18 de junho de 2007

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Publicado no Tribuna do Brasil de 15/6/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Na semana passada, escrevi que não podemos mais negar as evidências de que não somos apenas matéria. Relatei o caso de alguém que vem lutando contra um transtorno psiquiátrico apenas com medicação, sem psicoterapia, sem religiosidade, esquecida de que somos, antes de tudo, seres espirituais. Hoje, quero falar a respeito do outro lado dessa mesma moeda, contando uma história diferente, embora sobre o mesmo tema.

Há alguns anos, recebi no consultório uma mulher que vivia um casamento doloroso, com um homem que bebia muito e também usava cocaína, transformando num inferno a própria vida, a da esposa e a das quatro filhas que tinham.

Após uns 16 anos de drama, essa mulher iniciou comigo um processo psicoterapêutico. Logo de cara, identificamos que a história vivida com o marido não era nenhuma novidade para ela, gerada em um lar desajustado que incluía, além de um pai beberrão e infiel, uma mãe permissiva. Assim, ficou também claro que a depressão dela não teve início no casamento, mas na infância roubada.

No entanto, quando expliquei que ela precisava de uma medicação que corrigisse a disfunção química cerebral de que sofria, ela reagiu dizendo que tentaria um tratamento alternativo, já que tomar remédio não era com ela. Além disso, ela possuía um grupo de amigas religiosas que também se manifestaram radicalmente contra, afirmando que esse tipo de medicamento faz mais mal do que bem, que ela precisava era de fé e que, se freqüentasse determinada igreja, logo estaria curada.

Só que, após uns meses, embora se mantivesse firme na terapia e na igreja, os problemas ainda não estavam resolvidos. Ela os enxergava de outra forma, sentindo-se psicologicamente e espiritualmente apoiada. Mas continuava sem forças para dar outro rumo à vida. A verdade é que o corpo não estava conseguindo acompanhar a alma, que ansiava por mudanças, que sentia delas necessidade. E foi aí que ela entregou os pontos, procurando um médico.

Um mês depois, durante a consulta semanal, surge ela animadamente contando que estivera com as amigas e que havia deixado bem claro que sua recuperação nada tinha a ver com Deus, que o milagre havia sido feito por mim, pelo psiquiatra e pelo remédio prescrito. O resultado foi que as outras ficaram escandalizadas, considerando blasfêmia tudo aquilo e odiando todos nós.

Daí iniciei com ela uma discussão a respeito da participação de Deus no bem-estar de que então desfrutava. Quantas pessoas não teriam se envolvido na pesquisa da substância que a estava ajudando a sair da depressão? Quanto tempo os cientistas não teriam se dedicado a esse trabalho? O quanto não teriam precisado ser inteligentes, estudiosos, persistentes? De quanto não teriam precisado abrir mão para seguir em frente?

Enquanto viajamos, descansamos, passeamos pelos shoppings, comemos churrasco à beira da piscina dançando forró, há pessoas trancadas em laboratórios trabalhando. Gente que pouco viaja, pouco descansa, não conhece as tendências da moda e não se bronzeia há muito. Gente incansável, movida pela paixão, por um ideal, que ajuda a salvar vidas. Não seria isso um prodígio? Não seriam essas criaturas uns dos muitos portentos de Deus que mal enxergamos?

As pessoas costumam fantasiar os milagres, esperando feitos espantosos do tipo um raio atirado diretamente do céu. Mas acho que, em verdade, minha paciente havia sido agraciada com um deles, sim. E que está na hora de ampliarmos nossa visão, deixarmos de lado esse olhar ainda infantil, para usufruir de todas essas maravilhas imateriais e materiais que o Criador coloca à nossa disposição. Até sexta-feira!

Um comentário:

Anônimo disse...

Cara Maraci,

Excelente post, principalmente pela reflexão sobre milagres e o movimento da ciência para trazer benefícios a todos nós.

Abraços,

Vera