31 de agosto de 2007

Dismorfofobia


Publicado no Tribuna do Brasil de 31/08/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Duas das indústrias que mais crescem no Brasil são a da cirurgia plástica e a das academias. Todos queremos um corpo sarado e um rosto que fique bem na foto. Para isso, muitos recorrem a dietas orientadas, à malhação e ao bisturi. É natural que nos preocupemos em parecer mais jovens, bonitos, atraentes. Mas há quem exagere e termine por transformar o sonho da beleza num filme de terror.

Volta e meia vemos pelas ruas ou na TV pessoas que já espicharam tanto o rosto ou estão tão "bombadas" que não mais parecem humanas, mas personagens do desenho Pokémon. Isso sem falar naquelas que, de tão obcecadas, topam qualquer coisa e terminam se tornando presas fáceis de profissionais inescrupulosos ou traficantes de drogas que acenam com promessas fantásticas de milagre a baixo custo. As que não morrem, acabam mutiladas. A mídia não pára de noticiar esses desastres. Só não vê quem não quer.

Acho que exercícios físicos deveriam fazer parte da rotina de todos nós. E nada tenho contra a cirurgia estética. Quem quer e pode melhorar algo com que não está satisfeito, deve fazê-lo. O problema está no exagero, na preocupação patológica com a aparência, no eterno descontentamento, na perseguição de um ideal que nunca é alcançado. A isso damos o nome de dismorfofobia, doença que as autoridades da área de saúde já deveriam tratar como epidemia.

Homens e mulheres que nunca estão felizes com sua aparência; que malham sem parar, buscando a perfeição; que se submetem a cirurgias sucessivas para resolver um problema mínimo ou que nem existe; que fazem uso de anabolizantes; que se espremem em espartilhos cada vez mais apertados; que fazem regime mesmo sem precisar, podem estar dismorfofóbicos e precisam de ajuda.

Essas pessoas vivem se olhando no espelho ou, ao contrário, evitam ver a própria imagem, achando que poderiam ser mais altas ou baixas; mais magras ou gordas; ter seios maiores ou menores; mais ou menos quadris; mais peitoral ou pênis maiores. Muitas têm o amor-próprio tão abalado que passam a evitar o contato social e terminam por se isolar de parentes e amigos, abandonar os estudos e o trabalho. Nessa fase, inclusive, há o risco do suicídio. Portanto, é preciso cuidado.

Em geral, o distúrbio se manifesta na adolescência ou na primeira idade adulta, períodos em que a auto-estima não está plenamente desenvolvida. Mas não é rara perto dos 40 anos, quando muitos entram em pânico por não aceitarem o envelhecimento, que é natural e acomete todos aqueles que não morreram jovens. Há relatos, inclusive, de pessoas que, para não envelhecer, mataram-se, por preferirem ser lembradas ainda moças e belas. Quanta insensatez !

Um caso bem conhecido é o do cantor Michael Jackson, cujo rosto parece que nunca estará pronto. E há relatos de pessoas se submeteram a mutilações como a extração de costelas, para afinar a cintura, ou até mesmo ao absurdo da amputação de membros não considerados esteticamente em bom estado. Essa doença não pode ser subestimada. Cada dia sem o tratamento adequado é um grande risco.

Então, se você conhece alguém que enveredou por esse caminho, apoie-o e o oriente a procurar ajuda. O tratamento consiste em acompanhamento psiquiátrico, para a prescrição de remédios que são indispensáveis, e também psicoterapia. Sei que ainda existe muita resistência a profissionais "psi". Mas um paciente corretamente orientado logo poderá voltar a ter uma vida normal, libertando-se dessa dolorosa prisão. Até sexta-feira !


24 de agosto de 2007

Sophia, Gabriel e Linda


Publicado no Tribuna do Brasil de 10/08/2007
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.


No último dia 30, nasceu a primeira neta da minha amiga Hilta, filha da Bia, que vi crescer andando de patins embaixo do prédio onde morávamos. Sophia é linda, fazendo jus à herança genética, e veio ao mundo em grande estilo. Ao romper da bolsa-d'água, a avó mais gostosona do pedaço embarcou de Brasília pra São Paulo. Nem o caos do transporte aéreo atrapalhou o evento. As fotos de Sophia, em poses de top model, percorrem o mundo. Mal abriu os olhos e ela já é uma celebridade internética.

Como uma alegria nunca vem só, nasceu, no dia oito, o primeiro filho de outra amiga, a bela e doce Fernanda Sonntag. Gabriel chegou como um príncipe, rodeado de esperanças e muito carinho. Fê está encantada e com toda razão - é uma experiência ímpar para qualquer mulher. Ele é um lindo rapazinho que logo estará um rapagão, pra balançar muitos corações. E, pelo visto, não lhe faltarão recursos, inclusive tecnológicos. Nem bem aprendeu a mamar e Gabriel já tem seu próprio site. Pode?

