7 de junho de 2007

A contabilidade do desamor

Publicado no Tribuna do Brasil de 12/1/2007

Caderno TB Programa, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Recebi um e-mail engraçado que dizia que mulher não trai, vinga-se. Mas infidelidade só tem graça em piada. Na vida real, sempre traz sofrimento, principalmente para o traído. Os consultórios de psicologia estão cheios de relatos sobre esse tipo de deslealdade. As histórias vão das mais corriqueiras às mais extravagantes. E as formas como as vítimas lidam com o sofrimento são variadas, assim como os mecanismos de defesa adotados. Mas pouco do que já ouvi se compara ao vivido por uma amiga minha.

Essa moça se casou com um namoradinho de adolescência. Acontece que ele, que já era infiel na época de namoro, continuou a ser depois de casados. E vendo que aquela criatura dificilmente mudaria, ela dele se separou. Mas o pavor de ser traída já estava instalado.

A partir daí, sempre que ficava sabendo que um parceiro a traía, ela se vingava, sendo-lhe também infiel. Isso não a impedia de sofrer, mas parecia ajudá-la com o trauma. Depois de um tempo, ela começou a se vingar quando desconfiava do parceiro. Nem precisava mais da certeza, só da presunção. Mas logo ela passou a trair assim que iniciava o relacionamento. Não era preciso sequer desconfiar de deslealdade. E eu atribuía esse comportamento mais à superficialidade das relações.

Até que minha amiga conheceu alguém por quem se apaixonou. Com medo de ser traída, passou a vigiar o namorado. Ela queria saber se ele era infiel e, depois de meses, concluiu que era praticamente um santo. Achei que, finalmente, as coisas dariam certo pra ela no amor. Ela gostava do namorado, o namorado gostava dela e, além disso, era leal. Mas eu estava enganada.

Num belo dia em que nos encontramos, eu lhe perguntei pelo namoro e ela respondeu que tudo estava ótimo. Só que, logo depois, começou a falar animadamente a respeito de um homem com quem também estava saindo. Como eu me mostrasse admirada, explicou que tinha certeza do sentimento e da fidelidade do namorado, mas tinha medo de perder tudo de repente e sofrer. Então, havia decidido trai-lo e ficar com uma espécie de crédito, para o caso de ele vir a aprontar alguma.

Perguntei-lhe como ela se sentia traindo o namorado, de quem dizia gostar tanto. E ela respondeu que não se sentia bem, que sentia pesar a consciência, e que estar com o outro cara nem era lá essas coisas. Mas, de todo jeito, preferia não se arriscar a viver sem os "créditos".

Essa história seria cômica, se não fosse trágica. Acho lamentável uma pessoa chegar a esse ponto, de se deixar controlar pelo outro. Não precisa ser psicólogo pra ver que essa moça precisa de ajuda para, no mínimo, superar a traição do marido. Mas, principalmente, para aprender a ser fiel aos próprios sentimentos.

Assim, se você acredita que fidelidade é indispensável, seja fiel ao seu parceiro. Se, por qualquer motivo, não o conseguir, continue sendo fiel aos seus sentimentos, afastando-se do parceiro ou dizendo-lhe a verdade. Não o engane.

Se perdeu a confiança nele, tente uma boa conversa. Se achar que não dá mais, coloque um fim na relação, busque ajuda se sentir necessidade e vire a página. Mas não se corrompa traindo por desforra. Isso nada lhe trará de bom. E nem leve desconfiança para outros relacionamentos. Cada caso é um caso.

Para ser fiel aos próprios sentimentos, você precisará se conhecer e ser honesto com aquilo que sente, pensa e deseja, não importando o que os outros façam ou digam. Precisará de esforço e coragem. Em contrapartida, estará livre para agir de acordo com seus valores, responsabilizando-se por suas escolhas e decisões. Não é fácil, mas possível. Pense nisso. Até sexta-feira!


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