Publicado em 25/4/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro
coluna A Psicologia e o Dinheiro
Crise mundial – queda na atividade econômica e, consequentemente, na arrecadação de tributos. Cenário nada bom em qualquer período e especialmente ruim em época de campanha eleitoral, como a que já estamos vivendo. Veio daí a necessidade de se adotarem medidas para, pelo menos, minimizar o estrago. Surgiu a idéia de se reduzirem impostos sobre alguns produtos, como automóveis e eletrodomésticos da chamada “linha branca”, para dar mais impulso à economia; e a de aumentar a tributação sobre cigarro e bebida alcoólica, para garantir os cofres.
Segundo o site G1, a prática de onerar esses produtos quando a coisa aperta não é nenhuma novidade. Já no ano passado, membros do governo defenderam o aumento da cobrança de tributos sobre bebidas e cigarro, como forma de compensar a perda de arrecadação sofrida pela extinção da CPMF. Além dos significativos valores arrecadados, esse tipo de medida soa como em prol da saúde pública. O governo mata dois coelhos com uma “caixa d’água” só. Um primor de idéia.
De acordo com estudos do Banco Mundial, o aumento nos preços de produtos derivados do tabaco é uma das políticas de controle com melhor custo/efetividade, principalmente entre a população jovem e a de baixa renda, que são mais influenciadas pelos preços em suas decisões de consumo. E é público e notório que o tabaco é a droga que provoca mais mortes no mundo, sendo responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão. Hoje, no Brasil, o número de óbitos causados pelo tabagismo é de 200 mil por ano. E nem estamos nos referindo à morte de pessoas que não fumavam, mas conviviam com fumantes.
E quanto à bebida alcoólica? Posso começar falando sobre algo que tem sido discutido no país inteiro desde o ano passado – A Lei 11.705/2008. O site do Correio de ontem trouxe a notícia de que, após 10 meses da chamada Lei Seca, o Detran registrou 73 mortes e 71 acidentes fatais a menos nas vias do DF. Além disso, foram autuados 3.000 motoristas por dirigirem alcoolizados. Desses, 1.228 apresentaram índice de álcool no sangue acima de 0,3mg/l. A gente treme só em pensar nas mortes que não puderam ser evitadas em todo o Brasil.
Para mim, esse resultado é mais do que suficiente para banirmos a bebida alcoólica do país. E, quando falo banir, falo de eliminar para todo o sempre. Pareço exagerada? Mas não é só no trânsito que a bebida mata. Um percentual enorme, que calculo 70%, das tragédias que vivenciamos todos os dias, não aconteceria se o álcool não fizesse parte de nossa história. Quando lemos aquelas notícias pavorosas de homens que assassinaram suas esposas, namoradas ou ex-companheiras; de filhos que mataram os pais; de pais que abusaram sexualmente das filhas; de mães que atiraram filhos recém-nascidos pela janela; de irmãos que brigaram até a morte; de assaltos violentos; de estupros, ficamos horrorizados, mas muitas dessas barbaridades teriam sido evitadas se os envolvidos nesses dramas, nessas situações-limite estivessem sóbrios, limpos.
É claro que sempre haverá quem queira me corrigir dizendo que o problema não está no consumo, mas no abuso. Então, eu me permito esclarecer, e falo como profissional da área de saúde, que muita gente não deveria beber nem sequer um copo de cerveja; que o mundo está cheio de alcoólatras em potencial que nem imaginam que não precisarão de vários porres para se transformarem em doentes de fato – basta um primeiro copo que desperte o gosto pela bebida. Isso sem falar que o álcool é, reconhecidamente, a droga que abre as portas da vida do indivíduo para outras ainda mais devastadoras.
Há alguns meses, numa entrevista para a TV, a repórter perguntou se eu era a favor de restringir a propaganda de bebida para após as 22 horas. E eu respondi que acho que esse tipo de mensagem deveria ser terminantemente proibida. Nós vivemos em um mundo que não precisa de nenhum estímulo a mais para beber. O que se ingere e o que se gasta com bebida é uma loucura. Seria uma maravilha se tivéssemos a certeza de ser economicamente viável a transferência dos impostos que incidem sobre comida e remédio, ao todo ou quase, para o cigarro e a bebida. Será possível? Melhoraria a saúde e a vida do povo, diminuiria o consumo de drogas, as tragédias, as mortes.
Diferentemente do que muitos imaginam e apregoam, fumo e bebida alcoólica não são supérfluos. São danosos, nocivos, devastadores, porque destroem, arruínam pessoas, famílias, civilizações. Por isso estou feliz com as medidas adotadas e com as notícias do que está por vir nesse sentido. E estaria muito mais se o aumento da tributação tivesse sido motivado não pela crise econômica, mas pelo desejo de se tentar evitar as tragédias a que assistimos diariamente, pela conscientização dos que governam, pela necessidade de se salvar vidas. Só que, ao que tudo indica, os governos são como as pessoas que ainda têm o bolso como a parte mais sensível do corpo. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!
