Série “O dinheiro e os relacionamentos” – 5ª. parte
Publicado em 18/10/2008, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro
coluna A Psicologia e o Dinheiro
Em mensagem a esta coluna, a leitora Ângela disse o seguinte: ”... A impressão que tenho é a de que as pessoas estão mais insensíveis, só pensam em ganhar dinheiro, ficar ricas, se darem bem na vida. Mas de que adianta dinheiro se não se tem saúde, se não se tem um grande amor? Tem gente que passa até fome para não gastar dinheiro. Para mim isso é demais, é passar dos limites”.
Ângela,
Você nos trouxe um assunto sério. Vivemos num mundo material que gira em torno do dinheiro e do que ele pode comprar. É natural que nos esforcemos para manter uma reserva, recursos de que possamos vir a lançar mão em alguma eventualidade. Mas há pessoas que parecem não ter limites. E, assim como há aquelas que gastam o que têm e o que não têm, há as que, como você mesma disse, passam até fome para economizar, literalmente apavoradas com o dia de amanhã.
São pessoas que podem entrar em pânico só de pensar em comprar ou pagar por algo, mesmo que se trate de um objeto ou de um serviço de que estejam precisando ou que seja bem baratinho. São assaltadas por pensamentos do tipo: ”Não, não preciso disso realmente”, “Isso não é para mim”, “Não posso me dar a esse luxo”, “Há outras prioridades”. Algumas só admitem adquirir mercadorias com defeito que estejam em liqüidação. E essa postura pode se estender a necessidades básicas como alimentação e cuidados médicos. Se alguém as acusa de sovinice, avareza, pão-durismo, elas logo se defendem se dizendo econômicas, precavidas. Não hesitam em recitar a fábula da cigarra e da formiga, argumentando que estão sendo conscienciosas, trabalhando no verão para ter conforto e segurança no inverno.
É claro que, de vez em quando, essas pessoas se arriscam e, contra todos aqueles pensamentos condenatórios que as perseguem, cometem alguma “loucura” como comprar um par de sapatos novos ou obturar um dente há tempos esburacado. O resultado de “tanto desprendimento” costuma ser um sentimento de culpa arrasador. Além disso, há outra particularidade – às vezes, com o parceiro ou os filhos, elas são extremamente generosas, mão-aberta, não vendo nisso nada de mais. O resultado podem ser mulheres elegantemente vestidas acompanhadas de homens trajando o terno que o pai falecido usava quando jovem, ou mães molambentas que caminham pela rua alguns passos atrás da filha patricinha que faz de conta que nem a conhece.
Uma vida assim, de privações ilógicas, é terrivelmente penosa. O estresse provocado vai destruindo essas pessoas e os relacionamentos que possam ter. E a tortura não costuma arrefecer com o passar dos anos. Ao contrário, a tendência é o agravamento da necessidade de fiscalização e controle. Se investigarmos a vida dessas criaturas, poderemos encontrar, mesmo nesta vivência, sem a necessidade de maior aprofundamento, situação de privação material. Mas certamente encontraremos situação de privação emocional.
A Síndrome de mendigo é uma doença e como tal deve ser tratada. Assim, quem achar que se enquadra no que aqui está descrito, deve procurar ajuda. Podemos até lidar com uma infância ou adolescência de pouco dinheiro, mas dificilmente superaremos com naturalidade a falta do amor que nos teria ajudado a nos transformarmos em adultos emocionalmente saudáveis. Valeu, Ângela! Valeu, irmã! Até sábado, leitores!
Ângela,
Você nos trouxe um assunto sério. Vivemos num mundo material que gira em torno do dinheiro e do que ele pode comprar. É natural que nos esforcemos para manter uma reserva, recursos de que possamos vir a lançar mão em alguma eventualidade. Mas há pessoas que parecem não ter limites. E, assim como há aquelas que gastam o que têm e o que não têm, há as que, como você mesma disse, passam até fome para economizar, literalmente apavoradas com o dia de amanhã.
São pessoas que podem entrar em pânico só de pensar em comprar ou pagar por algo, mesmo que se trate de um objeto ou de um serviço de que estejam precisando ou que seja bem baratinho. São assaltadas por pensamentos do tipo: ”Não, não preciso disso realmente”, “Isso não é para mim”, “Não posso me dar a esse luxo”, “Há outras prioridades”. Algumas só admitem adquirir mercadorias com defeito que estejam em liqüidação. E essa postura pode se estender a necessidades básicas como alimentação e cuidados médicos. Se alguém as acusa de sovinice, avareza, pão-durismo, elas logo se defendem se dizendo econômicas, precavidas. Não hesitam em recitar a fábula da cigarra e da formiga, argumentando que estão sendo conscienciosas, trabalhando no verão para ter conforto e segurança no inverno.
É claro que, de vez em quando, essas pessoas se arriscam e, contra todos aqueles pensamentos condenatórios que as perseguem, cometem alguma “loucura” como comprar um par de sapatos novos ou obturar um dente há tempos esburacado. O resultado de “tanto desprendimento” costuma ser um sentimento de culpa arrasador. Além disso, há outra particularidade – às vezes, com o parceiro ou os filhos, elas são extremamente generosas, mão-aberta, não vendo nisso nada de mais. O resultado podem ser mulheres elegantemente vestidas acompanhadas de homens trajando o terno que o pai falecido usava quando jovem, ou mães molambentas que caminham pela rua alguns passos atrás da filha patricinha que faz de conta que nem a conhece.
Uma vida assim, de privações ilógicas, é terrivelmente penosa. O estresse provocado vai destruindo essas pessoas e os relacionamentos que possam ter. E a tortura não costuma arrefecer com o passar dos anos. Ao contrário, a tendência é o agravamento da necessidade de fiscalização e controle. Se investigarmos a vida dessas criaturas, poderemos encontrar, mesmo nesta vivência, sem a necessidade de maior aprofundamento, situação de privação material. Mas certamente encontraremos situação de privação emocional.
A Síndrome de mendigo é uma doença e como tal deve ser tratada. Assim, quem achar que se enquadra no que aqui está descrito, deve procurar ajuda. Podemos até lidar com uma infância ou adolescência de pouco dinheiro, mas dificilmente superaremos com naturalidade a falta do amor que nos teria ajudado a nos transformarmos em adultos emocionalmente saudáveis. Valeu, Ângela! Valeu, irmã! Até sábado, leitores!
Maraci Sant'Ana
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