Publicado em 13/9/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro
coluna A Psicologia e o Dinheiro
"Queridas brasileiras e queridos brasileiros" - foi assim que o presidente Lula começou o pronunciamento de 6 de setembro último, para celebrar o que ele chamou de uma nova independência do Brasil. Após uma brevíssima introdução, ele entrou de sola no assunto pré-sal. Falou das gigantescas jazidas de petróleo e gás descobertas nas profundezas do nosso mar, dos projetos de lei enviados ao Congresso Nacional que, segundo ele, vão garantir que a maior parte dessa riqueza fique nas mãos dos brasileiros; impedir que os governantes a gastem de forma irresponsável; e assegurar que ela seja investida em educação, ciência e tecnologia, cultura, defesa do meio-ambiente e combate à pobreza.
E lá estava eu, na frente da TV, ouvindo tudo aquilo e pensando no retorno financeiro dos 800 quilômetros de petróleo entre Espírito Santo e Santa Catarina, na proposta de um fundo que, conforme dito por Lula, ajudará o país a pagar a imensa dívida social que temos e evitará a entrada desordenada de dinheiro externo, garantindo-nos uma economia saudável. Foi quando me veio à mente um outro discurso, o de um paciente que me contou estar apaixonado por uma mulher que todos dizem não valer nada, que não corresponde aos seus sentimentos, que o faz sofrer com sua indiferença, mas que ele sabe ser, bem lá no fundo, uma pessoa maravilhosa.
É verdade. As pessoas também escondem tesouros em suas entranhas, debaixo de uma camada de características que podem afastar os outros. Mas sempre há alguém disposto a investir nelas, pronto a atravessar várias sobreposições, a fazer o que fez a Petrobras, que explorou até encontrar algo extraordinário que causou admiração no resto do mundo e deixou os brasileiros orgulhosos de nossa capacidade de enxergar além, de nossa persistência e disposição para o trabalho firme. Só que, entre a Petrobras e esses desbravadores de almas, há enormes diferenças.
A camada pré-sal não foi encontrada por acaso, de graça ou facilmente. Quando iniciou o projeto, a Petrobras já era uma instituição sólida, com mais de 50 anos de existência, presente em quase 30 países, uma das maiores do mundo, responsável por levar o Brasil à autosuficiência em petróleo, que, nem por um momento, deixou de lado o que a sustenta, o que a mantém de pé. Além disso, nela foram feitos investimentos que lhe deram mais condições de aumentar a produção, adquirir plataformas e sondas, modernizar e ampliar refinarias, contratar e treinar pessoal, conquistar o que conquistou.
A exploração cujo resultado está na boca do mundo não foi um tiro no escuro, não foi o primeiro passo dado pela Petrobras. Ela é parte de um planejamento estratégico, diferentemente do que acontece nesses relacionamentos amorosos em que um se aprofunda no outro tentando descobrir algo que pode estar muito além de 7.000 metros abaixo. Uma aventura louca assim costuma terminar em tristeza, sentimento de fracasso, remorso, esgotamento físico, mental e emocional, e, não raramente, de reservas financeiras. Não estou negando que haja bondade em todos. Eu acredito no ser humano, sem exceção, inclusive naqueles dos quais devemos manter distância, evitando qualquer relacionamento que ultrapasse uma piedosa oração.
No limite das nossas forças, devemos ajudar todos os que estiverem dispostos a entrar em contato com seus tesouros. Porém, não nos cabe fazer o trabalho por quem ainda não compreendeu que precisa se movimentar nesse sentido. O petróleo está lá, inerte, abaixo da camada de sal, aguardando quem queira e possa extraí-lo. Mas, quando se trata de pessoas, só elas são capazes de trazer à tona o seu petróleo. E, se elas não estiverem dispostas a tentar, o melhor a fazer é deixar que o tempo, senhor de grande poder, do qual ninguém escapa, encarregue-se de colocar tudo nos seus devidos lugares.
É natural que pessoas cuja riqueza interior ainda está inacessível nos tragam preocupação, mas elas não merecem mais cuidado do que aquelas que, movidas pela necessidade de preencher um enorme vazio interior, que dói profundamente, pelo desespero de encontrar alguém que as ame, lançam-se em uma perigosa viagem que pode até lhes custar a vida. Porque não é o amor que movimenta esses exploradores, mas a dor. Ninguém que não se ame é realmente capaz de amar outra pessoa. Ninguém dá o que não tem.
Antes de empenharmos nossa vida na busca de tesouros alheios, devemos procurar conhecer os nossos. E não estou me referindo apenas às nossas forças, mas também à riqueza das nossas fraquezas, das nossas dores, dos traumas não superados, do que ainda não restou entendido. Não devemos nos lançar, unicamente por nossa conta e risco, em projetos de salvamento, se ainda não fomos salvos. Em alguns casos, o melhor a fazer é manter distância e confiar que a Providência Divina se encarregará de ajudar aquela criatura a trazer à tona sua essência.
Há quem diga que, quando o Brasil conseguir produzir em escala comercial o que há no pré-sal, pode ser que tudo aquilo nem tenha a relevância que tem agora. Todos sabemos que há muitas frentes de pesquisa em busca de fontes renováveis de energia limpa. Obviamente não pode passar na cabeça de qualquer governante que, diante desse cenário alternativo, devemos desprezar o potencial do pré-sal. No entanto, não dá para apostar todas as fichas nisso e esquecer o biodiesel, a energia eólica e a que vem do lixo. A fila das fontes de energia também precisa andar, tal qual acontece nos relacionamentos. Devemos sempre procurar a melhor relação custo x benefício.
