10 de março de 2009

Em Frangalhos


Série "O Dinheiro e os Relacionamentos" - Parte 10


Publicado em 7/2/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro


Foi impressionante o acidente ocorrido na última quarta-feira com um ônibus da Viação Planeta que vinha de Santa Maria e capotou embaixo do viaduto do balão do aeroporto. Ele envolveu cerca de 80 pessoas e, além de uma mulher morta, deixou 53 feridos. Mas tão impressionantes quanto são os números divulgados pelo Correio Braziliense, que traduzem a precariedade do transporte coletivo no Distrito Federal – 140.490 problemas graves apontados pela fiscalização, que comprometem a segurança dos passageiros e aumentam o risco de acidentes; falhas elétricas em 28,7% dos casos, estruturais em 14,4%, de suspensão em 8,11% e nos freios em 6,8%; 34% da frota com mais de sete anos de uso, sendo que alguns veículos com quase vinte.

São ônibus velhos, muitos caindo aos pedaços, em frangalhos, que poluem o meio ambiente e circulam colocando em risco condutores, cobradores, passageiros, outros motoristas e pedestres; que quebram pelo caminho; que estão constantemente atrasados e superlotados; que tremem tanto que deixam a impressão de que não chegarão inteiros ao final da viagem; em que o calor, a barulheira e a sujeira são insuportáveis.

Quando acontece um acidente, o que ouvimos das pessoas é que elas têm medo de andar de ônibus, que os riscos são grandes, que a velocidade está sempre acima do seguro ou do permitido e que as freadas bruscas são frequentes, assim como os avanços de sinal, os finos tirados de outros veículos. É muita imprudência, pouquíssima demonstração de respeito e responsabilidade, nada de atitude. E quando um condutor trafega dentro da lei, respeitando os limites de velocidade e os sinais de trânsito, os próprios passageiros reclamam, dizendo que têm horário a cumprir.

Tudo gira em torno de dinheiro. Empresários gananciosos querem ganhar cada vez mais; o serviço por eles prestado é, na melhor das hipóteses, o mínimo exigido por lei, em qualidade e quantidade; as condições de trabalho impostas a motoristas e cobradores são horríveis - os salários são baixíssimos, a jornada é estafante, a cobrança é desumana. Além disso, as autoridades governamentais parecem coniventes, já que fiscalização e providências efetivas, quando acontecem, são consequências de grandes desastres ou de denúncias feitas pela imprensa.

Só que, pior do que tudo isso é nossa incapacidade de nos proteger, de proteger nossas crianças e velhos. Entra ano, sai ano, entra governo, sai governo e as promessas não se cumprem. E continuamos a permitir que nos tratem dessa forma, como se não fossemos merecedores de nada melhor, de um transporte digno, enquanto aqueles que vivem dessa exploração desfilam seus carrões, indiferentes à sorte dos que mofam nas paradas de ônibus, dia e noite, no sol ou na chuva, à espera de um transporte lamentável, vergonhoso.

Mas, como sempre digo, também isso já foi pior. E, um dia, será ótimo, quando nós, que ainda não tomamos as rédeas de nosso destino, aprendermos que tudo o que fazemos de bom ou ruim tem consequências, desdobramentos; quando, livres dessa ignorância que nos embota, enxergarmos quem realmente somos, nem mais nem menos do que até aqui supomos; e finalmente entendermos que só nos atingem quando o permitimos, que o poder não está nas mãos dos que se julgam poderosos, mas daqueles que o concedem. Valeu irmã! Até sábado, leitores!

Maraci Sant'Anna


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