Publicado no Tribuna do Brasil de 12/8/2006
Caderno TBmulher, Coluna Psicoproseando...com Maraci
"A sua crônica "Um amor sobrevivente" retrata, em muitos pontos, exatamente o que acontece comigo há nove anos. Vivo um relacionamento que não acrescenta nada à minha vida. Sei que preciso acabar com esse martírio mas falta-me coragem. O que devo fazer?" (Júlia, de Taguatinga Sul)
Não é fácil terminar um relacionamento, mesmo quando a gente sente que ele nada acrescenta à nossa vida, como você disse. Sempre há muito envolvido, como filhos, dinheiro, bens, parentes, amigos, grupos sociais. Além disso, pode surgir o medo de não estarmos tomando a melhor decisão, com risco de nos arrependermos e não conseguirmos reatar o que vier a ser rompido. Assim como pode pintar o pânico de ficarmos pra sempre sozinhos, de não conseguirmos outro companheiro.
Às vezes, apenas pensar nos obstáculos e nas dificuldades produz uma pressão tão grande que a gente entra em desespero, perde a coragem. O que muita gente não sabe é que alguns desses obstáculos nem são reais, a exemplo de alguns medos que apavoram, tiram o sono, paralisam. Eles resultam de um processo depressivo, de uma disfunção química do cérebro, que nos impede de ver as coisas com clareza. E se a gente não consegue sequer enxergar o problema, como vai encontrar a solução?
Você disse estar nessa situação há nove anos. Isso é muito tempo. E quanto mais o tempo passa, quanto mais sofremos por algo que parece não ter fim, maiores são as chances de entrarmos em depressão ou de a agravarmos, se ela já existia. Quanto mais a gente se enrola com o problema, mais entra em depressão. E quanto mais entra em depressão, mais se enrola com o problema.
Aí não dá mais pra fugir. Devemos procurar alguém que nos ajude a enxergar, como um todo, o labirinto em que estamos perdidos. Porque só enxergaremos a saída se tivermos a visão do conjunto. Os amigos podem ser preciosos nessa hora. Mas vale procurarmos um profissional, principalmente se surgirem sintomas como tristeza sem fim, crises de choro, um cansaço que nos derruba, ou aquela vontade de sumir, de mudar de planeta, de desaparecer, de morar num convento no Tibet, de morrer.
E, pra quem não sabe, aqui vai um alerta: a depressão é uma doença progressiva e, portanto, precisa ser levada a sério. Não se trata de frescura, de falta de fé ou de força de vontade, assim como não é um defeito de caráter. Dependendo do grau de comprometimento, a pessoa não poderá ser curada com viagens ou farras. Ela precisará da orientação de um psicólogo e muitas vezes, de acompanhamento psiquiátrico porque, se existir uma disfunção química do cérebro, ela deverá ser corrigida com a medicação adequada.
Costumo dizer que encarar problemas estando em depressão é o mesmo que entrar desarmado na jaula de uma fera. As chances de a gente sair inteiro são pequenas. Claro que milagres sempre podem acontecer. Mas não custa darmos uma mãozinha aos anjos e santos que nos protegem. Tratar a depressão equivale a nos munirmos de uma boa espingarda. A fera pode até nos engolir, mas estaremos mais confiantes, em condições de combatê-la e vencê-la.
E a partir do momento em que nosso cérebro passa a funcionar como deve, tudo começa a clarear à nossa volta. O trabalho de psicoterapia fica mais fácil e produtivo, desaparecem as dificuldades e os medos irreais e sentimo-nos mais tranqüilos e dispostos no enfrentamento dos problemas reais que continuarão a exigir nossa atenção e providências. Aí sim estaremos prontos a decidir o que fazer, como fazer e quando fazer.
Até o próximo sábado !
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