coluna A Psicologia e o Dinheiro
Desde a estréia desta coluna, tenho procurado trazer humor para os textos. Acho que, nas primeiras edições, até consegui. Só que manter esse espírito está cada vez mais difícil porque as notícias da área têm estado de lascar. Depois do investment grade, não surgiu nada muito animador ou digno de grandes comemorações. E não dá pra ficar imune, por mais tentemos, a essa avalanche de desastres. Isso é facilmente verificável nas ruas e venho observando o fenômeno também no consultório.
Quase todas as pessoas que me procuram para psicoterapia têm depressão crônica. E isso tem uma explicação que pode ser considerada simplista, mas nem por isso deixa de ser verdadeira. Em primeiro lugar, porque o sofrimento dessas pessoas não é recente e a depressão é uma doença progressiva. Infelizmente, relutamos tanto a pedir ajuda que, quando o fazemos, a situação já está crítica. Em segundo lugar, porque a depressão está tão comum que algumas instituições já a consideram um problema de saúde pública.
É claro que esses pacientes querem resolver questões particulares - “O maior problema do mundo é sempre o nosso”. Mas, há algum tempo, eles também têm se queixado dos problemas sociais. Às dificuldades íntimas, somam-se as enfrentadas por milhões de brasileiros, como a fome, a morte de bebezinhos, a falta de segurança, o trabalho escravo, o analfabetismo, a corrupção desenfreada, a falta de emprego, a miséria, a prostituição infantil, a desalentadora impunidade.
Assim, sintomas como tristeza, pessimismo, desesperança, cansaço físico e mental, sentimento de culpa, crises de choro, falhas de memória, dificuldade para tomar decisões, falta de concentração, alterações do apetite, do sono ou do desejo sexual, irritabilidade ou impaciência, vontade de sumir ou de morrer, típicos da depressão, são agravados pelos problemas do mundo em geral e do nosso país em particular.
Há gente que não mais consegue ler jornal ou assisti-los na TV. Todos os dias, lá estão notícias sobre crimes bárbaros, crise financeira, desvio de verbas públicas, corrupção, abuso de poder, acidentes violentos de trânsito, seqüestros, descaso das autoridades, tráfico de gente, de armas, de drogas. E percebemos que muito poderia ser evitado se houvesse melhor distribuição de renda e se milhões de Reais que pagamos a título de impostos, que deveriam ser direcionados para melhorar a vida de todos os brasileiros, não fossem desviados para os jatinhos, as lanchas, o scotch e o caviar de alguns, que por aí desfilam, deixando-nos a ver navios, no mau sentido, é claro.
E mesmo quando surgem boas novas como a operação Satiagraha, logo pipocam notícias como a da soltura de criminosos conhecidos, a do pedido para que o juiz Fausto de Sanctis seja investigado, a do envolvimento, enfim, de autoridades do Executivo, do Legislativo, do Judiciário e até da mídia, ou seja, dos nossos quatro poderes, numa montanha de bandalheira. Desse jeito, não há quem não se deprima.
Mas, o que mais me preocupa é que a depressão, além dos sintomas já mencionados, traz um que considero o pior de todos – o medo paralisante, que nos impede de fazer o que precisa ser feito para salvar a nossa pele, a dos que nos são caros e a daqueles que estão doentes demais para se proteger. Que as forças que regem o Universo nos livrem desse flagelo maior! Valeu, irmã! Até sábado, leitores!
Quem quiser saber mais sobre depressão, diagnóstico e tratamento, encontrará, neste blog, os textos O GÊNIO E A DOR e DEPRESSÃO E MEDO.
Maraci Sant'Ana