11 de agosto de 2008

Devendo até a alma

Publicado em 21/6/2008, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes, coluna A Psicologia e o Dinheiro

O Fantástico do último domingo exibiu a matéria Quem deve mais – o homem ou a mulher?, que contou com a participação de três casais. Da entrevista, as seguintes declarações merecem destaque: “Acho que não tem coisa mais prazerosa do que comprar”, disse a assistente de vendas Isabel; “Quando eu vou a uma loja, eu vou lá e compro quatro ou cinco camisas de uma vez. É vício”, declarou o empresário José; “Eu acho que cabeleireiro é terapia”, afirmou a jornalista Núbia.

Se o tema entra em pauta quando menos se espera, quanto mais em uma época como esta, em que a inflação sopra seu bafo em nossos cangotes! E a tal matéria deixa claros alguns aspectos que preocupam, ou deveriam preocupar, independentemente da crise que acena para nós no melhor estilo Schwarzenegger “I’ll be back”. É ótimo querer e poder comprar. Mas qualquer pessoa em seu perfeito juízo consegue perceber que há alguma coisa errada com essas três figuras.

Muita gente gasta desnecessariamente, comete pequenas “loucuras”. Essas pessoas são estimuladas pela estabilidade da economia, pelo crédito fácil. São atraídas por alguns produtos ou serviços, pelas freqüentes “liquidações”, pelo modismo, pelo apelo do marketing, pela idéia de que precisam conquistar ou manter certo status. O resultado desses impulsos pode ir do arrependimento imediato à destruição de relacionamentos e famílias inteiras, passando por armários repletos de mercadorias que nem sequer sairão da embalagem.

Na matéria, um desanimado Mário, marido da jornalista Núbia, diz: “Eu gasto R$ 15 para cortar o cabelo em dois meses. Ela me gasta R$ 100 a R$ 150 por semana. Não dá assim. Fica difícil. E, neste momento, quero me solidarizar com ele – seiscentos reais, por mês, só com o cabelo? Ver no cabeleireiro um terapeuta? Embora muitos achem engraçada essa situação, ela é, em verdade, bastante séria e um importante sinal de alerta porque a coisa pode ficar ainda mais complicada. Quer saber por quê?

Porque existem também os compulsivos, gente que precisa consumir para se sentir bem, pessoas que não têm limite e que destroem a própria vida e a de quem as cerca, contraindo dívidas às vezes impagáveis. Para essas pessoas, as compras são antecedidas de um desejo incontrolável; acompanhadas de um sentimento de alívio, poder e felicidade; e seguidas de culpa e remorso. Esse mal é chamado oneomania e exige intervenção medicamentosa e psicoterápica, assim como outras dependências como a de álcool e demais drogas, de jogo, de sexo, de comida.

É lamentável que um assunto tão grave seja costumeiramente tratado como piada. Quem é ou tem um devedor compulsivo na família sabe exatamente que isso não tem a menor graça. Então, se você quiser saber mais sobre o assunto, poderá visitar os sites www.devedoresanonimos-rj.org; www.adroga.casadia.org; e www.simplicidadevoluntaria.com.

E vale também conhecer o Transtorno Bipolar de Humor. Muitos desses consumidores sofrem de TBH. No endereço http://maracisantana.blogspot.com/2007/06/bipolando.html, você encontrará um texto intitulado Bipolando. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!

Maraci Sant'Ana

Nenhum comentário: