15 de julho de 2007

Efeito Bebel

Publicado no Tribuna do Brasil de 13/7/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Gosto de assistir a novelas. Prefiro as "de época", mas as contemporâneas me trazem informações sobre o que anda rolando no mundo da moda de vestir, de pentear. Mais prático do que visitar shoppings ou ler revistas sobre a matéria. Sempre gostei, apesar de as histórias seguirem um padrão, não exigindo esforço para que se adivinhe o final.

Mas, nos últimos anos, os autores parecem ter enxergado a grande oportunidade de se aproveitar o interesse das pessoas pelos folhetins para mostrar dramas que fazem parte do nosso quotidiano, como o alcoolismo, a violência doméstica, o racismo, a homofobia, levando mensagens de utilidade pública, derrubando tabus e preconceitos.

Só que, como diz a música, o que dá pra rir dá pra chorar. Quando Paraíso Tropical começou, senti que a personagem interpretada por Camila Pitanga poderia se transformar num ídolo. A atriz é linda e carismática. Muitos homens sonham poder dela se aproximar e muitas mulheres adorariam ser como ela.

O resultado é que a Bebel faz tanto sucesso que, no Programa Mais Você de terça-feira passada, foi apresentada uma matéria sobre o assunto. Adultos, adolescentes e crianças a consideram o máximo. Curtem o jeito dela se comportar, falar, andar, vestir. Divertem-se com as gafes e com o que ela apronta pra conseguir o que quer. Tudo muito encantador.

Entretanto, é preciso que se diga que não há glamour no mundo da prostituição. A Bebel é meretriz de novela. As da vida real, inclusive as que fazem ponto no famoso calçadão de Copacabana, não usam roupas caras como as dela, vindas diretamente dos camarins da Globo, mas coisas simples, normalmente compradas em feiras, que é o que o dinheiro ganho "na vida" permite.

Também não vivem rodeadas de empresários e "mauricinhos" enlouquecidos, dispostos a tudo para tê-las com exclusividade, fixas. Ao contrário, precisam fazer vários programas por dia, se não quiserem apanhar do cafetão, passar fome, dormir ao relento.

Estão sempre expostas a doenças e a outros perigos. Arriscam-se a serem escravizadas, violentadas, agredidas e mortas. Vivem cercadas de malfeitores de toda espécie, num mundo que inclui traficantes de drogas, de armas, de mulheres e de crianças, malandros, ladrões, assassinos e até jovens bandidos de classe média alta. Não há beleza ou charme no meretrício.

Fico preocupada com o interesse das garotas pela Bebel, em se vestir como ela, em falar como ela. É preciso que se diga às crianças que ela fala e se comporta daquele jeito porque é uma jovem sem educação, sem instrução; que ela se veste de forma a expor um corpo que será vendido a um estranho, com quem manterá contato sexual por dinheiro, sem o menor envolvimento, num encontro vazio de sentimento, nada romântico.

Fico preocupada quando vejo as garotas vestidas daquela forma. É diferente de quando uma adulta usa aquele tipo de roupa, porque ela sabe exatamente o que poderá despertar, atrair. Uma criança não tem essa noção. E o mundo está cheio de gente má, pervertida, que, ao ver uma menininha vestida como a Bebel, não vai enxergar ali uma imitação ingênua, infantil, de um personagem de novela, mas alguém que faz um convite, que se oferece como uma prostituta.

Não julgo quem entra nisso por necessidade, conveniência, convicção ou ignorância. Mas sei que muitas mulheres que estão no meretrício foram seduzidas ainda jovens demais para ver o que se esconde por detrás desse apelo fantasioso, jovens demais para dizer NÃO, acreditando que, um dia, um Richard Gere apareceria e enxergaria nelas uma linda mulher. Até sexta-feira !

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