Publicado no Tribuna do Brasil de 23/2/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci
Todos querem descobrir a receita para a felicidade no amor. Lembro que, quando criança, pensava que bastaria que os dois se amassem e o homem fosse uns três anos mais velho que a mulher. Santa simplificação! Com os anos, passei a acreditar que o amor e os interesses em comum eram o suficiente. Mas a vida me mostrou que não há uma fórmula. Ao contrário, às vezes precisamos quebrar paradigmas para sermos felizes.
E essa teoria ganhou mais força em mim com o que me foi trazido pelo amigo Jorge Lúcio. Ele me contou a história de Zuleica, jovem que, aos 18 anos, casou-se com um namorado que ela amava e que a deixou viúva dois anos depois, logo após o nascimento do único filho do casal. Sozinha, contando apenas com a mãe, uma mulher também só, nossa heroína passou a trabalhar para se sustentar e criar o filho. Foi quando conheceu um jornalista com quem iniciou um romance arrebatador. Só que o rapaz era do tipo nada disposto a algo sério, muito menos a encarar alguém como ela, já com tantas responsabilidades. E, embora perdidamente apaixonada, ela via que aquele relacionamento não tinha futuro.
Até que, um dia, Zuleica, que trabalhava numa empresa controlada por militares, sofreu um desmaio e foi socorrida por um general uns 40 anos mais velho que ela, que já a conhecia de vista, embora ela disso não soubesse. Ele, viúvo com duas filhas adultas, morava sozinho e não demorou a começar a cortejá-la, como ele mesmo diria. Claro que a paixão pelo jornalista ainda fervia dentro dela. Mas as atenções, as gentilezas, o carinho, a dedicação do general eram tão sinceras que ela rompeu a antiga aventura e deu uma chance ao novo romance. Casaram-se.
A partir daí, a vida dela mudou. A garota simples que lutava pelo pão de cada dia passou a uma vida confortável, conheceu outras cidades, outros países, e até morou no exterior. Cresceu intelectualmente, adquiriu traquejo social, amadureceu com as experiências vividas. Além disso, seu filho ganhou um pai e amigo verdadeiro. Foram 25 anos de felicidade. Nesse tempo, os laços de amor foram construídos, graças ao respeito que havia entre os dois e à enorme admiração que ela tinha por ele. E essa união só chegou ao fim com a morte dele, perto dos 90 anos.
Muito alegre e desembaraçada, Zuleica, hoje uma senhora na melhor idade, diz ter se casado com o general por ser uma mulher prática. Naquele momento, ele representava tudo do que ela mais necessitava - segurança financeira, apoio para ela e o filho, companheirismo, carinho, atenção. Só que a convivência com aquele homem tão íntegro, inteligente e generoso a fez amá-lo profundamente.
Essa história me faz pensar que muitas vezes nos prendemos a padrões e isso termina nos atrapalhando. Desejando um companheiro ou companheira, tendemos a procurar alguém de mesma classe social, mesma faixa etária, mesma religião, mesmo grau de instrução, mesma raça, interesses semelhantes. Assim, as chances podem até ser maiores, uma vez que os pontos de atrito tendem a diminuir. Mas não há garantias. Não há receita.
Se Zuleica tivesse se prendido às convenções, que na época eram muitas, não teria se envolvido com um homem de outra formação, outra classe social, outro grau de instrução e com idade para ser avô dela. E se ele tivesse se preocupado com a opinião alheia e as inevitáveis desconfianças, não teria sido tão feliz.
É preciso que saibamos olhar além para não deixar, por bobagens, a sorte passar. Aqui vale o antigo provérbio: "O cavalo encilhado, quando passa na porta, ou a gente pula nele ou não sabe quando, ou se, ele voltará a passar". Até sexta-feira !
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