7 de junho de 2007

Profissão: Do Lar

Publicado no Tribuna do Brasil de 19/1/2007

Caderno TB Programa, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Período de férias. Uns saindo, outros voltando. Os que saem vão cansados, mas felizes. Os que voltam estão descansados, mas já sonhando com a próxima folga. Há os que viajaram para rever a terra natal. Há os que aproveitaram para conhecer novos lugares. Há os que permaneceram na cidade, distantes apenas das atividades profissionais.

Foi o que aconteceu a Teresa Cristina. Após mais um ano atuando como profissional, esposa, mãe e dona-de-casa, ela estava merecendo uma pausa. Impedida de viajar, deu folga apenas à executiva que é, restando-lhe as demais atividades de sempre.

Num primeiro momento, poderia parecer que ela estava jogando fora as férias. Mas isso não aconteceu. Uma vez que as filhas, já adultas, exigem muito pouco; que a casa está bem estruturada e organizada; e que o marido é um grande companheiro, ela se deu ao luxo de fazer coisas que fogem completamente ao seu dia-a-dia, como caminhar no parque, ir ao cinema, sair pra bater papo com as amigas, tirar um cochilo depois do almoço, ver TV e até mesmo um check-up médico.

Quinze dias vivendo assim foram suficientes para Cris voltar ao trabalho renovada, embora disposta a descobrir: "De onde veio a idéia de que não trabalhar fora de casa é frustrante? Quem disse que a gente tem de estar no mercado de trabalho? Vida boa é a de dondoca." E não demorou para que eu me juntasse a ela, fazendo coro no "Sorte tinham as mulheres de antigamente, que podiam ficar em casa, só cuidando dos filhos, fazendo tortas e se preocupando com amenidades."

Claro que não é por aí. E nós duas sabemos bem disso. Foi apenas um desabafo. Mas que mulher nunca se sentiu assim? Atire a primeira pedra aquela que jamais desejou, ao menos por cinco minutos, ser "do lar" e, fora de casa, ter, no máximo, um hobby. Ser mulher tem dado muito trabalho. É cansativo e desgastante construir uma carreira e, simultaneamente, ser esposa e amante maravilhosa, e mãe irreparável, além de administrar com perfeição uma casa. As conquistas feministas são importantíssimas. Mas estamos assoberbadas. Oscilamos entre querer ser "do lar" e ser a Mulher Maravilha. Quando estamos cansadas ou entediadas, sonhamos com uma vida oposta à que temos.

Tudo isso porque se multiplicaram as funções, mas as responsabilidades não foram divididas ou foram mal repartidas com parceiros e filhos. Sem perceber, entramos na pilha da sociedade, exigindo, de nós mesmas, o impossível - onipresença mais perfeição. E essa pressão é o diabo.

Quem foi que disse que mulher tem de estar no mercado de trabalho? Ou que ela tem de casar? Ou que ela tem de ser mãe? Ou que ela tem de acumular tudo isso e ainda se manter jovem e linda? O que deve determinar o que fará da vida uma mulher é a necessidade ou a vontade dela, não a pressão da sociedade ou dos modismos. Precisamos decidir que papéis queremos desempenhar, como e quando. E, se optarmos por carreira, marido e filhos, ao mesmo tempo, necessitaremos de um parceiro com quem possamos realmente contar, inclusive no lar, como o da Cris.

Enquanto escrevo esta crônica, recebo um lindo e-mail, com um encantador fundo musical, sobre as diferentes rotinas de homens e mulheres. No final, o recado de que suportamos tantas responsabilidades, desdobramo-nos dessa forma louca e somos tão maravilhosas porque somos mais fortes e feitas para resistir. É desse tipo de mensagem que tenho medo. Essas idéias, embora sedutoras, são armadilhas perigosas, que devemos ao máximo evitar. Ao divulgá-las, estamos, sem perceber, cavando nossa própria sepultura. Deixemos as heroínas onde elas devem ficar, na ficção. Até sexta-feira!


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