21 de julho de 2008

Entre regras e medidas pontuais

Publicado em 14/6/2008, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,

coluna A Psicologia e o Dinheiro


Na segunda-feira, este blog reproduziu artigo de Ugo Braga, repórter especial do Correio Braziliense, que dizia: “Todo jornalista, vivo ou morto, guarda no bolso um punhado de obsessões... há alguns anos me afeiçoei a uma discussão... O caso é que não consigo ficar quieto quando ouço alguém falar... a respeito do paradoxo entre regras e medidas pontuais para resolver problemas.... não se trata de um debate pouco e besta... ele rendeu um Prêmio Nobel aos economistas Finn Kydland e Edward Prescott... Mais que isso, aparece a toda hora na nossa cara, animado feito coceira”.

Ele se referia à discussão quanto ao benefício de se estabelecer regras que impeçam a autoridade não-monetária de tomar medidas pontuais que possam interferir na política monetária. E as frases “não consigo ficar quieto” e “aparece a toda hora na nossa cara, animado feito coceira” dão o tom de um processo obsessivo. Posso acrescentar, caro Ugo, que isso não é “privilégio” dos jornalistas. Nós, psicólogos, também temos nossas ziquiziras. Aliás, todos os mortais as temos. Quer ver?

Quem nunca ouviu falar de transtorno obsessivo-compulsivo, o famoso TOC? Pois o mundo está cheio de gente que vive como refém do horror a determinadas cores, datas ou lugares; de fantasias sexuais incestuosas ou sacrílegas; de ter de lavar as mãos várias vezes ao dia; de ter de somar algarismos de placa de automóveis; de ter de verificar repetidas vezes se o forno está desligado. Esses pensamentos indesejáveis são chamados obsessões. Eles são intrusos, involuntários e reconhecidos, pelo próprio doente, como ilógicos. Os comportamentos deles resultantes são chamados compulsões.

A doença pode surgir de repente ou de maneira insidiosa. O pensamento obsessivo provoca no indivíduo uma aflição que pode ser uma verdadeira tortura. E a angústia só é aplacada pelo comportamento compulsivo, que, por mais estranho que ele possa parecer ao doente e àqueles que o cercam, é o que traz alívio. Lembra o que aconteceu na economia na semana passada – tensão seguida de desafogo.

Há muito o nosso Banco Central vem agindo como independente. Assim, qualquer movimento por parte de autoridade não-monetária que possa indicar uma interferência na política monetária agita o mercado. Foi esse o resultado das conversas do presidente Lula com o presidente Meirelles, justamente no dia em que se definiria a nova taxa Selic - algo parecido com o que sente quem está vivendo tranqüilamente e é assaltado pela idéia de que alguma coisa ruim pode acontecer se os degraus da escada de casa não forem rigorosamente recontados. Um sufoco!

Na economia, as coisas se acalmaram quando os porta-vozes da Fazenda e do Palácio do Planalto reafirmaram que o Copom continua com toda autonomia e que não há interferência política nesses assuntos, que são tratados de forma técnica. Em outras palavras - os degraus foram conferidos e estão todos lá. Ufa!

Mas quem quiser viver sem TOC precisará de mais do que declarações tranqüilizadoras, como as dos porta-vozes - deverá buscar ajuda médica e psicológica. Pior do que o pânico do mercado é o de ver o chinelo virado, não poder arrumá-lo e ficar com medo de vir a perder a mãe por isso. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!

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