Publicado no Tribuna do Brasil de 1/12/2006
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.
Por esses dias, recebi a visita de Jorge Lúcio, alguém que conheci recentemente e que entrou, sem a menor dificuldade, para o rol dos meus amigos. Ele queria dividir uma história interessante, sobre os laços de amor, que conto agora a vocês.
Um amigo dele, cujos pais estavam separados havia muitos anos, teve de lidar com a doença e a morte do pai. Só que esse processo naturalmente triste não envolveu apenas dor, mas também amor porque, no final da vida, o pai voltou pra casa, recebendo, da ex-mulher e desse filho, cuidados e carinho. É certo que o relacionamento do casal havia sido doloroso para aquela mulher. É certo que isso prejudicou os filhos. Também é certo que o distanciamento aconteceu. Mas, no momento da dor, a caridade, que é um dos nomes do amor, mostrou sua face e permitiu que mãe e filho deixassem de lado antigas mágoas.
Bonita história, não? Mas não foi isso o que chamou a atenção de Jorge. O que o intrigou foi o seguinte: uma vez separada, já bem madura, a mãe da nossa história havia iniciado outro relacionamento, esse sim de amor, com um homem com quem não dividia o teto, mas os momentos importantes da vida. E esse, diferentemente daquele que havia sido seu marido, soube conquistar ela e o filho que com ela morava. Era um grande companheiro, amigo das boas e más horas, amoroso e confiável, que entendeu e respeitou a decisão dela de buscar de volta o ex-marido, para ampará-lo até que ele morresse.
Só que, dois anos depois, esse homem maravilhoso também morreu, de repente. E o que Jorge percebeu, não só da parte da senhora, mas também do filho dela, foi uma dor enorme, um sofrimento que não havia dado as caras quando da partida daquele que fora esposo e pai. Situações parecidas, mas bem diferentes que merecem reflexão.
Às vezes vemos casais que parecem ter tudo para formar e manter uma família feliz. Encontram-se e se apaixonam. Depois de um tempo de namoro, decidem se casar. Montam uma casa, planejam a cerimônia, assinam papéis, festejam a decisão e passam a viver juntos.
Acontece que, após um tempo, as coisas, que na realidade nunca haviam dado certo mesmo - só depois é que se enxerga isso - começam a se complicar. Algumas pessoas, por despreparo ou dificuldades emocionais, não conseguem criar ou manter bem nada que envolva sentimento, compromisso, troca. Afastam o outro, mesmo que esse outro esteja apaixonado e bem intencionado, mesmo que haja uma estrutura voltada para que dê certo, mesmo que isso envolva casa e filhos.
Por outro lado, às vezes conhecemos pessoas que trazem luz à vida da gente, mesmo que nada tenha sido planejado, quando nem esperamos ou acreditamos ser possível. Ao lado delas, a vida fica mais fácil porque nunca estamos sós. São as nossas verdadeiras companheiras e não precisam de formalidade para amar e se fazerem amadas.
Nessa narrativa, facilmente identificamos um casal que se juntou legalmente, mas que não se ligou verdadeiramente. Pode ter faltado carinho, respeito, compromisso, o que trouxe sofrimento aos dois e aos filhos. Mas também encontramos um casal que se uniu pelos laços do amor. Esses sim trazem felicidade. E mesmo que venha a haver uma separação, eles não se romperão, serão desfeitos delicadamente, amorosamente.
Isso serve para nos mostrar que as verdadeiras famílias são as que se formam graças ao carinho, à comunhão de idéias e aos valores. A afeição recíproca dispensa formalidades e nem dá bola pra genética. Não são os frágeis laços da matéria que nos prendem. São os que ligam as almas, que não se desfazem ou quebram jamais, nem mesmo com a morte. Até sexta-feira!
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