E, para o final deste ano ou início de 2008, estamos aguardando a primeira filha de Cintia e Rafael, um casalzinho fofo também amigo, jovem e alegre, que está curtindo cada momento da gravidez. O nome dela é Linda, em homenagem à mãe do Rafa. Mas costumamos brincar dizendo que, embora leve o nome da avó paterna, ela será linda porque se parecerá com a mãe, não com o pai. E não demorará muito para que o meu amiguinho comece a pagar até mesmo aqueles pecados de que já se arrependeu, preocupado que estará em espantar os candidatos a genro.

Bia, Fernanda e Cíntia já sabem o que é amor materno, como é essa ligação inigualável entre mãe e filho. As três marinheiras de primeira viagem estão começando a aprender a ser mãe. Nessa empreitada, já estão usando o instinto, força inconsciente, natural, inata, que dispensa aprendizado. Também estão lançando mão do que aprenderam com suas próprias mães. E logo se atirarão na grande aventura de tentar ser melhores do que elas.

Assim, descobrirão que não há nada mais fácil e, ao mesmo tempo, mais difícil; que os filhos, embora tenham sido por elas gerados, não lhes pertencem; que, mesmo que se pareçam com elas, são seres únicos e merecem ter suas individualidades respeitadas; que devem lhes oferecer o que tiverem de melhor, sem expectativas de retribuição; e que, apesar da frágil aparência, talvez eles dirijam mais a vida delas do que elas conduzirão a deles.

Aprenderão que o amor de mãe é o maior e mais bonito; que, tentando acertar, fatalmente errarão; que, errando, deverão ter humildade para pedir perdão ao filho, sem esquecer de se perdoar também; que terão muito a ensinar, assim como a aprender com eles.

Como ditado por Joanna de Ângelis e diversos outros Espíritos psicografados por Divaldo Pereira Franco, em "S.O.S. Família", os deveres dos pais em relação aos filhos estão inscritos na consciência. Técnicas de psicologia e metodologias educacionais são importantes, mas nada supera o amor, que inclui companheirismo, diálogo franco, solidariedade, indulgência e energia moral. Diante dos filhos, nem o excesso de severidade, nem o acúmulo de receios injustificados ou aflições. A virtude está no caminho do meio, no equilíbrio, na harmonia.

E, finalizando, deixo às três um conselho: não se esqueçam de que continuam a ser filhas. Então, a cada dia, procurem dar a suas mães o melhor que puderem. Lembrem-se de que os filhos prestam mais atenção às nossas atitudes do que aos nossos conselhos, o que faz do exemplo o mais eficiente instrumento de educação. O plantio é livre, mas a colheita é obrigatória.

11 de agosto de 2007

Sim à Vida

Publicado no Tribuna do Brasil de 10/08/2007
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.


Na próxima quarta, dia 15, às 17 horas, em frente ao Congresso, acontecerá a “Primeira Marcha Cívica Nacional Em Defesa da Vida – Brasil Sem Aborto”, uma manifestação contra a legalização do infanticídio pré-natal, crime hediondo cuja vítima nem pode implorar compaixão.

Descriminar o aborto é retroceder. Até nos animais ditos inferiores, a maternidade se expressa como um dos mais vigorosos mecanismos da vida. E mesmo fêmeas dóceis são capazes de tudo para defender a cria. Além disso, a interrupção da gravidez traz enormes danos à mulher - muitas não mais conseguem engravidar ou sustentar uma gestação; outras sofrem doenças como vaginismo, endometrite e câncer, além de distúrbios mentais de origem emocional e espiritual.

Sou contra até em caso de estupro. No Brasil, não há pena de morte. Aqui, um estuprador não poderá ser executado. Da mesma forma, nem mesmo uma mãe que mate um filho já nascido ou em gestação será sentenciada à pena capital. Então, o que justificaria punir dessa forma uma criatura indefesa, que não tem culpa de ter sido gerada a partir de um ato de violência?

Há mulheres que não podem ou querem criar um filho. Mas há centenas de pais que aguardam nas filas de adoção. Se não for possível à mãe assumir a criança, ela poderá transferir essa missão a alguém que a queira. Afinal, pais são os que criam. Mas, matar, nunca!

Defensores do aborto tentam se justificar dizendo que, nas primeiras semanas, o ser em gestação é apenas um punhado de células. Mas a ciência já derrubou esse argumento, provando que, a partir do momento da fecundação, inicia-se uma vida. Também costumam alegar que a mulher é dona do próprio corpo. Só que, ao interromper uma gravidez, ela está dispondo do corpo e da vida de outra pessoa. Não há diferença entre matar uma criança ainda no ventre, atirá-la numa lagoa ou num lixão, ou espancá-la até a morte, como temos visto acontecer.

Nem cabe o argumento de que o aborto é um problema de saúde pública, que, quando clandestino, leva à morte milhares de mulheres. Legalizar o assassínio da criança para evitar a morte da mãe, matar um ser indefeso para salvar alguém que pode se defender e tem opções é um absurdo! Um crime para evitar outro? Seria essa regra justa?

