Publicado em 27/6/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro
A notícia da morte de Michael Jackson, na tarde da última quinta-feira, surpreendeu o mundo. Todos queriam saber se ela era verdadeira, o que havia acontecido. A movimentação na internet foi tanta que travou o Google e o Twitter. E, com a triste confirmação, as manifestações não pararam mais. Pessoas comuns e famosas comentam e choram a perda do ídolo. O Rei do Pop parte nos deixando boquiabertos, como sempre. Fica para trás uma vivência marcada pelo sucesso e pelos escândalos, que o levaram da riqueza à ruína financeira.
Fala-se em parada cardíaca provocada pelo excesso de trabalho e pelo abuso de medicamentos. Não sabemos ao certo a causa da morte. Mas sabemos a importância que Michael teve para a indústria do show business. Sabemos que foi um dos maiores fenômenos musicais de todos os tempos, um prodígio, um artista completo, que compunha, cantava e dançava como poucos, um talento inquestionável que deixa saudade, especialmente em quem, como eu, cresceu acompanhando sua carreira, desde os tempos do Jackson Five.
Ousado, polêmico, irreverente, esquisito, genial, ele ganhou e perdeu verdadeiras fortunas ao longo de meio século de vida. Movimentou e continua movimentando somas incríveis. Off the wall bateu quatro vezes o topo da Billboard; Thriller, que custou US$ 750 mil, ultrapassou a marca de 109 milhões de cópias vendidas; We are the world, que ele compôs em parceria com Lionel Richie, arrecadou milhões para crianças carentes da África. Os números na vida de Michael Jackson são surpreendentes. Seus shows batiam recordes de público. Ele teve cinco álbuns entre os mais vendidos e ganhou 25 Grammys. Os shows da turnê que encerraria sua carreira deveriam ser assistidos por cerca de 1 milhão de pessoas e lhe renderiam mais de US$ 200 milhões.
Michael era descrito como bom, educado, gentil. Não fumava, não bebia, não usava drogas ilícitas e não comia carne. Mesmo assim, a vida dele foi definida, por um de seus ex-assessores, como uma jornada autodestrutiva. Seu estilo extravagante; as sucessivas cirurgias plásticas que, em lugar de lhe trazerem o rosto dos sonhos, transformaram sua aparência em um pesadelo; os casamentos inexplicáveis, primeiro com a filha de Elvis Presley, depois com uma enfermeira desconhecida que lhe deu dois filhos; a contratação de uma mãe de aluguel para o nascimento do terceiro filho; e os acordos em processos judiciais por acusação de pedofilia abalaram ainda mais sua estrutura emocional e a financeira, levando-o ao isolamento social e o obrigando a vender o rancho Neverland, assim como parte dos direitos autorais sobre as músicas dos Beatles. Segundo publicado por jornais de todo o mundo, ele deixa dívidas que totalizam cerca de US$ 400 milhões.
Mas quem foi de fato Michael Jackson? Um homem negro que desejava parecer uma mulher branca? Um garoto que, tal qual Peter Pan, vivia na Terra do Nunca e se recusava a crescer? Algoz ou vítima? Criminoso ou doente? Alguém capaz de, deliberada e conscientemente, trair a inocência de uma criança? Ou uma das muitas pessoas que não conseguiram superar nem as próprias dificuldades nem as decorrentes de uma infância de violência e abuso, que tentava desesperadamente preencher um vazio que mais e mais aumentava?
Talvez jamais saibamos a verdade. Mas a biografia de Michael aponta para uma família grande e pobre em que o pai trabalhava como operário e tentava uma carreira musical que nunca foi pra frente. Obcecado, Joe Jackson passou a investir nos filhos, que se mostravam talentosos. Abusivo e violento, buscando fortuna e sucesso, roubou-lhes a infância, submetendo-os a ensaios exaustivos, controlando, exigindo e castigando-os severamente quando as coisas não saíam da forma como ele queria – um verdadeiro calvário. Só Deus sabe o que acontecia entre aquelas quatro paredes.
É importantíssimo que os pais incentivem os filhos, que os ensinem a serem persistentes e disciplinados. Além do mais, dinheiro costuma cair muito bem, especialmente para um casal que vive na maior dureza, com nove crianças, como era o caso dos Jacksons. Mas fico pensando em como teria sido a vida de Michael se o pai tivesse visto nele, acima de tudo, um filho, que deveria ser acolhido com amor. Ou se a mãe tivesse tido a coragem de defendê-lo, de protegê-lo, mesmo do pai. Será que aquele garoto não teria se tornado um adulto emocionalmente maduro e equilibrado, capaz de se aceitar como era, em condições de encarar e resolver os problemas do mundo real, que não precisasse se esconder atrás de máscaras cirúrgicas? Será que ele não estaria vivo e com saúde suficiente para criar os próprios filhos?
Noutro dia, li que ninguém deveria ter filhos por necessidade, para aliviar a solidão, dar sentido à vida tentando reproduzir a si mesmo em uma cópia, ou buscar a imortalidade lançando um germe seu no futuro. Sábias ponderações. Porque os filhos não vêm ao mundo para atender as nossas expectativas. Aliás, devemos sempre esperar deles sonhos próprios e mais elevados que os nossos. Acho que o ideal é que nós comecemos ensinando a eles e que, o quanto antes, eles já estejam nos ensinando. Esse pode ser um bom indicativo de que cumprimos nossa missão. Como dito por Gribran, em O Profeta, nossos filhos não são nossos filhos, são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Valeu, Michael!
