15 de dezembro de 2009

Um amigo, de natal

Publicado em 5/12/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro


Adoro esta época do ano! E ela também é a preferida dos comerciantes e comerciários. É tempo de aumento nas vendas e comissões. É tempo de presentes. Claro que sempre rolam aqueles básicos, do tipo bola, boneca, CD, camiseta. Mas também há sofisticação, coisas de deixar qualquer um babando. Recentemente, li sobre uma novidade que deve trazer muita grana para os lojistas, principalmente do Japão, Estados Unidos e Europa - o Yume Neko Venus, um gato robô que tem sensores de toque espalhados pelo corpo, ronrona, pisca, fica bravo, move as patas, a cabeça e a cauda, reage a luz e a comandos de voz. Legal, não? Também achei, por um lado.


É um bichano que não andará aprontando pela casa, não subirá nos móveis, não tentará escalar sua árvore de Natal, não dará despesas com ração, areia e veterinário. Mas também nunca esperará por você na porta de casa; jamais se enroscará em suas pernas ou se aconchegará no seu colo; nem desamarrará seu cabelo só para fugir correndo, carregando a fita como se ela fosse resultado de uma grande caçada. Um robô não lhe fará companhia quando tudo o que você mais desejar for ficar largado no sofá vendo TV; nem olhará fundo nos seus olhos antes de dar aquele miado que diz tudo. Em outras palavras, é um gato de mentirinha, muito diferente dos eternos bebês que tenho em casa – Frajola, Menininha, Docinho, Sininho, Amorzinho e Elvira, a quem dedico este texto.

Dizem os pesquisadores que a relação entre homens e animais domésticos teve início 50 mil anos atrás. Cães vigiavam aldeias e ajudavam na caça e no pastoreio. Gatos exterminavam ratos e outras pragas. Mas, aos poucos, as pessoas começaram a vê-los de uma forma diferente. Eles não eram apenas para servir, mas para acompanhar. Surgiu um afeto que foi se intensificando de um jeito que, hoje, mais do que amigos, eles são considerados filhos. Na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, 30% dos criadores consideram seus animais parte da família. E o filósofo australiano Peter Singer defende a igualdade plena de direitos entre homens e animais. Para ele, sustentar que os humanos são superiores aos demais seres é um absurdo tão grande quanto o racismo.

Desde que comecei a escrever para jornal, em 2003, tive duas grandes oportunidades de falar sobre o tema, uma em novembro de 2006, com o texto Nossos irmãos, nossa responsabilidade, um apelo em favor das criaturinhas que estão no corredor da morte do Centro de Controle de Zoonoses do Distrito Federal; e outra em julho de 2007, com Puff, que dediquei a minha amiga Dalva Helena, que havia perdido seu cachorrinho. Mas, por mais que eu escreva, trabalhe ou adote, sempre fica o sentimento de não estar fazendo o quanto poderia. Por mais que façamos por esses irmãos, nunca é o bastante.

Segundo pesquisas, o Brasil tem cerca de 32 milhões de cães e 16 milhões de gatos - a segunda maior população do planeta, que movimenta um mercado, que não para de crescer, de 9 bilhões de reais por ano em produtos e serviços. A cada dia, mais pessoas adotam um bichinho e, de acordo com a Radar Pet, eles já estão presentes em 44% dos lares das classes A, B e C. E não fazem a alegria apenas das crianças, mas de pessoas que moram sozinhas e de idosos que se ressentem da falta de afeto. Só que, infelizmente, ainda são poucos os que têm o privilégio de fazer parte de uma família, de poder dar e receber amor.

Muitos vivem pelas ruas, entregues à própria sorte e, se chegam a um centro de controle de zoonoses, são sacrificados em poucos dias, de forma desumana, estejam doentes ou saudáveis, como se não tivessem nenhum valor, como se fossem descartáveis, como se não fossem criaturas de Deus. Em lugar de prevenir doenças, esses órgãos se dedicam à matança, até de filhotinhos que nem foram desmamados ainda. Pensar nisso parte meu coração. E o que me dá forças, no meio de tanto horror, é saber que existe gente de verdade que se dedica à causa desses anjinhos, pessoas que, isoladamente ou à frente de entidades de salvamento, não se calam diante da maldade dos seres ditos humanos.

Não sei o que seria desses bichinhos se não fossem os protetores, que os recolhem pelas ruas, acolhem em suas casas, lançam mão dos próprios recursos, tratam e procuram lares amorosos para eles. Não sei o que seria desses bichinhos se não fossem os veterinários parceiros, que atendem gratuitamente ou dão um bom desconto nos tratamentos e castrações. A maioria das criaturinhas são encontradas em péssimo estado, doentes, desnutridas, desidratadas, assustadas. Muitas foram vítimas de violência, maltratadas exatamente por aqueles que as deveriam proteger; outras foram abandonadas por estarem velhas ou doentes; outras largadas na rua apenas porque os donos precisaram fechar a casa para viajar em férias. E não são raros os casos de animais recolhidos com terríveis mutilações, por terem sido usados em rituais de magia, por gente louca que nem deveria estar solta por aí.

Os centros de zoonoses estão lotados de criaturinhas precisando de uma família e muitas entidades de proteção aos animais também trabalham no regime de lar temporário. Tudo o que você precisa fazer é deixar de lado a vaidade que nos faz procurar um pet de raça e abrir seu coração para receber um irmãozinho de quatro patas, do tipo tomba lata, mesmo que ele já seja adulto ou esteja velhinho, mesmo que não seja perfeitinho. Não cabe discriminação ou exigências. Já imaginou se a Espiritualidade Maior resolvesse também só socorrer os que fossemos de raça pura? Eu estaria na maior roubada. E você? Por acaso, seu sangue é azul? Além disso, como eu disse em um daqueles textos, pode ser que a aparência dele não esteja das melhores, mas há dias em que nós também estamos de assustar, não é mesmo? Nada que o amor não recupere.

Quer dar um lindo presente de Natal a quem você ama? Então, salve uma vida, adote um desses animaizinhos. Não há nada melhor do que ganhar alegria, lealdade, coragem, devoção, simplicidade. Nada disso está à venda nos shoppings e, certamente, dessa forma, você não estará presenteando apenas aquele que deseja tanto agradar, mas o mais famoso de todos os aniversariantes do próximo dia 25, aquele que nunca nos esquece, mas de quem muitos nem se lembram, perdidos em compras e reuniões que, não obstante a data, lamentavelmente, não passam de encontros sociais. Valeu irmã! Até sábado, leitores!

Maraci Sant'Ana


O CCZ-DF fica no Setor de Áreas Isoladas Norte (Sain), lote 4. O telefone é 3341-2084. Faça uma visita! Ou, se preferir, entre em contato comigo, por telefone ou por e-mail. Conheço um bocado de entidades protetoras e de pessoas que estão com as casas lotadas de amigos esperando por você. Meu e-mail: maracisantana@yahoo.com.br; meu telefone: (61) 9967.0990.


E para aqueles que quiserem conhecer os textos aqui citados, aí vão os links:
- Nossos irmãos, nossa responsabilidade;
- Puff

Um comentário:

Maraci Sant'Ana disse...

Autor: Maraci - 25/12/2009 às 13:05
Comentário: Nossa última feira de adoção de 2009 será na comercial da 114 norte, junto ao Centro de Bem-Estar Animal Buddah Dog, neste sábado, dia 26/12, das 9h30 às 13h. Ainda dá tempo de fazer um bichinho de rua mais feliz este ano. Compareça! SHB.