Segundo o site G1, a prática de onerar esses produtos quando a coisa aperta não é nenhuma novidade. Já no ano passado, membros do governo defenderam o aumento da cobrança de tributos sobre bebidas e cigarro, como forma de compensar a perda de arrecadação sofrida pela extinção da CPMF. Além dos significativos valores arrecadados, esse tipo de medida soa como em prol da saúde pública. O governo mata dois coelhos com uma “caixa d’água” só. Um primor de idéia.
De acordo com estudos do Banco Mundial, o aumento nos preços de produtos derivados do tabaco é uma das políticas de controle com melhor custo/efetividade, principalmente entre a população jovem e a de baixa renda, que são mais influenciadas pelos preços em suas decisões de consumo. E é público e notório que o tabaco é a droga que provoca mais mortes no mundo, sendo responsável por 90% dos casos de câncer de pulmão. Hoje, no Brasil, o número de óbitos causados pelo tabagismo é de 200 mil por ano. E nem estamos nos referindo à morte de pessoas que não fumavam, mas conviviam com fumantes.
E quanto à bebida alcoólica? Posso começar falando sobre algo que tem sido discutido no país inteiro desde o ano passado – A Lei 11.705/2008. O site do Correio de ontem trouxe a notícia de que, após 10 meses da chamada Lei Seca, o Detran registrou 73 mortes e 71 acidentes fatais a menos nas vias do DF. Além disso, foram autuados 3.000 motoristas por dirigirem alcoolizados. Desses, 1.228 apresentaram índice de álcool no sangue acima de 0,3mg/l. A gente treme só em pensar nas mortes que não puderam ser evitadas em todo o Brasil.
Para mim, esse resultado é mais do que suficiente para banirmos a bebida alcoólica do país. E, quando falo banir, falo de eliminar para todo o sempre. Pareço exagerada? Mas não é só no trânsito que a bebida mata. Um percentual enorme, que calculo 70%, das tragédias que vivenciamos todos os dias, não aconteceria se o álcool não fizesse parte de nossa história. Quando lemos aquelas notícias pavorosas de homens que assassinaram suas esposas, namoradas ou ex-companheiras; de filhos que mataram os pais; de pais que abusaram sexualmente das filhas; de mães que atiraram filhos recém-nascidos pela janela; de irmãos que brigaram até a morte; de assaltos violentos; de estupros, ficamos horrorizados, mas muitas dessas barbaridades teriam sido evitadas se os envolvidos nesses dramas, nessas situações-limite estivessem sóbrios, limpos.
É claro que sempre haverá quem queira me corrigir dizendo que o problema não está no consumo, mas no abuso. Então, eu me permito esclarecer, e falo como profissional da área de saúde, que muita gente não deveria beber nem sequer um copo de cerveja; que o mundo está cheio de alcoólatras em potencial que nem imaginam que não precisarão de vários porres para se transformarem em doentes de fato – basta um primeiro copo que desperte o gosto pela bebida. Isso sem falar que o álcool é, reconhecidamente, a droga que abre as portas da vida do indivíduo para outras ainda mais devastadoras.
Há alguns meses, numa entrevista para a TV, a repórter perguntou se eu era a favor de restringir a propaganda de bebida para após as 22 horas. E eu respondi que acho que esse tipo de mensagem deveria ser terminantemente proibida. Nós vivemos em um mundo que não precisa de nenhum estímulo a mais para beber. O que se ingere e o que se gasta com bebida é uma loucura. Seria uma maravilha se tivéssemos a certeza de ser economicamente viável a transferência dos impostos que incidem sobre comida e remédio, ao todo ou quase, para o cigarro e a bebida. Será possível? Melhoraria a saúde e a vida do povo, diminuiria o consumo de drogas, as tragédias, as mortes.
Diferentemente do que muitos imaginam e apregoam, fumo e bebida alcoólica não são supérfluos. São danosos, nocivos, devastadores, porque destroem, arruínam pessoas, famílias, civilizações. Por isso estou feliz com as medidas adotadas e com as notícias do que está por vir nesse sentido. E estaria muito mais se o aumento da tributação tivesse sido motivado não pela crise econômica, mas pelo desejo de se tentar evitar as tragédias a que assistimos diariamente, pela conscientização dos que governam, pela necessidade de se salvar vidas. Só que, ao que tudo indica, os governos são como as pessoas que ainda têm o bolso como a parte mais sensível do corpo. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!
Maraci Sant'Ana
Um comentário:
Envidar esforços para podermos ter uma solução quanto ao que seria uma arrecadação eficaz de impostos e além disso ainda contribuirmos para a diminuição da crise e da criminalidade, sempre nos levará a questões onde incentivar ou inibir o consumo desse ou daquele produto estaria acima das considerações do fator humano. Fico feliz ao ler um artigo tão bem escrito e que inicialmente seria apenas a respeito de enconomia, mas que em seu desfecho percebe a inteligência de se fazer um "link" direto das alíquotas de impostos de acordo com o comportamento humano, visando uma diminuição da violência na sociedade e não apenas sobre os nossos devaneios de consumo. Ôpa! Mas devaneio de consumo também não é uma forma de violência? Rs Um beijo grande.
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