15 de junho de 2009

Valeu, Tina!!!!

Publicado em 2/5/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro


Ontem, 1° de maio, celebramos o Dia do Trabalho. Temos todo tipo de data comemorativa em nosso país. Algumas são mundiais e bem conhecidas. Outras, nem tanto. Há a da confraternização universal, o Natal, a da chegada do ano novo, o dia das mães, o dos pais e o das crianças, a Páscoa e o São João, por exemplo. Mas há também o dia do supermercado, o da saudade, o do telefone, o da juventude, o do disco, o dos solteiros, o do anunciante e por aí afora. Uns bem loucos, não?

Hoje, 2 de maio, é dia do ex-combatente e do taquígrafo. Pouca gente sabe disso. Já o dos psicólogos, comemoramos com os corretores de imóveis em 27 de agosto; os economistas celebram em 13 de agosto; e os jornalistas, com os corretores, os médicos legistas e a saúde em 7 de abril. Mas há uma figura que termina sendo esquecida, embora também tenha seu dia – o trabalhador doméstico. Vinte e sete de abril não deveria passar em branco. Não há um só dono de casa que não saiba o valor de se ter um bom profissional para apoiá-lo no dia a dia do lar, doce lar.

Eu bem o sei. No próximo 10 de junho, eu e Tina completaremos 12 anos de uma grande parceria. Parece que foi ontem que ela chegou, indicada pelo porteiro do prédio em que eu morava, o seu Antônio. De lá pra cá, vivemos muitas coisas. Ela me ajudou a criar meu filho, assim como eu, de uma maneira diferente, a ajudo a criar Vitor Hugo e André Luiz. Passamos por momentos felizes e também de sufoco. Rimos, choramos, brigamos e nos acertamos, duas mulheres crescendo juntas, uma batalhando ao lado da outra. Muita gente cruzou meu caminho nesse período, mas poucas pessoas são ou foram tão significativas. Não posso nem imaginar o quanto teria sido difícil sem ela, sua comida caprichada, sua disposição e disponibilidade, seu apoio, sua alegria, seu carinho.

Só que, lamentavelmente, esse tipo de relação não é tão comum. E o lado trabalhista ainda é bastante problemático. Conforme publicado no site do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Município de São Paulo – STDMSP, dos 6,8 milhões de trabalhadores domésticos, apenas 27,1% possuem vínculo formal de trabalho. Dos 2,3 milhões que trabalham como horistas, nem 10% contribuem para a previdência social. Mas há uma luta por jornada de trabalho estabelecida, hora extra, adicional noturno, salário-família e FGTS obrigatório. E, segundo especialistas e representantes de empregadores e trabalhadores domésticos do estado de São Paulo, o custo dos encargos deverá dobrar, caso isso venha a se concretizar.

É claro que vai pesar pra muita gente, mas todo trabalhador acha o máximo ter seus direitos garantidos, mesmo porque eles são o resultado de discussões ferrenhas e até de mortes. E, se podemos tê-los, por que não aqueles que estão ao nosso lado, fazendo o que não podemos, não queremos ou não sabemos, tornando possível que nos dediquemos a outras atividades? Sei que muitos trabalhadores, embora já tenham garantidos esses direitos em lei, não os usufruem de fato, pelo menos não na totalidade. Quantos, por exemplo, não ultrapassam a jornada sem hora extra? Já fiz isso tantas vezes que perdi a conta. Mas há os que conseguem. É nesses que devemos nos espelhar. E o que desejamos de bom para nós devemos querer pra todo mundo.

O começo nunca é fácil. Pode até haver desemprego. Mas, com o tempo, as coisas sempre chegam onde têm de chegar. Tudo se acomoda. Foi assim com trabalhadores de outras categorias. Por que não com os domésticos? Por que sustentar uma situação que é flagrantemente injusta?

Assim, a você que ainda reluta nessa matéria, peço que procure se colocar no lugar desse trabalhador, de seu parceiro. Acredito firmemente que pior do que os erros que cometemos por ignorância são os acertos que deixamos de perpretar quando podíamos, mas para o qual fechamos egoisticamente os nossos olhos. Valeu, Tina! Até sábado, leitores!

Maraci Sant'Ana

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