Publicado no Tribuna do Brasil de 2/9/2006
Caderno TBmulher, Coluna Psicoproseando...com Maraci
"Tenho acompanhado sua coluna. Leio mais atentamente quando é sobre parceiros problemáticos. Todos dizem que a culpa dos muitos relacionamentos fracassados que tive é minha, que não sei escolher ou me impor. Sinto-me envergonhada com essa situação" (Selma do Lago Norte).
A má notícia é que as pessoas, provavelmente, têm razão: você não deve saber escolher parceiros ou se impor num relacionamento. A boa notícia é que ISSO NÃO É CULPA SUA!. Culpa tem a ver com negligência ou imprudência, com falta a uma obrigação ou princípio ético, com crime, com transgressão, com pecado. Esse não é o caso.
Imagine que você vai fazer uma moqueca de siri-mole. Nunca preparou esse prato, mas se arrisca como "chef". Ao final, a moqueca ficou salgada, o siri parecendo uma borracha e o molho, sem aquele colorido bonito. Você queria acertar, mas errou. Fez da maneira como julgou que daria certo, mas isso não funcionou. Investiu ali seus conhecimentos e energia, mas o resultado não foi nada bom.
Da próxima vez em que quiser preparar esse prato, deverá tomar algumas providências. Diminuir o sal, cozinhar menos o siri, caprichar nas verduras e no dendê talvez resolva. E se, mesmo assim, a moqueca não ficar gostosa, poderá buscar uma receita ou dicas com alguém que entenda do assunto. Assim, vai mudando o processo, na busca de um bom resultado. Porque você sabe que, se insistir em fazer como vinha fazendo, só vai conseguir uma comida ruim.
Assim acontece nos relacionamentos amorosos. Muitas vezes, querendo acertar, erramos. Tentando beneficiar, prejudicamos. Investindo nossos melhores sentimentos e energia, sofremos e desagradamos. Então, também nesses casos, para a nossa vida e os próximos relacionamentos, devemos tomar algumas medidas. Precisamos mudar o processo sempre que o efeito não for o esperado. Porque sabemos que, se insistirmos em fazer como vínhamos fazendo, só conseguiremos o mesmo resultado.
Acredito que seus amigos estejam com a melhor das intenções, ao dizer o que eles vêm dizendo a você, sobre seus romances. Devem estar querendo apenas ajudar. Uma espécie de terapia de choque. Mas não creio que caiba acrescentarmos à carga de alguém que viveu vários fracassos amorosos, ou mesmo um único relacionamento ruim, mais esse fardo. A culpa, que tem um peso enorme, costuma andar acompanhada do remorso. E, sinceramente, ainda não vi ninguém chegar bem a um bom lugar carregando esse tipo de inquietação.
Em lugar disso, falemos de RESPONSABILIDADE. Porque nada acontece conosco por acaso. Por mais que a nossa situação seja dolorosa, por mais que nos sintamos vítima do mundo, sempre contribuímos para nosso destino, mesmo que não tenhamos consciência disso. Portanto, já que temos participação, também temos o poder de mudar o rumo da nossa vida, de melhorá-la, aprendendo com os erros, mudando comportamentos e estratégias, repensando crenças e valores.
Alguém que se envolveu num relacionamento que começou amoroso e terminou horroroso não tem culpa. Mas, por ter tido responsabilidade no processo, pode e deve avaliar o que foi vivido, procurando conhecer como e quanto contribuiu para aquele insucesso. Esse exercício nos tira da posição de refém, permite que enxerguemos opções de como lidar com as coisas e as pessoas.
Sobre a moqueca de siri-mole, ninguém melhor do que Dona Flor, do romance "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de Jorge Amado, para falar: ”Aí está esse prato fino, requintado, da melhor cozinha. Quem o fizer pode gabar-se com razão de ser cozinheira de mão cheia. Mas, se não tiver competência, é melhor não se meter. Nem todo mundo nasce artista do fogão.”
Uma boa moqueca de siri-mole, você pode até encomendar a outra pessoa, se não tiver talento para fazê-la. Mas, a sua vida amorosa, não. Então...mãos à obra. Até o próximo sábado!
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