Publicado no Tribuna do Brasil de 28/9/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci
Tenho uma amiga, de quem já falei algumas vezes nesta coluna, que é aquele tipo de pessoa que podemos chamar de figura ímpar. Dalva Helena tem sempre uma tirada engraçada quando as coisas não saem exatamente como deveriam, ou quando acontece algo surpreendente, estranho, sem propósito. E, de uns tempos pra cá, são tantas as ocorrências esquisitas que, na maioria das vezes, só nos tem restado olharmos uma pra outra e dizer: Fazer o quê?!
É claro que sabemos que a vida não é como a gente quer que seja, mas como precisa ser. Sabemos que, independentemente de nossa vontade, de nossa boa fé e de nossos melhores esforços, algumas situações ruins são inevitáveis. E sabemos, também, que, muitas vezes, mesmo tentado acertar, pisamos na bola e terminamos nos atrapalhando. Entretanto, ficamos espantados quando vemos o quanto ainda temos a aprender.
Noutro dia, assisti a uma conferência em que o palestrante falava sobre os estragos que o remorso e a mágoa podem fazer em nossas vidas, o quanto que nos arriscamos cada vez que olhamos para trás e deparamos os nossos erros, assim como os cometidos contra nós. Muitos distúrbios emocionais, como depressão e síndrome do pânico, são decorrentes dessas dificuldades volta e meia relembradas e revividas, não superadas.
E, ampliando o cenário, ele chamou nossa atenção para a bondade de Deus que, em Sua sabedoria, lança sobre o espírito prestes a reencarnar o véu do esquecimento, o que o impede de lembrar as faltas cometidas e as sofridas em existências passadas. Assim, na nova vivência, a criatura pode seguir sem pesares ou amargura, para construir um futuro melhor do que foi o passado.
A partir desse raciocínio, ele sugeriu que nós, a exemplo do que faz o Criador quando reencarnamos, deixássemos, definitivamente no passado, o que passou, para irmos em frente de forma leve e construtiva. Não precisamos esperar uma próxima encarnação para desfrutarmos essa benção e o recomeço.
Então, se você se arrependeu de ter mudado de emprego, rompido um relacionamento, firmado um compromisso, efetuado uma compra, dito umas "verdades" a alguém, torrado uma herança. Ou se alguém o magoou muito, sendo injusto, infiel, perverso, não se desespere! Todo mundo faz bobagem. Apenas fique esperto para não passar o resto da vida sofrendo e se maldizendo, perdendo, inclusive, a lição que a vida tem a oferecer a cada dificuldade.
Tudo serve como aprendizado. A diferença é que há coisas que podem ser mudadas, enquanto para outras não há jeito. Para algumas burradas há conserto, mas, para outras, não. Claro que, o que puder ser ajeitado, deverá ser alvo de nossa atenção e esforços. Mas o que não puder ser arrumado deverá ser encarado e registrado como ensinamento, sem tormentos.
Se desgosto, amargura, pesar, tristeza e lamentações servissem para alguma coisa, o mundo estaria salvo. O grande lance está em entendermos as lições, pedirmos perdão àqueles que ofendemos, perdoarmos a nós mesmos, e nos esforçarmos para não repetir os erros. Como diria a Dalvinha, "Fazer o quê?!".
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