15 de dezembro de 2008

Gatos muito vivos

Série "O Dinheiro e os Relacionamentos" - Parte 6


Publicado em 1º/11/2008, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro


O assunto de hoje foi sugerido por um leitor, o Caio, que postou o seguinte comentário: “Cara Maraci, creio que um tema bem legal para você tratar nessa sua coluna seriam as disputas dentro do trabalho. É um querendo comer o outro. Vejo, na minha empresa, que as pessoas falam mal de quem ganha mais, sendo que o correto seria ver essa pessoa como parâmetro, pois indica que há espaço para todos progredirem. Por que a tendência das pessoas é de nivelar por baixo?”


Caio,

Conhece a expressão “Ninguém chuta gato morto”? Esse comportamento a que você se referiu é próprio do ser humano imaturo, ou seja, nós. Você não vê ninguém se dando ao trabalho de pichar quem está mal, ganhando pouco, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. O alvo das maledicências é sempre aquele que está por cima. E isso independe de competência ou merecimento. Se até Jesus Cristo foi criticado, perseguido e crucificado, o que não podemos esperar do mundo, nós, pobres criaturas tão imperfeitas? Estar em posição superior, cheio de prestígio e vantagens tem um preço, como tudo na vida.

Também não é nada fácil ocupar uma posição de inferioridade nesse aspecto, mesmo que ela esteja de acordo com nosso merecimento, mesmo que estejamos conscientes de que não fazemos jus a nada melhor no momento. Porque todos temos sonhos que esbarram na falta de dinheiro – coisas que não podemos comprar, serviços pelos quais não podemos pagar, projetos sempre adiados. É dureza levar uma vida de “nãos”. E, pra muita gente, é praticamente impossível virar a própria mesa, dar um rumo diferente às coisas, melhorar.

Talvez o pior seja quando nos sentimos e somos merecedores, e passamos por uma situação bem parecida com a descrita por Lupicinio Rodrigues na música Nervos de aço, que diz o seguinte: “Você sabe o que é ter um amor, meu senhor, ter loucura por uma mulher, e depois encontrar esse amor, meu senhor, nos braços de um outro qualquer? Você sabe o que é ter um amor, meu senhor, e por ele quase morrer, e depois encontrá-lo em um braço que nenhum pedaço do seu pode ser?...”. Assim como é difícil vermos um amor nos braços de alguém que nem chega aos nossos pés, não é nada fácil olhar “pra cima” e ver, em situação de poder, gente despreparada e até mesmo pessoas que nem deveriam andar soltas por aí.

Para muitos, talvez o pior seja quando nos sentimos merecedores, não o somos realmente, e não conseguimos nos acertar com a vida na hora em que ela vem nos cobrar por tudo o que dela usufruímos indevidamente. E, para outros, talvez o pior seja quando, mesmo merecedores, assim não nos vemos, também incapazes de uma auto-avaliação sadia, e passamos todo o tempo a chutar a sorte, jogando fora excelentes oportunidades, boicotando nosso próprio sucesso, impossibilitados de sermos bons para nós mesmos.

Posição totalmente feliz, creio que não há nenhuma. Mas sempre podemos e devemos, dependendo da situação em que nos encontremos, estar atentos às críticas que nos são dirigidas, já que, em geral, nem todas são maldosas ou infundadas; buscar uma vida melhor, a exemplo de tantas pessoas incríveis que fizeram e fazem história contra todas as expectativas; cuidar para não sermos nem condescendentes nem intransigentes com nós mesmos, mas justos; e, finalmente, procurar entender que a vida pode ser dividida em coisas que já podemos mudar e coisas que ainda não podemos mudar. Se estivermos numa situação em que nada possamos fazer, o melhor é relaxar. Não precisamos apressar o rio porque ele corre sozinho. Valeu irmã! Até sábado, leitores!

Maraci Sant'Ana

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