Lula falou que o Brasil não tem medo de crescer e que não vai ficar preso a dogmas, a modelos fechados, que a independência não é um quadro na parede, um grito congelado na história, mas uma construção do dia a dia, a reinvenção permanente de uma nação, a caminhada segura e soberana para o futuro. Mensagem bonita e forte que fala de uma postura que exige preparo. É preciso muito mais do que paixão para encontrar tesouros. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!
E lá estava eu, na frente da TV, ouvindo tudo aquilo e pensando no retorno financeiro dos 800 quilômetros de petróleo entre Espírito Santo e Santa Catarina, na proposta de um fundo que, conforme dito por Lula, ajudará o país a pagar a imensa dívida social que temos e evitará a entrada desordenada de dinheiro externo, garantindo-nos uma economia saudável. Foi quando me veio à mente um outro discurso, o de um paciente que me contou estar apaixonado por uma mulher que todos dizem não valer nada, que não corresponde aos seus sentimentos, que o faz sofrer com sua indiferença, mas que ele sabe ser, bem lá no fundo, uma pessoa maravilhosa.
É verdade. As pessoas também escondem tesouros em suas entranhas, debaixo de uma camada de características que podem afastar os outros. Mas sempre há alguém disposto a investir nelas, pronto a atravessar várias sobreposições, a fazer o que fez a Petrobras, que explorou até encontrar algo extraordinário que causou admiração no resto do mundo e deixou os brasileiros orgulhosos de nossa capacidade de enxergar além, de nossa persistência e disposição para o trabalho firme. Só que, entre a Petrobras e esses desbravadores de almas, há enormes diferenças.
A camada pré-sal não foi encontrada por acaso, de graça ou facilmente. Quando iniciou o projeto, a Petrobras já era uma instituição sólida, com mais de 50 anos de existência, presente em quase 30 países, uma das maiores do mundo, responsável por levar o Brasil à autosuficiência em petróleo, que, nem por um momento, deixou de lado o que a sustenta, o que a mantém de pé. Além disso, nela foram feitos investimentos que lhe deram mais condições de aumentar a produção, adquirir plataformas e sondas, modernizar e ampliar refinarias, contratar e treinar pessoal, conquistar o que conquistou.
A exploração cujo resultado está na boca do mundo não foi um tiro no escuro, não foi o primeiro passo dado pela Petrobras. Ela é parte de um planejamento estratégico, diferentemente do que acontece nesses relacionamentos amorosos em que um se aprofunda no outro tentando descobrir algo que pode estar muito além de 7.000 metros abaixo. Uma aventura louca assim costuma terminar em tristeza, sentimento de fracasso, remorso, esgotamento físico, mental e emocional, e, não raramente, de reservas financeiras. Não estou negando que haja bondade em todos. Eu acredito no ser humano, sem exceção, inclusive naqueles dos quais devemos manter distância, evitando qualquer relacionamento que ultrapasse uma piedosa oração.
No limite das nossas forças, devemos ajudar todos os que estiverem dispostos a entrar em contato com seus tesouros. Porém, não nos cabe fazer o trabalho por quem ainda não compreendeu que precisa se movimentar nesse sentido. O petróleo está lá, inerte, abaixo da camada de sal, aguardando quem queira e possa extraí-lo. Mas, quando se trata de pessoas, só elas são capazes de trazer à tona o seu petróleo. E, se elas não estiverem dispostas a tentar, o melhor a fazer é deixar que o tempo, senhor de grande poder, do qual ninguém escapa, encarregue-se de colocar tudo nos seus devidos lugares.
É natural que pessoas cuja riqueza interior ainda está inacessível nos tragam preocupação, mas elas não merecem mais cuidado do que aquelas que, movidas pela necessidade de preencher um enorme vazio interior, que dói profundamente, pelo desespero de encontrar alguém que as ame, lançam-se em uma perigosa viagem que pode até lhes custar a vida. Porque não é o amor que movimenta esses exploradores, mas a dor. Ninguém que não se ame é realmente capaz de amar outra pessoa. Ninguém dá o que não tem.
Antes de empenharmos nossa vida na busca de tesouros alheios, devemos procurar conhecer os nossos. E não estou me referindo apenas às nossas forças, mas também à riqueza das nossas fraquezas, das nossas dores, dos traumas não superados, do que ainda não restou entendido. Não devemos nos lançar, unicamente por nossa conta e risco, em projetos de salvamento, se ainda não fomos salvos. Em alguns casos, o melhor a fazer é manter distância e confiar que a Providência Divina se encarregará de ajudar aquela criatura a trazer à tona sua essência.
Há quem diga que, quando o Brasil conseguir produzir em escala comercial o que há no pré-sal, pode ser que tudo aquilo nem tenha a relevância que tem agora. Todos sabemos que há muitas frentes de pesquisa em busca de fontes renováveis de energia limpa. Obviamente não pode passar na cabeça de qualquer governante que, diante desse cenário alternativo, devemos desprezar o potencial do pré-sal. No entanto, não dá para apostar todas as fichas nisso e esquecer o biodiesel, a energia eólica e a que vem do lixo. A fila das fontes de energia também precisa andar, tal qual acontece nos relacionamentos. Devemos sempre procurar a melhor relação custo x benefício.
Lula falou que o Brasil não tem medo de crescer e que não vai ficar preso a dogmas, a modelos fechados, que a independência não é um quadro na parede, um grito congelado na história, mas uma construção do dia a dia, a reinvenção permanente de uma nação, a caminhada segura e soberana para o futuro. Mensagem bonita e forte que fala de uma postura que exige preparo. É preciso muito mais do que paixão para encontrar tesouros. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!
Maraci Sant'Ana