Publicado no Tribuna do Brasil de 2/3/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci
Desde segunda-feira meu telefone não pára. São pessoas querendo marcar consulta, principalmente mulheres atraídas pela proposta do Para Sobreviver a um Grande Amor, grupo de terapia para as que viveram ou estão vivendo um relacionamento amoroso problemático.
Não lembro se foi assim nos outros anos. Mas fiquei intrigada, tentando entender o fenômeno da concentração de ligações sobre o assunto especificamente nesta semana. Tudo bem que, no Brasil, o ano só começa depois do carnaval. Além disso, parece que nada vai acontecer antes da reforma ministerial. Mas, de toda forma, tentar sobreviver a um grande amor não deveria estar atrelado a festas ou mudanças no governo.
Talvez isso tenha a ver com as férias ou com a volta desse período destinado ao descanso, ao lazer, quando nos distanciamos do trabalho e dos estudos para estarmos mais perto dos nossos amigos e familiares. Talvez isso tenha a ver com as férias não terem sido como o imaginado, o que costuma ocorrer quando vivemos um amor a que tentamos sobreviver.
Uma situação tão comum que dá até pra imaginar um script - depois de um ano inteiro de batalha e estresse fora e dentro de casa, é chegada a hora do tão merecido repouso! O casal resolve, então, sair por aí, pensando que, afinal, não há problema que não possa ser superado na Europa, ou em Salvador ou na fazenda daquele amigão. Seguem acreditando que, como na música do Roberto, dali pra frente, tudo vai ser diferente. Mas a vida nem sempre é como a gente quer que seja, insistindo em ser como tem de ser, ignorando nossos desejos, mostrando-se exatamente como não gostaríamos que se mostrasse. E o que vemos pode ser muitíssimo doloroso.
Aí, aquele casal verá se repetirem as dificuldades vividas no restante do ano. Brigarão pelos mesmos motivos ou por motivos novos, mas brigarão. Trocarão ofensas pelos mesmos motivos ou por motivos novos, mas se ofenderão. Chorarão pelos mesmos motivos ou por motivos novos, mas chorarão. Não há paisagem, sol, montanha que vá dar jeito. Tudo o que eles queriam deixar pra trás, esquecer durante as férias, os acompanhará, como uma legião de fantasmas. E surgirá aquela vontade de desistir de tudo e voltar pra casa.
Ou então eles viverão dias de calmaria, que deixarão o sentimento de "finalmente nos entendemos". Mas a volta à realidade pode se cruel. E os problemas podem recomeçar ainda no trajeto, ou ao se avistar a casa, ou com a primeira pergunta, que pode dar margem a um "tava demorando pra você começar". Um verdadeiro banho de água fria na esperança e eles se sentirão finalmente esmagados pela vida.
Está na hora de dar adeus às ilusões. Férias não resolvem graves problemas conjugais. Se os conflitos não forem intensos, houver amor e vontade de acertar os pontos, pode-se aproveitar a pausa, os momentos de relaxamento, para conversas francas e produtivas. Mas, se não for assim, a maior proximidade pode agravar a situação, transformando o período num inferno. Nem mesmo uma viagem ao paradisíaco Taiti é capaz de recuperar um relacionamento marcado pelo desrespeito, pelo desamor. E o resultado é esse - pessoas, em especial mulheres, magoadas, desiludidas com mais um fracasso, procurando desesperadamente por ajuda, fazendo exatamente aquilo que pensaram tantas vezes fazer durante o ano e não fizeram.
Mas, se esse é o seu caso, não desanime. Pare de se lamentar e procure, o quanto antes, a ajuda de que necessita. Sempre há, pelo menos, uma lição a se tirar da dificuldade. Essas últimas férias podem ter sido péssimas. Mas outras virão. Comece a prepará-las desde já. Até sexta-feira !
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