3 de maio de 2009

Mônica, Eduardo, Sônia e o bloqueio ao telemarketing

Publicado em 4/4/2009, no site do Correio Braziliense, Blog do Vicente Nunes,
coluna A Psicologia e o Dinheiro


São Paulo saiu na frente e espero que seja seguido de perto pelos demais estados. Lá, já se pode, mediante cadastro na página eletrônica do Procon, bloquear telefones para o recebimento de ligações de telemarketing. Em menos de uma semana, o número de linhas inscritas havia superado 182 mil. Conforme publicado em Veja.com, Evandro Zuliani, diretor de atendimento daquele órgão, teria assim resumido o benefício trazido pelo novo dispositivo: "A lei proíbe que incomodem o cidadão".

A gente entende que empresários e atendentes estão tentando ganhar seu sustento. Só que, nesse tipo de atividade, acontecem muitos abusos, com ligações inoportunas, insistentes e às vezes agressivas. E nem quero me referir ao irritante gerundismo. Agora, os paulistas é que decidem que empresas podem lhes oferecer produtos ou serviços, entrar em suas casas, em suas vidas. Lógico, não? Pois, vou contar aqui o caso de uma paciente que viveu uma situação parecida, embora diferente. Eu a chamarei de Mônica; o marido dela, de Eduardo; e a ex-mulher dele, de Sônia.

Mônica e Eduardo se conheceram no trabalho e se apaixonaram. Ela morava na mesma cidade em que trabalhavam, mas ele, em uma vizinha. Logo que o romance começou, Eduardo tratou de colocar ponto final em seu casamento, que há muito acabara de fato. Segundo ele, nem a esposa merecia ser traída nem Mônica merecia levar vida de amante. Resolvida essa questão, foram viver juntos. Entretanto, para que Eduardo pudesse acompanhar o crescimento dos filhos, ficou acordado que, a cada 15 dias, ele viajaria para a antiga cidade e lá passaria o final de semana. Como diz uma amiga minha, tudo arrumadinho dentro dos vidrinhos.

Só que eles não contavam com a revolta de Sônia. Quanta ingenuidade! Passado o primeiro mês e o impacto inicial, a ex colocou em prática um plano singelo mas poderoso – nos finais de semana em que Eduardo estava com os filhos, ela se dedicava a infernizar Mônica. Sônia telefonava várias vezes ao dia, inclusive de madrugada, dando a entender que ela e Eduardo estavam curtindo tórridos momentos de amor. Valia tudo – sussuros, gemidos, o nome dele languidamente pronunciado, barulho de copos em brinde, Leonardo ou Daniel cantando ao fundo, terrorismo puro. E, pra complicar, a operadora de telefonia móvel não colaborava. O celular de Eduardo vivia fora da área de serviço. É aquela velha máxima – a coisa sempre pode piorar.

Para Mônica, era um suplício. Ela tinha razões para confiar em Eduardo, mas... Tudo bem que ele demonstrara bom caráter providenciando logo a separação, na tentativa de não expor nenhuma das duas, mas... É certo que eles estavam vivendo uma grande paixão, com todos as vantagens de um relacionamento em fase inicial, mas... A verdade é que ela não conseguia tirar da cabeça que, com Sônia, ele já havia percorrido muitos anos, tido filhos, construído um patrimônio, uma história. Ela começou a pensar que, de repente, a chegada dela à vida de Eduardo poderia ter servido apenas para espanar o marasmo do casamento deles, enfim revigorado. O que inicialmente era maravilhoso agora se mostrava perigoso. E Sônia, nossa versão feminina de Bin Laden, parecia adivinhar os pensamentos de Mônica. Aliás, não é difícil para uma mulher saber o que se passa na cabeça de outra. Então, ela se fazia implacável.

Dá para imaginar o que acontecia quando Eduardo chegava de volta a casa no domingo à noite? Isso mesmo – o pau comia e não era daquele jeito legal. As brigas foram se tornando frequentes e intensas. Ele se defendia como podia. Mônica tentava confiar, mas não conseguia. Tudo bem que ela tinha muitos motivos para acreditar nele e muitos para desconfiar de Sônia, mas... O paraíso virou o inferno. Quando ela me procurou, já pensava em separação. E foi só durante o processo terapêutico que Mônica entendeu que estava na hora de tomar de volta as rédeas de sua vida que, num momento de invigilância, ela deixara ao alcance de Sônia.

Havia a possibilidade de Eduardo estar mentindo e Sônia dizendo a verdade? Havia. Ela tinha como checar isso? Tinha. Entretanto, Mônica decidiu que só tomaria essa providência se acontecesse algo que ela julgasse relevante, mais significativo do que o amor que pareciam viver, e se o coração dela apontasse nessa direção. Finalmente, se fosse preciso deixar Eduardo, ela o faria. Mas essa decisão seria dela e não de Sônia. Assim pensando, procurou a polícia e registrou uma ocorrência. Afinal, também nesses casos, a lei proíbe que incomodem um cidadão. A ex foi chamada para uma convesa e advertida pelo delegado. Impedida de infernizar Mônica, nada mais restou a Sônia, além, é claro, da opção de abaixar o facho. Meio desconfiada, mas livre do tormento, Mônica, aos poucos, voltou a se entender com o marido.

As insinuações de Sônia nunca restaram comprovadas. Mas o desfecho poderia ter sido diferente? Sim. Há ex-mulheres que falam a verdade? Há. Mas isso, naquele momento, não era o mais importante. A providência tomada por Mônica deixou claro que ela estava novamente no controle de sua vida. Somente a ela cabia decidir o que fazer e quando fazer, sem pressões, tal qual os consumidores paulistas. Moral da história: devemos nos manter vigilantes. Os relacionamentos pessoais são importantíssimos e estamos sempre aprendendo com os outros, da mesma forma que a eles ensinando, mas não devemos permitir que ninguém determine o tipo de pessoa que seremos, nem as decisões que tomaremos pela vida afora. Valeu, irmã! Até sábado, leitores!

Nem toda ex-mulher é uma peste. Aliás, eu sustento a teoria de que qualquer mulher, antes de se envolver com um homem, deveria procurar conversar com suas antecessoras. Quer conhecer uma situação em que uma ex tentou ajudar? Acesse maracisantana.blogspot.com e pesquise o texto Dormindo com o inimigo.

Maraci Sant'Ana

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