3 de junho de 2008

Sobre imposto e galinheiro


Publicado em 3/5/2008, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes
coluna A Psicologia e o Dinheiro


A Receita Federal é como a morte – dela ninguém escapa. E poucas situações mexem tanto com a gente quanto quando metem a mão no nosso dinheirinho. Mas, todo ano, o inevitável – precisamos prestar conta do que recebemos, pagamos, doamos, compramos, vendemos, lucramos no ano anterior. Puro terrorismo!

Talvez seja por isso que deixamos, para a última hora, às vezes o derradeiro minuto, o preenchimento e a remessa da, com licença da má palavra, Declaração do Imposto de Renda. Segundo o site do Correio Braziliense, em matéria publicada na véspera do fim do prazo, mais de cinco milhões de contribuintes ainda não haviam enviado suas declarações.

A verdade é que, em janeiro, a imprensa começa a soltar rápidas notícias sobre a aproximação do temido leão da Receita. Inicialmente, num movimento de autodefesa, fingimos que aquilo não é conosco. Mas, com o passar dos dias, e, acreditem, esses passam bem rapidamente, somos tomados pela aflição. Precisaremos correr atrás de papéis e de um contador, ou teremos de ler manuais e fazer cálculos, com o risco de, ao final, ainda desembolsar mais grana.

Sempre rola um estresse. Entram em pânico os marinheiros de primeira viagem; afligem-se os que definitivamente não se sentem aptos a preencher os formulários; enfurecem-se os que percebem que não vão escapar do famigerado saldo do imposto a pagar. Só quem se sai menos mal são os felizardos do imposto a restituir. E talvez seja a única situação em que aqueles que ganham bem pouco se sentem privilegiados, por poder lançar mão da simplérrima e inofensiva Declaração de Isento.

Isso me faz lembrar um amigo, um economista, diga-se de passagem, que tinha recebido da mulher a incumbência de limpar o galinheiro da casa todo domingo. Mas, já na sexta-feira à noite, ela dava aquele toque sutil: “Domingo é dia de galinheiro”. Daí pra frente, ele mal conseguia pensar em outra coisa. O sábado lhe era difícil e o domingo, angustiante. Ele só relaxava após ter limpado o cercado, no início da noite, maldizendo a vida e o universo.

Até que ele percebeu que isso iria terminar lhe provocando um enfarte ou, ainda pior, um divórcio e, num clarão de inteligência, decidiu encarar a tarefa como uma daquelas coisas da vida que não podemos mudar. Ele se programou mentalmente para, aos domingos, acordar cedo e limpar o galinheiro, com o pensamento fixo na piscina e no churrasquinho com a família e os amigos que logo poderia curtir. Sucesso total!

Sem dúvida, uma sábia mudança de postura perante o problema. Como diria uma psicóloga colega minha muito conhecida, em situação de crise, o melhor é relaxar. Até o próximo sábado!

Maraci Sant'Ana

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