coluna A Psicologia e o Dinheiro
O tema desta 2ª. parte da série foi sugerido pela leitora Suzana, que, em 23 de agosto, já na qualidade de co-autora, fez o seguinte comentário “... Gostaria de sugerir a você uma análise sobre quando uma mulher é mais bem-sucedida no trabalho do que o marido. Tenho uma amiga que está sofrendo muito com isso. O marido dela só faz desmerecê-la, joga o moral dela no chão. O que é isso?”
Suzana,
Lembra que cabia ao nosso avô sustentar a família? Se a vovó trabalhasse, era apenas por prazer, geralmente com algo ligado a prendas domésticas, e o dinheiro ganho, ela o usava para “os seus alfinetes”. É claro que, nos últimos quarenta anos, o papel masculino mudou de maneira radical. Mas isso não aconteceu porque o homem assim o quis e muitos resistem até hoje, não aceitam que as mulheres têm vez e voz. Até mesmo os que se julgam bem-resolvidos podem dar uma escorregadela e cair de bunda no machismo. Além disso, a gente vive num mundo em que dinheiro é poder.
Durante séculos, o homem foi o dono da situação. Seu poder era incontestável. Ele tinha o controle do dinheiro, dos bens, e da vida da mulher e dos filhos. Hoje, vemos mulheres que ganham tanto ou mais do que seus parceiros. Entretanto, muitas delas vivem relacionamentos de abuso, em que se sentem pequenas, inadequadas e até desequilibradas, graças a críticas e insultos que podem ir de ataques sutis a ameaças óbvias. Impossibilitados de usar a força do dinheiro, muitos homens tentam controlar a mulher de outras formas, menosprezando suas opiniões, sentimentos e realizações profissionais, mesmo que o trabalho dela seja a única fonte de renda da família. É muito difícil para quem vive esse processo ou para um observador leigo entender uma situação assim. Daí surgem os questionamentos como o seu, os conselhos que a mulher não consegue acatar e, o que é pior, as críticas que, em lugar de ajudá-la, tornam sua vida mais difícil.
Há algum tempo, recebi uma paciente que tinha um excelente emprego, casa e carro próprios, casada com um homem já perto dos 30 anos que vivia correndo atrás do “negócio da China”, mas que era por ela sustentado. Para ela, pelo menos em princípio, a situação vivida não era um grande problema. A dificuldade estava em suportar que ele, volta e meia, esbravejasse que ela tinha a vida ganha, enquanto ele tinha que ralar. Parecia que ela havia herdado tudo. Só que o emprego lhe viera por concurso público e os bens eram resultantes de muito trabalho. Para você ter uma idéia, a pressão era tanta que ela chegou a pensar em vender o que tinha, pedir demissão e tentar uma vida bem modesta, para que ele não mais se sentisse diminuído. Um verdadeiro absurdo, não? E o que ela não sabia é que isso não resolveria nada, só agravaria as coisas.
Essa combinação relacionamento amoroso e dinheiro é explosiva. E muitas situações podem levar um homem a agir assim com a parceira. Dificuldades diversas na infância, como um pai que usava o dinheiro para controlar as pessoas à sua volta, uma mãe opressora, o isolamento emocional ou a rejeição podem explicar, embora não justifiquem. Mas, a chave de tudo está na resposta às seguintes perguntas: O que leva sua amiga a se manter nesse relacionamento? Por que nada que ela faça para melhorar a relação dá certo? Fica claro, pelo menos pra mim, que ela precisa entender muito bem o que está vivendo e que, provavelmente, vai necessitar de ajuda profissional para isso. Lembre-se de que as pessoas só nos fazem o mal que nós permitimos que elas nos façam. Valeu, Suzana! Valeu, irmã! Até sábado, leitores!
A sugestão da Suzana, que propiciou a coluna de hoje, enriquece a nossa série. Assim, continuo contando com a participação de todos. As novas idéias para texto poderão ser deixadas na própria coluna, sob a forma de comentário, ou encaminhadas para maracisantana@yahoo.com.br, sem nenhuma preocupação quanto à privacidade. E quem perdeu a 1ª. parte poderá lê-la no arquivo deste blog, em 23 de agosto.
Maraci Sant'Ana
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