfêmia tudo aquilo e odiando todos nós.

Daí iniciei com ela uma discussão a respeito da participação de Deus no bem-estar de que então desfrutava. Quantas pessoas não teriam se envolvido na pesquisa da substância que a estava ajudando a sair da depressão? Quanto tempo os cientistas não teriam se dedicado a esse trabalho? O quanto não teriam precisado ser inteligentes, estudiosos, persistentes? De quanto não teriam precisado abrir mão para seguir em frente?

Enquanto viajamos, descansamos, passeamos pelos shoppings, comemos churrasco à beira da piscina dançando forró, há pessoas trancadas em laboratórios trabalhando. Gente que pouco viaja, pouco descansa, não conhece as tendências da moda e não se bronzeia há muito. Gente incansável, movida pela paixão, por um ideal, que ajuda a salvar vidas. Não seria isso um prodígio? Não seriam essas criaturas uns dos muitos portentos de Deus que mal enxergamos?

As pessoas costumam fantasiar os milagres, esperando feitos espantosos do tipo um raio atirado diretamente do céu. Mas acho que, em verdade, minha paciente havia sido agraciada com um deles, sim. E que está na hora de ampliarmos nossa visão, deixarmos de lado esse olhar ainda infantil, para usufruir de todas essas maravilhas imateriais e materiais que o Criador coloca à nossa disposição. Até sexta-feira!

12 de junho de 2007

Também espirituais

Publicado no Tribuna do Brasil de 8/6/2007

Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Não dá mais para negar as evidências de que nós não somos apenas matéria, mas, antes de tudo, espírito. Por isso costumo recomendar aos meus pacientes que, além da psicoterapia e do eventual uso de medicação, façam relaxamento, ouçam boas músicas, assistam a bons filmes, leiam bons textos e, principalmente, exercitem a fé.

Vivemos num mundo ainda muito materialista, esquecidos de que não somos um corpo que abriga um espírito. Somos um espírito que usa um corpo, instrumento indispensável para que estejamos neste planeta. E somos parte de um todo perfeitamente integrado e harmônico. Nunca estamos sós. Estamos, todo o tempo, interagindo energeticamente com os outros humanos, com os animais, com os vegetais, com os minerais, com um mundo visível e com um mundo invisível, com o universo, com o próprio Criador.

Nesta semana, uma paciente me dizia o quanto está preocupada com a irmã, que já esteve internada por um transtorno psiquiátrico, que, de repente, por conta própria, suspendeu a medicação que vinha tomando há anos, com sucesso, e entrou numa espécie de surto. E foi conversando que descobri que a doente, além de não estar sendo acompanhada por um psicoterapeuta, não pratica nenhuma espécie de religião.

Costumo dizer que não estamos neste mundo a passeio, mas a trabalho. Isso também envolve prazer, mas mais dificuldades, que fazem parte do tipo de vida que ainda levamos. As pessoas estão sempre em crise. Quando não é por falta de dinheiro ou por um desentendimento familiar, é por um outro tormento qualquer. E até mesmo quem está com tudo em ordem pode, sem mais nem menos, sentir-se invadir por um enorme vazio existencial.

Como é possível acreditarmos que alguém que sofre de um problema que é primariamente da alma consiga superar essas dificuldades apenas com medicação, sem um apoio emocional, sem um socorro espiritual?

Viver não é brincadeira não. E é muito mais do que muitos imaginam. É ter consciência do que realmente somos, que vai muito além do que costumamos ver no espelho. Viver é procurar, pacientemente, incessantemente e profundamente o autoconhecimento. Viver é trabalhar para a própria melhoria e para a melhoria do outro, do planeta, do universo. Viver é expandir a consciência. Viver é buscar o divino que existe em cada um de nós, sem exceção.

Assim, se você está doente, procure um médico. Se está emocionalmente fragilizado, procure um psicoterapeuta. Mas tenha em mente que você é um ser espiritual. Se tem fé, exercite-a. Se não conseguir fazer isso sozinho, procure uma igreja, casa de oração, uma religião, seja ela qual for. O importante é que você se sinta espiritualmente acolhido. Todos os caminhos levam a Deus. Até sexta-feira !