Além disso, as que morrem são as que não podem pagar uma boa clínica. Em caso de legitimação, restaria às pobres os hospitais públicos. Será que o SUS terá disponibilidade para atender mulheres que desejem matar o próprio filho, sendo que não vem conseguindo ajudar as que imploram socorro para um filho doente? E não parece uma contradição legalizar o aborto num país em que mulheres que não têm o que comer encontram tantos obstáculos para uma simples laqueadura de trompas?

Talvez o mais grave problema da saúde seja a falta de ou o mau atendimento nos hospitais. E boa parte dessa deficiência resulta dos criminosos desvios de verbas. Mas nem por isso vejo campanhas para matar os servidores, empresários e políticos corruptos que roubam da sociedade, deixando os hospitais à míngua - isso seria um crime para evitar outros. E isso seria justo?

As únicas condições para se aceitar o aborto são: a mãe estar em perigo e concordar com a interrupção. Nem mesmo a anencefalia justifica o infanticídio. Já ocorreram casos em que crianças malformadas foram trazidas ao mundo, receberam o carinho dos pais e, após o desencarne, tiveram seus órgãos doados para salvar outros bebês.

Mesmo que legalizado, o aborto nunca encontrará amparo nas Leis Soberanas que regem o Universo. O direito à vida não é relativo, como muitos pregam - é soberano. Até a marcha da quarta-feira!

6 de agosto de 2007

Pan

Publicado no Tribuna do Brasil de 27/7/2007
Caderno TBprograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci.

De 13 a 29 de julho últimos, o Brasil, mais especificamente o Rio de Janeiro, sediou a 15ª versão dos Jogos Pan-americanos. Durante 16 dias, 5.662 atletas de 42 países das Américas buscaram os melhores resultados nas quadras, pistas, campos e piscinas. A cada edição, os Jogos crescem em tamanho e importância. E já estão entre as principais competições do calendário esportivo mundial.

Os Pan-americanos foram realizados, pela primeira vez, em 1951, em Buenos Aires, capital da Argentina. São uma versão das Olimpíadas, que tiveram início na Grécia por volta de 2500 a.C. Os gregos buscavam, com os jogos, a paz e a harmonia entre as cidades. Os cinco anéis entrelaçados da bandeira olímpica representam a união de povos e raças que formam os continentes. Esse é o espírito.

O símbolo escolhido pelos brasileiros para o PAN Rio 2007 foi o solzinho Cauê, com uma mensagem de paz, respeito ao meio ambiente, amizade e confraternização; e o slogan dos Jogos foi "Viva essa energia!". Parece que a nossa estrela maior nos trouxe sorte. Essa foi a melhor edição para o Brasil.

A delegação brasileira deste ano foi a maior da história, composta por 999 pessoas - 660 atletas, 212 técnicos e auxiliares, 51 chefes de equipe, 60 profissionais médicos e 16 profissionais administrativos. As nossas conquistas resultaram do esforço de toda essa gente. Foi um trabalho de equipe, de perfeita comunhão. O mérito é desse conjunto e também da torcida que, embora tenha "pisado na bola" algumas vezes, com vaias nada esportivas, conseguiu manter elevado o moral dos nossos, mesmo nos momentos mais cruciais e até nas implacáveis derrotas.

Participar desse tipo de evento exige vocação, talento, coragem, perseverança, disposição, sorte. Muitos dos que ali estavam, inclusive atletas brasileiros, disputaram de teimosos que são. Para chegar ao PAN, tiveram de se dividir entre os treinos e o trabalho que dá o sustento. Parte daquelas medalhas foi ganha na raça, sem apoio, sem patrocínio. Muitos, numa situação assim, teriam desistido.

É preciso ser especial para conseguir desviar os olhos da adversidade e seguir o brilho da esperança; para enxergar arbustos verdes, flores, borboletas e passarinhos onde só há árvores secas; para ver colorido onde tudo é cinza; para perceber a luz no fim de um túnel escuro. É preciso ser fora do comum para, apesar dos pesares, manter os sonhos que fomentam o entusiasmo, a esperança que conduz à vitória.

Naturalmente, não assisti a todos os jogos. Apesar da importância do evento, a vida continuava para nós, criaturas nada olímpicas, pobres mortais. Nem foram todas as apresentações do Brasil que consegui acompanhar. Mas, sempre que o momento se apresentou, torci por nossos atletas e vibrei com suas conquistas, como todo brasileiro.

Só que, sinceramente, mesmo quando éramos vitoriosos, não me sentia totalmente feliz. Partia meu coração ver a tristeza dos que não haviam conseguido, a decepção enchendo de sombras gente tão preparada e que tanto se empenhou, rostos ainda tão jovens. Penso que o espetáculo seria muito mais bonito se todos saíssem triunfantes, carregando uma medalha.

O que me conforta é saber que a grande maioria, mesmo aqueles que nada conquistaram, já retomou os treinos, com o pensamento voltado para a próxima competição. Graças a Deus essas criaturas não se deixam impressionar com a derrota. E, em breve, nos proporcionarão belos espetáculos. Eles parecem acompanhar Mário Quintana - "Se as coisas são inatingíveis... ora!; não é motivo para não querê-las...; que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas!