Série "O Dinheiro e os Relacionamentos" - Parte 11
Publicado em 21/2/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro
coluna A Psicologia e o Dinheiro
Dezesseis de fevereiro de 2009 jamais deixará minha lembrança. Nesse dia, saiu o resultado do primeiro vestibular do ano para a Universidade de Brasília (UnB) e lá estava, na lista, o nome de meu filho, Igor, aprovado para Matemática. Foi uma felicidade muito maior até do que imaginei que sentiria. Não sei dizer se fiquei tão feliz quanto o novo universitário, mas certamente comemorei muito mais. Enquanto ele se limitava a receber os cumprimentos dos amigos, eu corria a telefonar e enviar mensagem a metade do mundo. Só mesmo uma mãe que viveu essa alegria pode entender tanta agitação.
E também me surpreendi com a reação das pessoas. Os cumprimentos não eram só para ele, mas também pra mim. E todos faziam os mesmos comentários, ressaltando o prestígio da UnB, que se estende aos que lá estudam ou se formaram, e a alegria de se ter um filho numa das melhores instituições de ensino superior do Brasil que, como se isso já não bastasse, ainda é pública, uma enorme tranquilidade para os alunos e, principalmente, para os pais desses alunos.
Quando pensamos em um filho numa universidade, é natural que venham à nossa mente as oportunidades que um curso superior lhe trará sob o aspecto do mercado de trabalho e sucesso financeiro, do conforto de que ele e a família que vier a formar poderão usufruir, do prestígio social que mais portas lhe abrirá. Claro que tudo isso é importante, mas é pouco para qualquer ser humano, principalmente se ele foi agraciado com um privilégio tão grande num país de tantas desigualdades sociais como o nosso.
Porque a UnB é muito mais do que uma universidade de excelência cercada de prêmios e menções honrosas. É um dos símbolos da capital federal. E não apenas por sua preocupação em produzir, integrar e divulgar conhecimento, mas pelo compromisso de formar cidadãos éticos, socialmente responsáveis, atentos ao desenvolvimento sustentável, ao respeito à diversidade, à liberdade intelectual, à preservação e à valorização da vida.
Porque a UnB é muito mais do que uma instituição de quase meio século de uma existência efervescente, que começou com o sonho do antropólogo Darcy Ribeiro. Ela é resultado do esforço de gente do naipe do arquiteto Oscar Niemeyer; do artista plástico Athos Bulcão; dos educadores Anísio Teixeira e Cristovam Buarque; dos estudantes Honestino Guimarães, que faz parte da lista dos desaparecidos políticos, e Waldemar Alves, baleado na cabeça num confronto com a ditadura militar; dos pedreiros Expedito Xavier Gomes e Gedelmar Marques, que morreram soterrados em um acidente durante a construção.
Porque a UnB é uma sobrevivente que suportou com firmeza diversas invasões por policiais militares e pelo Exército; o pedido coletivo de demissão de 1965, em que 209 professores e instrutores protestaram contra a repressão; as armas, a destruição e as prisões; a luta dos próprios alunos contra a má qualidade do ensino e a falta de infraestrutura; os protestos que, recentemente, derrubaram um reitor acusado de improbidade administrativa. É uma verdadeira fênix, que representa a esperança e a continuidade da vida após a morte, a capacidade de renascer das próprias cinzas.
Foi por tudo isso que, ao cumprimentar meu filho naquela tarde tão feliz, eu lhe disse que procure, nessa nova fase de sua vida, não apenas sucesso profissional, dinheiro, prestígio, mas algo que está muito além disso tudo; que, na qualidade de aluno, ele não se restrinja a receber o conhecimento, mas a conquistá-lo; que não se limite ao que pode lhe trazer o uso do cérebro, mas também o do coração; que busque o crescimento intelectual, mas, acima dele, o moral; que aproveite a convivência com os colegas para fazer grandes amizades porque com muitos ele conviverá pelo resto da vida e alguns o acompanharão tal qual irmãos de sangue; e que aproveite ao máximo os ensinamentos dos professores porque alguns merecerão dele, para sempre, o tratamento de mestre.
E, ao olhar bem dentro daqueles grandes olhos castanhos, eu lhe pedi que se comprometa a sempre usar o talento que possui e o conhecimento que certamente adquirirá em favor de todos com quem se encontrar de uma forma ou de outra; que, deixando de lado o egoísmo que ainda nos empobrece, coloque-se à disposição do Universo para fazer o possível e o impossível em favor dos necessitados, dos desfavorecidos, dos que o cercam, da Humanidade.
Porque, mais do que de profissionais inteligentes e preparados, precisamos de gente de verdade, com os pés na terra e os olhos voltados para o céu; de comprometimento; de seres humanos que entendam que as oportunidades que são dadas a alguns são resultado do suor de muitos, de todos nós que pagamos impostos desejosos de que eles sejam empregados da melhor maneira, de pessoas que jamais pisarão o campus, de milhões de analfabetos funcionais, de brasileiros que morrerão sem ter aprendido a ler.
Assim, o que desejo, de coração, é que não apenas meu filho, mas todos os que habitam as universidades, tenham sempre em mente que os poderes de que realmente necessitamos, os que fazem a diferença, os que nos levam muito além dos nossos sonhos mais fantásticos, são os que estão mergulhados nas profundezas das nossas almas.
