16 de março de 2009

Só o que é bom

Publicado em 14/2/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro



Nesta semana, este blog trouxe notícia intitulada Caixa e a lei de Ricúpero: Mostra o que é bom, esconde o que é ruim. A nota fez menção a conselho que teria sido dado há 15 anos pelo então ministro da Fazenda, Rubens Ricúpero, de que devemos esconder o que é ruim e só mostrar o que é bom. Assim, a Caixa Econômica Federal, ao divulgar os resultados do ano passado, teria ignorado os números referentes ao último trimestre, período em que a crise mundial bateu forte no país, chegando a reduzir o lucro total de 2007 como forma de mostrar um crescimento maior em comparação com o ganho de 2008.

Parece coisa de começo de relacionamento, em que nos empenhamos em salientar nossas qualidades e disfarçar os defeitos, que só poderão ser descobertos aos poucos, com o tempo. Conheço um ginecologista, com quem já participei de palestras e entrevistas, que nos aconselha a nunca nos casarmos ou termos filho antes de completos 18 meses da relação. Segundo ele, é o tempo em que não apenas as máscaras iniciais caíram, mas também a paixão sossegou o suficiente para que possamos enxergar o outro como ele é ou, pelo menos, perto disso.

Em outras palavras, no auge do romance, além de naturalmente nos esforçarmos para esconder o que é ruim e só mostrar o que é bom, vender um sonho de felicidade, contamos com a ajuda do parceiro, que tende a ignorar qualquer coisa que vá contra a imagem do amor ideal. E o resultado disso pode ser péssimo porque, um dia, “a casa cai” e, de tanta paixão, poderá restar apenas susto, dor, tristeza, mágoa, revolta, ódio.

No grupo Para sobreviver a um grande amor, ouço sempre relatos de relacionamentos horríveis, muitos envolvendo abusos de toda ordem, que tiveram começos fantásticos, vertiginosos, que nada ficavam a dever aos encontros românticos que acontecem nas novelas que encantam tanta gente. São histórias lindas, cheias de emoção, de sonhos, de promessas, em que pessoas se esforçam para parecer o que não são e veem no parceiro apenas o que lhes interessa, o que combina com o momento mágico vivido.

Se temos o cuidado de procurar conhecer realmente o outro, deixando de lado a ilusão de que existe no mundo alguém que aqui está para corresponder às nossas expectativas; se temos a coragem de ler as entrelinhas, de prestar atenção aos detalhes, ao que acontece não apenas nos grandes momentos, mas também no dia-a-dia; se nos dispomos a ouvir nossa voz interior, aquela que grita “cuidado!” quando algo estranho acontece, damos prova de maturidade, de respeito a nós mesmos e ao outro, mesmo que esse outro não esteja pronto para se respeitar ou nos respeitar.

Todos temos características luminosas, mas também outras que ainda habitam o reino das sombras. E elas se manifestam alternadamente, em nós e nos outros também. Todos somos capazes de produzir mel, tal qual as abelhas, mas também de ferroar. Todos temos qualidades e defeitos. E só podemos dizer que amamos ou somos amados quando enxergamos o outro como ele é e somos por ele também vistos como somos. Ninguém pode dizer que ama alguém que, em verdade, nem conhece. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!

Maraci Sant'Ana


*Interessados em participar do grupo de terapia PARA SOBREVIVER A UM GRANDE AMOR poderão obter mais informações falando comigo pelo telefone (61) 9967.0990.

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