Publicado no Tribuna do Brasil de 27/10/2006
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci
Há 100 anos, em 23 de outubro de 1906, realizava-se o vôo reconhecido como o primeiro de um aparelho mais pesado que o ar. Alberto Santos Dumont apresentava ao mundo o 14 Bis.
O Pai da Aviação foi um gênio em múltiplas atividades. Além de inventar, construía o que criava e era o corajoso piloto de provas de seus artefatos futuristas. Em 12 anos, produziu um invento importante a cada seis meses, em média. Seu desempenho era extraordinário.
Santos Dumont nada cobrou por suas invenções, dedicando-as à humanidade. O altruísmo era uma das belas facetas do seu caráter. E ele é tido como irrepreensível no campo da ética e da moral. Mas esse homem exemplar e genial sucumbiu a uma depressão crônica, envelhecendo prematuramente, adoecendo e, por fim, suicidando-se aos 59 anos.
A depressão é uma das maiores preocupações da Organização Mundial de Saúde. É uma doença grave e comum. Ela está em toda parte e talvez isso a torne vulgar a ponto de ser subestimada até mesmo por muitos profissionais da área de saúde. E a falta de diagnóstico, aliada à desinformação e ao preconceito, faz com que vários doentes fiquem sem o tratamento adequado.
Diferentemente do que muitos imaginam, ela não é resultado de uma fraqueza de caráter e não pode ser vencida apenas com força de vontade, viagens, conselhos ou presentes. Indica um desequilíbrio bioquímico cerebral que precisa ser corrigido com medicação bem específica. E o profissional para esse tratamento é o psiquiatra. Além disso, é imprescindível o acompanhamento de um psicólogo, que ajudará o paciente a entender a doença e superar os problemas que a ela deram causa, a agravaram, ou dela decorreram.
Há diferentes tipos de depressão. Mas convém ficar atento aos seguintes sintomas: tristeza, pessimismo, desesperança, cansaço físico ou mental, sentimento de pesar, de ser um fracasso, ou de culpa, crises de choro ou dificuldade para chorar, falhas de memória, incapacidade de iniciar, dar continuidade ou concluir as atividades, mesmo as corriqueiras, dificuldade para tomar decisões, perda do interesse em coisas que antes eram interessantes, falta de concentração, alterações do apetite, do sono ou do desejo sexual, irritabilidade ou impaciência, sentimento de que não vale a pena viver, vontade de se isolar, de sumir ou de morrer.
Além disso, observe seus parentes. Muitas famílias têm tendência à depressão. A mãe de Santos Dumont, por exemplo, matou-se. Dois sobrinhos dele cometeram o suicídio. E acredito que outros familiares do Pai da Aviação também sofriam desse mal, mesmo não tendo tomado uma atitude desesperada.
Pode ser que você não apresente todos esses sintomas, ou não se sinta mal todo o tempo. Mas se essas informações mexem com você, procure ajuda profissional. A depressão não se limita ao nosso humor. Ela restringe nossa vida, impedindo-nos de ver o mundo como ele é, tornando difícil a convivência, incapacitando-nos. É uma doença progressiva que não desaparece espontaneamente. Relacionamentos amorosos foram destruídos, empregos foram perdidos, doenças foram desenvolvidas e vidas foram extintas por esse mal.
E não há motivo para alguém recear pedir ajuda. Se você quebrar a perna, vai deixar de consultar um ortopedista? Se estiver diabético, vai fugir do endocrinologista? Preconceitos em relação a psiquiatras e medicação controlada não levam a nada. Hoje temos muitos recursos e o tratamento é simples. Ninguém mais precisa passar pela dor que arrancou prematuramente de nós um dos mais ilustres brasileiros, um exemplo que, no país em que atualmente vivemos, tanta falta faz. Até sexta-feira!
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