Publicado no Tribuna do Brasil de 20/4/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci
Você conhece alguém que muda de humor como quem troca de roupa? Que, num momento, se mostra vibrante e cheio de energia para, de repente, parecer afundado num poço de depressão? Antes de rotular essa criatura de Deus de "difícil", saiba que você pode estar lidando com alguém que sofre de um distúrbio denominado Transtorno Bipolar de Humor - TBH.
Conhecida no passado como Psicose Maníaco-Depressiva, essa doença começa em geral na adolescência ou no início da fase adulta, embora possa também se manifestar na infância. O que caracteriza o TBH é a oscilação de humor, que alterna entre a depressão, ou hipomania, e a euforia, ou mania. E o que mais prejudica o tratamento é a demora em se buscar ajuda médica.
Quando deprimida, a pessoa mostra-se triste, apática, medrosa, pessimista, sem energia. Alterações do sono e do apetite são comuns. Podem surgir pensamentos de morte e acontecer tentativas de suicídio. Muitas vezes, nessa fase, ela é tida como preguiçosa, sendo criticada e discriminada, perdendo importantes oportunidades.
Quando eufórica, mostra-se excessivamente alegre e autoconfiante, como se detentora de super poderes. Agitada, apresenta dificuldades para dormir e costuma falar muito ou rápido demais. O comportamento social tende a se tornar desinibido, inclusive com aumento da libido. Além disso, pode se envolver em gastos financeiros desnecessários e até em situações que coloquem sua vida ou reputação em risco. Também são freqüentes períodos de irritação e explosões de raiva. Muitas vezes, nessa fase, a pessoa é vista como usuária de drogas.
Quando em depressão, pode procurar o médico ou se deixar levar à consulta por familiares. Mas, se em euforia, não se reconhecerá doente, recusando o tratamento. Há quem fique dias, semanas e até meses numa fase para, de repente, passar à outra, podendo haver um período em que a pessoa se porta de forma absolutamente normal. Parece que são três pessoas em uma - uma depressiva, uma saudável e uma eufórica.
O TBH pode se apresentar em diferentes graus. Quando leve, é chamado ciclotimia. Quando grave, pode incluir alucinações, levando a pessoa a se comportar como psicótica, o que ela não é. De qualquer forma, a vida dela sofre prejuízos, em função dos relacionamentos pessoais e sociais, que se tornam difíceis, e dos projetos, que podem ser bruscamente alterados ou inexplicavelmente abandonados.
O TBH ainda não tem cura. Mas, a partir do momento em que o tratamento certo é iniciado, a pessoa volta a levar uma vida normal, sem dar pistas de ser portadora do transtorno. E o primeiro passo para isso é a vitória sobre o preconceito que impede alguém de, mesmo muito doente, consultar um psiquiatra e fazer uso de remédios controlados. Nada deve se sobrepor à busca de ajuda profissional.
Se você se interessa por esse assunto, sugiro a leitura da extraordinária autobiografia Uma mente inquieta, escrita pela psiquiatra americana Kay Redfield Jamison, especialista em transtornos mentais e, ao mesmo tempo, portadora do TBH, que relata os anos de sofrimento intenso e os prejuízos sofridos por se recusar a aceitar a própria condição e se submeter ao tratamento.
Se preferir um bom filme, sugiro assistir a Mr. Jones, em que Richard Gere, charmosíssimo e imbatível, interpreta um homem inteligente e sensível que sofre de Transtorno Bipolar de Humor. Até sexta-feira !
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