coluna A Psicologia e o Dinheiro
Na terça-feira, assisti a uma palestra, na Comunhão Espírita de Brasília, sobre o perdão. E, como sempre acontece naquele tipo de evento, a platéia encaminhou ao expositor diversas perguntas. Entre elas, esta me chamou mais a atenção: “Fui traída durante quase 15 anos e, não suportando mais, deixei meu marido. Hoje, dizendo que não pode viver sem mim, ele quer reconciliação, jurando que, desta vez, vai ser fiel. Não o odeio, mas não o quero de volta. Só que tenho sido pressionada por nossos filhos, que me cobram o perdão ao pai. O que fazer?”.
Até acredito que, para o tal homem, a vida esteja difícil ou, pelo menos, não esteja tão fácil, e que, agora, ele se disponha a ser fiel. E também dá pra entender que os filhos queiram o pai de volta, já que isso não significa apenas conforto emocional, mas também mais bem-estar material. Mas, pelo visto, parece que nada disso é o suficiente para que ela dê ao ex-marido uma nova chance. Não é só uma questão de perdão. Parece que o encanto se foi e que uma reconquista se impõe.
Acho que algo parecido aconteceu no caso da CPMF. Imagino que esse tipo de sentimento possa ter tomado conta dos que foram a favor do fim da contribuição e dos que são contra a criação da chamada CSS – Contribuição Social para a Saúde, um novo tributo, que funcionaria nos moldes do que foi derrubado no final do ano passado, só que com uma alíquota bem menor, de 0,1%, e destinação dos recursos exclusivamente para o setor.
Não apenas no fim daquele casamento, mas também na criação da CSS, as opiniões estão divididas. De um lado, temos os que apóiam o governo, argumentando que, com os R$ 10 bilhões de arrecadação, poderão ser garantidos benefícios como universalização do programa Saúde da Família; duplicação da frota de ambulâncias do Samu; reajuste da remuneração dos hospitais no SUS. Tal qual os filhos que lutam pela volta do pai, os pró-CSS acreditam que, sem esses recursos, a situação do setor vai ficar ainda pior, embora isso seja até difícil de imaginar.
No outro extremo, estão os que argumentam que o governo não precisa criar novo imposto porque já dispõe de recursos, que o que falta é vontade política para priorizar a área; que a CSS fará um estrago no bolso do cidadão; que o que precisa ser feito é o corte de gastos, que têm sido exorbitantes. Em outras palavras, como todo ex-marido que se preze, o governo deverá aprender a viver sem ela, a se virar, a encarar a nova situação só com os meios de que dispõe.
Mas acho que o mais difícil tem sido superar que recursos arrecadados com a CPMF foram desviados de sua função, deixaram de ser aplicados na saúde. Assim como acontece com aquele casamento, parece que a aprovação da CSS não é só uma questão de perdão, de se dar uma nova oportunidade. Parece que, também aí, para a reconciliação, uma reconquista se impõe. É simples, embora não vá ser fácil. É aguardar pra ver. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!
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