7 de junho de 2007

Tempo nas DRs

Publicado no Tribuna do Brasil de 13/4/2007

Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Li uma matéria sobre um livro intitulado "Não discuta a relação - como melhorar seu relacionamento sem ter que falar sobre isso", dos terapeutas Patrícia Love e Steven Stosny. Segundo o artigo, a popularizada DR - Discussão de Relação parece não ser a melhor maneira de se resolver dificuldades conjugais.

É verdade que as DRs estão virando obsessão. Antigamente, marido e mulher não conversavam sobre o relacionamento. Com o tempo, isso se tornou possível, embora não freqüente. Aos poucos, maridos e mulheres, pais e filhos, começaram a dialogar. Só que o pessoal está abusando. Há casais que vivem "em estado de DR".

E isso incomoda principalmente os homens. Nem todos, é claro, apenas a esmagadora maioria. Quando a mulher diz "Precisamos conversar", o sujeito se transforma. Com ele acontece algo bem parecido com o que vemos nos filmes dos Power Rangers - na hora da batalha, eles recebem uma armadura que vem do espaço e os torna inatingíveis. O inimigo pode fazer o que quiser porque eles saberão resistir a qualquer ataque.

Isso sem falar nas situações em que marido, mulher e filhos discutem tudo - o relacionamento do casal, o dos filhos e o com os filhos. Há umas três semanas, conversando com uma paciente, mostrei-lhe que a casa dela estava virando um consultório. Ela, o marido e os filhos vinham discutindo tudo o que cada um em separado conversava nas suas respectivas sessões psicoterapêuticas. Eles estavam deixando de ser uma família para ser um "grupo de terapia".

Considero que, em determinadas ocasiões, o melhor que se faz é deixar rolar. Conheço um casal que, após 20 anos de um relacionamento maravilhoso, sem brigas importantes, terminou se desentendendo por uma bobagem. Ele, que já deveria estar nervoso por outros motivos, saiu de casa dizendo que dormiria num hotel e anunciando a separação. Naturalmente, no dia seguinte, ele voltou. Eles se abraçaram, beijaram-se e nem precisaram falar nada sobre o ocorrido.

Claro que alguns debates são inevitáveis e exigem certa formalidade. É preciso que se combine um horário para que se possa, com tempo e tranqüilidade, "pôr as cartas na mesa". Mas, na maior parte dos casos, não há necessidade disso tudo e chega a ser improdutivo proceder dessa forma.

Muitas vezes, valem mais pequenas coisas ditas nas horas de relaxamento a dois, em tom de crítica suave ou até mesmo de gozação. Um dia, a mulher pode dizer ao marido algo assim: "Você fica tão lindo sorrindo! Pena que viva de mau humor". Em outro dia, ela pode falar: "Que sorriso bonito! Pena que, na maior parte do tempo, você está um porre". Noutra ocasião, ela pode dizer: "Sabia que mau humor pode ser sinal de um desequilíbrio químico do cérebro e que há tratamento pra isso?". Essa estratégia costuma ser mais proveitosa do que a de tirar uma tarde pra discutir a rabugice dele.

É lógico que, se as coisas não mudam, deve-se provocar uma DR, lembrando que a forma como dizemos tem mais importância do que o que dizemos. Assim, em lugar de começar a conversa com um: "Não suporto mais tanta rabugice!", tente assim: "Nada me deixa mais feliz do que quando você está de bem com a vida. Mas, esses momentos têm sido raros. Acho que algo precisa ser feito a esse respeito, antes que o problema prejudique seriamente nossa relação. O que você tem a me dizer?".

E, se as DRs não mostrarem resultado, vale procurar ajuda profissional. Não adianta discutir a mesma coisa um monte de vezes. Como diz o velho ditado, "Doido é aquele que acredita que, fazendo sempre do mesmo jeito, pode conseguir um resultado diferente". Até sexta-feira!


Nenhum comentário: