7 de junho de 2007

De dentro para fora, de fora para dentro

Publicado no Tribuna do Brasil de 6/4/2007

Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Noutro dia, eu usava uma blusa bem vermelha com pequenas margaridas, muito viva, alegre. E, ao encontrar uma colega de trabalho, ela me disse o quanto eu havia ficado bem com aquelas cores. Disse que também ela gosta de usar vermelho, mas, pra isso, precisa estar com um alto astral.


A conversa foi bem rápida. Entretanto, eu não poderia deixar de sugerir que ela usasse vermelho não apenas quando estivesse muito bem, mas também quando estivesse se sentindo mal porque ela demonstrou já ter estabelecido uma associação entre essa cor e o alto astral. Imediatamente ela concordou comigo. E percebi que minha observação a fez pensar no assunto.


Sabemos que o nosso exterior, de uma forma ou de outra, reflete o que vai no nosso interior. Se estamos felizes, ficamos mais bonitos em todos os sentidos - sorrimos mais; temos mais paciência e compaixão; nossa pele tem uma aparência melhor, assim como nossos cabelos; nossa postura e movimentação corporal têm harmonia. Se não estamos bem, nossa fisionomia dá as dicas - surgem as rugas de preocupação; podemos desenvolver dermatites; ficamos irritadiços, desanimados; perdemos o brilho.


Daí termos tendência a acreditar que precisamos estar bem por dentro para ficarmos bem por fora. Temos a sensação de que o caminho inverso criaria uma situação artificial, que não se sustentaria por muito tempo. Enquanto não estivermos felizes, evitaremos roupas alegres, dar um bom corte no cabelo, ir a festas, estrear um terno novo, usar batom ou enormes argolas.


É claro que, às vezes, ficamos tão mal que perdemos as forças e a coragem, que nem sequer conseguimos sair da cama. Nesses casos, é preciso que procuremos ajuda profissional. Mas, muitas vezes, algumas providências simples podem nos melhorar.


Imagine que você é responsável por dirigir um filme. Há uma cena com alguém amargando uma tremenda decepção amorosa. Como seria o cenário? Possivelmente, um quarto abafado, pouco iluminado. Como seria o figurino do personagem? Pesado, escuro, sem adereços. Tudo teria a ver com o momento doloroso. E, certamente, isso ajudaria o ator a entrar no clima. Agora, imagine como seria dirigir a mesma cena num ambiente alegre, cheio de luz e movimento, em que o personagem estivesse usando roupas leves, coloridas, cercado de gente falante, entusiasmada. Estranho, não? E, certamente, desse jeito, seria difícil para o ator entrar no clima.


Imagine você muito, muito triste, no fim de uma tarde chuvosa de inverno, só em casa, ouvindo apenas o tic-tac do relógio ou Ronda, do Paulo Vanzolini - "De noite eu rondo a cidade a te procurar, sem encontrar. No meio de olhares espio em todos os bares - você não está. Volto pra casa abatida, desencantada da vida. O sonho alegria me dá - nele você está..."


Agora, imagine você muito, muito triste, numa manhã ensolarada de primavera, em um parque aquático, com os amigos, ouvindo Rindo à toa, do Falamansa - "... Há há há há há. Mas, eu tô rindo à toa. Não que a vida seja assim tão boa, mas um sorriso ajuda a melhorar. Ah ah e cantando assim parece que o tempo voa. Quanto mais triste mais bonito soa. Eu agradeço por poder cantar lalaia laia laia ie!!!"


Assim, se você estiver mal e não conseguir melhorar de dentro pra fora, tente de fora pra dentro. E insista. Se estiver triste, procure se portar, se vestir, agir como se estivesse ótimo. Nada de se entregar. Lembre-se de Serra do Luar, do paulista Walter Franco: "...Viver é afinar o instrumento de dentro pra fora, de fora pra dentro, a toda hora, a todo momento, de dentro pra fora, de fora pra dentro". Até sexta-feira!


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