8 de dezembro de 2008

Os pressupostos e os cenários

Publicado em 25/10/2008, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro



Vocês estão lembrados da coluna do dia 11, da história da caderneta do seu Biu? Pois aquele caso deu pano pra mangas. Quando recebi a mensagem com a piada, eu a repassei pra minha irmã, Maristela, que teceu uma série de comentários a respeito da crise americana. Falou sobre os juros muito baixos durante a gestão de Allan Greenspan, do FED; da quantidade de gente que pegou empréstimo, os tais subprime de hipoteca de imóvel; da alta dos juros; da inadimplência; da ruína de tudo o que pertencia àquela cadeia de aplicações. E concluiu dizendo o quanto o planejamento é importante para um bom negócio e o quanto uma criteriosa análise de cenários e de riscos é fundamental para um bom planejamento.

Mas ela não parou por aí. Pra facilitar meu entendimento sobre ações de longo prazo não poderem se basear em pressupostos de curto prazo, ela usou o seguinte exemplo: a paixão pode ser considerada pressuposto de curto prazo. Casamento com base em paixão tende a entrar em falência logo. O ideal é que a união se baseie em amor, esse sim um pressuposto de longo prazo. E a respeito da necessidade de análise de cenários e riscos, ela usou a seguinte figura: uma mulher de 20 anos se une a um homem de 60. Daqui a 15 anos, ela será uma balzaquiana de 35 casada com um idoso de 75. Se ela decidir ter um filho dele aos 40, pelo método tradicional, o maridão, já com oitentinha, vai precisar de um bocado de Viagra. Engraçadinha, a minha irmã, não acham?

Piadinhas à parte, o que ela disse é muito sério. E, observando bem a forma como lidamos com as coisas da vida, fica claro que não temos o hábito de analisar cenários, muito menos riscos. Ao contrário, tendemos a nos prender a detalhes, em detrimento do todo, e a só visualizar o que nos agrada, esquecidos de que tudo tem um preço. O resultado disso podem ser, por exemplo, profissionais insatisfeitos. Querem ver como não é nada difícil detectarmos gente que não planejou, pelo menos não bem, a própria vida? Observe os aposentados da sua família. Há algum que parece ter perdido o lugar no mundo, que vive correndo de um médico pra outro, sempre se queixando de alguma doença? Toda família tem pelo menos uma criatura assim. E não é difícil entender o porquê.

Quando chega a hora de escolhermos uma profissão, ou mesmo muito antes disso, somos bombardeados com opiniões diversas. Sempre haverá aqueles que nos aconselharão a priorizar a estabilidade, os que nos orientarão a procurar algo que dê muito dinheiro, os que nos estimularão a buscar nossa vocação. Mas ninguém lembrará de nos dizer, por exemplo, que nem todo cirurgião plástico será um Pitanguy, assim como nem todo arquiteto será um Niemeyer, e que, pra chegarmos lá ou superá-los, precisaremos estudar muito, abrir mão de muitos outros prazeres. Também não nos dirão que nem todo profissional ficará rico e que muitos que o conseguiram tiveram de passar pelo estágio não-remunerado, pelo trabalho gratuito, pela ralação dia e noite.

Assim, quem quiser ter uma aposentadoria feliz deverá começar a planejá-la no momento da escolha profissional. E aí vão algumas dicas: se ainda não sonha com uma carreira, converse com alguém que possa ajudá-lo a pensar sobre isso, como um parente próximo ou um orientador vocacional; uma vez feita a escolha, procure conhecer a profissão, saber como está o mercado de trabalho, qual o ganho médio, as oportunidades de concurso, como seria trabalhar por conta própria. Pesquise na internet, procure quem já estiver no ramo, outros estudantes, professores; de posse desses dados, analise os prós e os contras, pra decidir se está disposto a pagar o preço que a vida cobrará pela sua escolha; se sua resposta for sim, comece a correr atrás do seu projeto, tendo em mente que você deverá se ocupar dele pelos próximos 30 anos, pelo menos.

Vejo a vocação como algo muito importante. Entretanto, se você decidir priorizar outras questões, lembre-se de que poderá fazer aquilo de que gosta como hobby e, se for o caso, a ele se dedicar plenamente após a aposentadoria. Mas, se vier a se decidir a partir dos seus desejos mais íntimos, saiba que quem faz o que gosta de fazer atrai o sucesso, tem mais chances de ficar milionário e nunca se aposenta de fato porque vive com a sensação de que não trabalha realmente. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!

Maraci Sant'Ana

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