7 de junho de 2007

Fugindo de Brasília

Publicado no Tribuna do Brasil de 4/5/2007

Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Acho Brasília linda, diferente. Adoro esta cidade! E dizem que quem bebe da nossa água não vai embora e, se vai, morre de saudades. Mesmo assim, volta e meia, ouço alguém falando em nos deixar. Pessoas que, aqui, até têm família, casa e emprego, mas que, de repente, querem partir de qualquer jeito.

Gente vivendo uma incrível aflição para mudar, sonhando com algo novo na serra ou à beira-mar, querendo dar um tempo também do companheiro ou companheira, das amizades, dos familiares, da casa onde mora. Parece que a vida parou e que só voltará a fluir em outra cidade.

Imagino que isso também aconteça em outros lugares, essa necessidade premente de partir, virar a página, recomeçar em outro canto. Mas, em Brasília, acho que ocorre mais. E, graças a essa agonia, muita gente termina metendo os pés pelas mãos, indo embora e depois se arrependendo, terminando por voltar em condições bem menos favoráveis do que as desfrutadas antes da mudança, pra começar tudo de novo, cheia de arrependimento.

O que observo é que, na maioria dos casos, são pessoas que estão vivendo uma desilusão amorosa. Ou já sofreram tantas delas que acreditam que só mesmo sumindo, indo pra bem longe, poderão ter paz. Há quem acredite que, numa nova cidade, poderão seguir quase que anonimamente. Há quem, inclusive, mude com o firme propósito de nunca mais voltar a se relacionar com alguém, dedicando a nova vida ao trabalho, aos estudos, à criação dos filhos.

Essas pessoas me fazem lembrar daquele garotinho do filme O Sexto Sentido. Assustado, com medo dos fantasmas que o perseguiam, ele tentava deles se esconder a todo custo, até mesmo montando uma barraca de camping dentro do próprio quarto, com uma placa, na porta, do tipo "Mantenha distância", na vã tentativa de proibir a entrada daqueles seres apavorantes.

Mas quem assistia ao filme sabia que aquilo era inútil, divertindo-se com a forma ingênua como o menininho se comportava, as providências que ele tomava pra se proteger. Fantasmas não desaparecem assim, tão facilmente. Eles atravessam o tempo, o espaço, as portas e as paredes. Se são realmente nossos, não adianta querermos nos livrar deles na marra.

Assim, se você está vivendo essa situação, em crise, numa tremenda angústia, acreditando que só indo embora poderá ser feliz, acho melhor parar um pouco pra pensar sobre o assunto e até discuti-lo com alguém de confiança, um amigo ou terapeuta, antes de se aventurar, pra não se arrepender depois. Porque os fantasmas têm essa capacidade - a de nos seguir até mesmo se mudarmos de país.

Se você sofreu uma grande decepção no amor ou uma série delas, procure entender o que está acontecendo na sua vida. Procure compreender de que forma e com que intensidade você, mesmo sem perceber, contribuiu para essas crises. Nada acontece por acaso, nem sem o nosso consentimento, mesmo que dele não tenhamos consciência.

No filme, o garotinho tentou fugir o mais que pôde, sem sucesso. E ele só conseguiu ter paz quando criou coragem pra encarar os fantasmas e perguntar o que eles queriam com aquelas aparições. Talvez esteja na hora de você fazer o mesmo - encarar o que existe de mais assustador na sua vida, de forma corajosa, ou seja, com medo, mas com firmeza.

Nessa empreitada, coloque-se por inteiro e não tenha vergonha de pedir ajuda, se você se sentir fraquejar. E lembre-se de rezar, de orar muito, de pedir socorro ao Ser Superior de sua crença. Não há fantasma que resista a uma demonstração de fé verdadeira. Até sexta-feira !


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