7 de junho de 2007

TOC

Publicado no Tribuna do Brasil de 27/4/2007

Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Quem assistiu a Melhor é impossível sabe o quanto pode ficar complicada a vida dos que sofrem de Transtorno Obsessivo-Compulsivo - TOC. Nele, Jack Nicholson, num papel que nem consigo imaginar interpretado por outro ator, vive um escritor cheio de manias e de rituais que tem horror a qualquer contato com outras pessoas e com coisas fora do seu apartamento, que anda pelas ruas evitando pisar nas junções da calçada, e que procura manter tudo à sua volta absolutamente limpo e em ordem.

Há muita gente por aí que vive assim, como o personagem do filme, na condição de refém de comportamentos como lavar as mãos ou tomar banho várias vezes ao dia, somar os algarismos das placas dos automóveis que encontra pelo caminho, verificar repetidas vezes se o forno ou o ferro está desligado, checar se as latas de ervilhas estão corretamente empilhadas, se não há um bicho embaixo da cama, se todas as camisas estão guardadas de acordo com uma determinada ordem de cor.

Também há quem se perceba, de repente, invadido por pensamentos desagradáveis ou impróprios que causam angústia, do tipo obsceno dirigido a santos, à própria mãe, a crianças ou filhos. Assim como há quem seja assaltado por dúvidas que paralisam ou obrigam a repetições. Ou quem evite determinadas cores, datas ou lugares, e quem não consiga se desfazer de objetos que não mais têm utilidade, transformando suas casas em depósitos de cacarecos.

A esses pensamentos indesejáveis, chamamos obsessão. Eles são involuntários e reconhecidos, pelo próprio doente, como ilógicos. Mas parecem ter vontade própria. E, aos comportamentos que deles resultam, chamamos compulsão. Eles são irresistíveis e os únicos capazes de proporcionar alívio para o estresse desencadeado pela obsessão.

São os pensamentos obsessivos que sustentam os comportamentos compulsivos. O medo de ter a casa invadida durante a madrugada, por exemplo, pode sustentar a compulsão de se checar várias vezes, na hora de dormir, se as portas e janelas estão trancadas. O doente tranca tudo e se deita. Uma vez deitado, é assaltado pela dúvida e se levanta para checar. Novamente deitado, sente-se tomado por um medo angustiante de não ter tomado todas as precauções e se sente inevitavelmente compelido a se levantar e conferir tudo de novo.

No Transtorno Obsessivo-Compulsivo, essas situações costumam consumir tempo e interferir na rotina da pessoa, trazendo muitos prejuízos. Além disso, podem ocorrer comportamentos que coloquem em risco a vida do próprio paciente, como se pendurar em lugares altos ou tentar passar de um carro para outro em movimento. Do mesmo modo, atitudes que arrisquem a vida de alguém importante, como um filho. Há casos de quem se sinta desconfortável quando próximas a objetos como facas e tesouras, temendo perder o controle e matar uma pessoa querida.

Entretanto, são os problemas físicos decorrentes dos comportamentos desequilibrados que costumam levar essas pessoas à consulta médica, como, por exemplo, sangramento das gengivas decorrente do excesso de escovação e dermatites resultantes de banhos extremamente quentes. Também podem surgir sintomas como cansaço crônico e transtorno de sono e apetite. E não é raro o doente acreditar ter desenvolvido uma grave doença como câncer ou AIDS.

O TOC pode surgir de repente ou de maneira insidiosa. É uma doença grave que exige intervenção médica urgente e o acompanhamento de um psicoterapeuta. E, como tenho dito nesta coluna, o primeiro passo para uma vida normal é a vitória sobre o preconceito de consultar um psiquiatra e fazer uso de remédios controlados. Até sexta-feira !


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