Fala-se em parada cardíaca provocada pelo excesso de trabalho e pelo abuso de medicamentos. Não sabemos ao certo a causa da morte. Mas sabemos a importância que Michael teve para a indústria do show business. Sabemos que foi um dos maiores fenômenos musicais de todos os tempos, um prodígio, um artista completo, que compunha, cantava e dançava como poucos, um talento inquestionável que deixa saudade, especialmente em quem, como eu, cresceu acompanhando sua carreira, desde os tempos do Jackson Five.
Ousado, polêmico, irreverente, esquisito, genial, ele ganhou e perdeu verdadeiras fortunas ao longo de meio século de vida. Movimentou e continua movimentando somas incríveis. Off the wall bateu quatro vezes o topo da Billboard; Thriller, que custou US$ 750 mil, ultrapassou a marca de 109 milhões de cópias vendidas; We are the world, que ele compôs em parceria com Lionel Richie, arrecadou milhões para crianças carentes da África. Os números na vida de Michael Jackson são surpreendentes. Seus shows batiam recordes de público. Ele teve cinco álbuns entre os mais vendidos e ganhou 25 Grammys. Os shows da turnê que encerraria sua carreira deveriam ser assistidos por cerca de 1 milhão de pessoas e lhe renderiam mais de US$ 200 milhões.
Michael era descrito como bom, educado, gentil. Não fumava, não bebia, não usava drogas ilícitas e não comia carne. Mesmo assim, a vida dele foi definida, por um de seus ex-assessores, como uma jornada autodestrutiva. Seu estilo extravagante; as sucessivas cirurgias plásticas que, em lugar de lhe trazerem o rosto dos sonhos, transformaram sua aparência em um pesadelo; os casamentos inexplicáveis, primeiro com a filha de Elvis Presley, depois com uma enfermeira desconhecida que lhe deu dois filhos; a contratação de uma mãe de aluguel para o nascimento do terceiro filho; e os acordos em processos judiciais por acusação de pedofilia abalaram ainda mais sua estrutura emocional e a financeira, levando-o ao isolamento social e o obrigando a vender o rancho Neverland, assim como parte dos direitos autorais sobre as músicas dos Beatles. Segundo publicado por jornais de todo o mundo, ele deixa dívidas que totalizam cerca de US$ 400 milhões.
Mas quem foi de fato Michael Jackson? Um homem negro que desejava parecer uma mulher branca? Um garoto que, tal qual Peter Pan, vivia na Terra do Nunca e se recusava a crescer? Algoz ou vítima? Criminoso ou doente? Alguém capaz de, deliberada e conscientemente, trair a inocência de uma criança? Ou uma das muitas pessoas que não conseguiram superar nem as próprias dificuldades nem as decorrentes de uma infância de violência e abuso, que tentava desesperadamente preencher um vazio que mais e mais aumentava?
Talvez jamais saibamos a verdade. Mas a biografia de Michael aponta para uma família grande e pobre em que o pai trabalhava como operário e tentava uma carreira musical que nunca foi pra frente. Obcecado, Joe Jackson passou a investir nos filhos, que se mostravam talentosos. Abusivo e violento, buscando fortuna e sucesso, roubou-lhes a infância, submetendo-os a ensaios exaustivos, controlando, exigindo e castigando-os severamente quando as coisas não saíam da forma como ele queria – um verdadeiro calvário. Só Deus sabe o que acontecia entre aquelas quatro paredes.
É importantíssimo que os pais incentivem os filhos, que os ensinem a serem persistentes e disciplinados. Além do mais, dinheiro costuma cair muito bem, especialmente para um casal que vive na maior dureza, com nove crianças, como era o caso dos Jacksons. Mas fico pensando em como teria sido a vida de Michael se o pai tivesse visto nele, acima de tudo, um filho, que deveria ser acolhido com amor. Ou se a mãe tivesse tido a coragem de defendê-lo, de protegê-lo, mesmo do pai. Será que aquele garoto não teria se tornado um adulto emocionalmente maduro e equilibrado, capaz de se aceitar como era, em condições de encarar e resolver os problemas do mundo real, que não precisasse se esconder atrás de máscaras cirúrgicas? Será que ele não estaria vivo e com saúde suficiente para criar os próprios filhos?
Noutro dia, li que ninguém deveria ter filhos por necessidade, para aliviar a solidão, dar sentido à vida tentando reproduzir a si mesmo em uma cópia, ou buscar a imortalidade lançando um germe seu no futuro. Sábias ponderações. Porque os filhos não vêm ao mundo para atender as nossas expectativas. Aliás, devemos sempre esperar deles sonhos próprios e mais elevados que os nossos. Acho que o ideal é que nós comecemos ensinando a eles e que, o quanto antes, eles já estejam nos ensinando. Esse pode ser um bom indicativo de que cumprimos nossa missão. Como dito por Gribran, em O Profeta, nossos filhos não são nossos filhos, são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Valeu, Michael!
Maraci Sant'Ana