E, a essas criaturinhas de Deus, deixo as palavras de Chico Xavier que, no poema Amorosamente, disse que um pequeno grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e transformar qualquer coisa, pois a vida é construída nos sonhos e concretizada no amor! Valeu, Chico! Valeu, Igor, filho amado!
E também me surpreendi com a reação das pessoas. Os cumprimentos não eram só para ele, mas também pra mim. E todos faziam os mesmos comentários, ressaltando o prestígio da UnB, que se estende aos que lá estudam ou se formaram, e a alegria de se ter um filho numa das melhores instituições de ensino superior do Brasil que, como se isso já não bastasse, ainda é pública, uma enorme tranquilidade para os alunos e, principalmente, para os pais desses alunos.
Quando pensamos em um filho numa universidade, é natural que venham à nossa mente as oportunidades que um curso superior lhe trará sob o aspecto do mercado de trabalho e sucesso financeiro, do conforto de que ele e a família que vier a formar poderão usufruir, do prestígio social que mais portas lhe abrirá. Claro que tudo isso é importante, mas é pouco para qualquer ser humano, principalmente se ele foi agraciado com um privilégio tão grande num país de tantas desigualdades sociais como o nosso.
Porque a UnB é muito mais do que uma universidade de excelência cercada de prêmios e menções honrosas. É um dos símbolos da capital federal. E não apenas por sua preocupação em produzir, integrar e divulgar conhecimento, mas pelo compromisso de formar cidadãos éticos, socialmente responsáveis, atentos ao desenvolvimento sustentável, ao respeito à diversidade, à liberdade intelectual, à preservação e à valorização da vida.
Porque a UnB é muito mais do que uma instituição de quase meio século de uma existência efervescente, que começou com o sonho do antropólogo Darcy Ribeiro. Ela é resultado do esforço de gente do naipe do arquiteto Oscar Niemeyer; do artista plástico Athos Bulcão; dos educadores Anísio Teixeira e Cristovam Buarque; dos estudantes Honestino Guimarães, que faz parte da lista dos desaparecidos políticos, e Waldemar Alves, baleado na cabeça num confronto com a ditadura militar; dos pedreiros Expedito Xavier Gomes e Gedelmar Marques, que morreram soterrados em um acidente durante a construção.
Porque a UnB é uma sobrevivente que suportou com firmeza diversas invasões por policiais militares e pelo Exército; o pedido coletivo de demissão de 1965, em que 209 professores e instrutores protestaram contra a repressão; as armas, a destruição e as prisões; a luta dos próprios alunos contra a má qualidade do ensino e a falta de infraestrutura; os protestos que, recentemente, derrubaram um reitor acusado de improbidade administrativa. É uma verdadeira fênix, que representa a esperança e a continuidade da vida após a morte, a capacidade de renascer das próprias cinzas.
Foi por tudo isso que, ao cumprimentar meu filho naquela tarde tão feliz, eu lhe disse que procure, nessa nova fase de sua vida, não apenas sucesso profissional, dinheiro, prestígio, mas algo que está muito além disso tudo; que, na qualidade de aluno, ele não se restrinja a receber o conhecimento, mas a conquistá-lo; que não se limite ao que pode lhe trazer o uso do cérebro, mas também o do coração; que busque o crescimento intelectual, mas, acima dele, o moral; que aproveite a convivência com os colegas para fazer grandes amizades porque com muitos ele conviverá pelo resto da vida e alguns o acompanharão tal qual irmãos de sangue; e que aproveite ao máximo os ensinamentos dos professores porque alguns merecerão dele, para sempre, o tratamento de mestre.
E, ao olhar bem dentro daqueles grandes olhos castanhos, eu lhe pedi que se comprometa a sempre usar o talento que possui e o conhecimento que certamente adquirirá em favor de todos com quem se encontrar de uma forma ou de outra; que, deixando de lado o egoísmo que ainda nos empobrece, coloque-se à disposição do Universo para fazer o possível e o impossível em favor dos necessitados, dos desfavorecidos, dos que o cercam, da Humanidade.
Porque, mais do que de profissionais inteligentes e preparados, precisamos de gente de verdade, com os pés na terra e os olhos voltados para o céu; de comprometimento; de seres humanos que entendam que as oportunidades que são dadas a alguns são resultado do suor de muitos, de todos nós que pagamos impostos desejosos de que eles sejam empregados da melhor maneira, de pessoas que jamais pisarão o campus, de milhões de analfabetos funcionais, de brasileiros que morrerão sem ter aprendido a ler.
Assim, o que desejo, de coração, é que não apenas meu filho, mas todos os que habitam as universidades, tenham sempre em mente que os poderes de que realmente necessitamos, os que fazem a diferença, os que nos levam muito além dos nossos sonhos mais fantásticos, são os que estão mergulhados nas profundezas das nossas almas.
E, a essas criaturinhas de Deus, deixo as palavras de Chico Xavier que, no poema Amorosamente, disse que um pequeno grão de alegria e esperança dentro de cada um é capaz de mudar e transformar qualquer coisa, pois a vida é construída nos sonhos e concretizada no amor! Valeu, Chico! Valeu, Igor, filho amado!
Maraci Sant'Ana