7 de junho de 2007

O fantasma da decepção amorosa

Publicado no Tribuna do Brasil de 2/2/2007

Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Noutro dia, o escritor Ignácio de Loyola Brandão disse na TV que costuma andar a pé, de ônibus ou de táxi, ocasião em que tem contato com as diferentes pessoas que inspiram suas crônicas. E também eu tenho aproveitado os encontros que a vida me proporciona para deles tirar os temas das nossas conversas de sexta-feira.

Um desses aconteceu na última semana. Estava indo pra casa, na companhia de uns parceiros de trabalho, quando percebi que o colega que dirigia o carro seguia mais calado do que o habitual. Brincando, perguntei se ele estava cochilando ao volante. E ele, dando um frágil sorriso, respondeu que tentava bolar uma forma de homenagear a namorada, que aniversariava naquele dia.

Logo alguém sugeriu uma declaração de amor. Mas ele disse que a comemoração não deveria incluir nada desse tipo. Não que ele fosse contra confissões apaixonadas. Em outros tempos, mandaria flores, levaria a namorada para jantar e lhe diria palavras bonitas. Mas, hoje, sentia-se bloqueado para manifestações românticas. Isso em conseqüência de uma grande decepção.

Não sei se a contrariedade havia sido com a aniversariante. Pareceu-me que ele se referia a um relacionamento passado. Mas fiquei comovida ao ver um homem ainda jovem confessar, com certa tristeza e sem nenhum pudor, já ter sido vítima de um desgosto de amor tão marcante. E fiquei encantada ao ouvi-lo dizer que lhe fazia falta ser poético, sentir-se enlevado, arrebatado novamente.

Como é maravilhoso estar apaixonado, magicamente seduzido! Quando estamos amando, enxergamos um mundo florido, vibrante, cheio de cores. Quando amamos, ficamos alegres, felizes. A vida torna-se mais bela. Mas as coisas nem sempre são como gostaríamos que fossem. Elas são como têm de ser.

O que era um sonho pode se transformar num pesadelo. Basta que a pessoa amada não corresponda de jeito nenhum ou da forma como idealizamos. Parece que o mundo desaba. Isso sem falar naquelas situações em que somos maltratados e nos decepcionamos, às vezes profundamente. Como seria fantástico se nunca sofrêssemos por amor, se, uma vez apaixonados, só nos ocupássemos de amar mais e mais, sem nos preocuparmos com o fantasma das decepções! Porque há momentos em que nos desencantamos tanto que parece que perdemos o brilho para sempre.

E a nossa conversa seguia por aí, quando o protagonista desta história saiu-se com a seguinte declaração: "Mas isso não quer dizer que eu jamais serei como antes. Espero que, um dia, volte em mim o romantismo." Pode ser assim. Um dia, alguém ou algum fato desperta em nós os velhos sentimentos. Mas e se isso não ocorrer? E se demorar? Será que podemos nos dar ao luxo de ficar de braços cruzados esperando? Acho que essa alternativa não deve ser considerada. Devemos e podemos nos movimentar para nos livrarmos, o quanto antes, dessa assombração horrenda.

Então, se você está desapontado, incapaz de iniciar ou manter um relacionamento; se, mesmo apaixonado, não consegue demonstrar seus sentimentos, por amargura ou medo; ou se as decepções estão se tornando freqüentes, procure ajuda profissional. Não espere a felicidade cair do céu. Você pode estar perdendo oportunidades e pessoas ímpares, jogando fora um amor verdadeiro. Isso não o protegerá de novas frustrações, mas ajudará a entender esses processos e a se posicionar de forma a não se abater tanto ou por tanto tempo.

Feliz aquele que ama e, amando, consegue viver e expressar esse amor, dele não sentindo medo ou vergonha e dele nunca se arrependendo, mesmo não sendo correspondido. Até sexta-feira!


Um comentário:

Anônimo disse...

Só quero dizer que é um grande blog você tem aqui! Eu estive por aí por bastante tempo, mas finalmente decidiu mostrar o meu apreço pelo seu trabalho! Polegares para cima e mantê-lo ir!