28 de abril de 2008

Por Isabella


Publicado no site do Correio Braziliense em 27/4/08, Editoria Brasil,
item Terapeuta fala sobre comoção provocada pelo caso Isabella.

A morte de Isabella nos atingiu em cheio. Algo assim nunca passa em brancas nuvens. Entretanto, o clamor público também tem sido destaque. Pessoas mudaram sua rotina para acompanhar o noticiário e algumas se revoltaram a ponto de agir de forma irracional. O que estaria fomentando tanto interesse? Há quem acredite que isso é resultado da exaustiva cobertura do caso. Também há quem pense que a imprensa tem dado às pessoas exatamente o que elas procuram. Mas outras considerações sobre o tema podem ser feitas.

É fato que nos preocupamos com nossa finitude e, ao sabermos que alguém não-próximo morreu, a pergunta “De quê?” é inevitável. Parece que tentamos nos preparar para uma situação para a qual poucos estão realmente prontos. Vivenciar a morte de um estranho talvez nos ajude a lidar com a idéia do nosso fim. E, se houve um crime, além da básica curiosidade, entram em jogo sentimentos como tristeza e raiva, que nos aproximam de outras pessoas também por eles afetadas e estimulam o interesse, o clamor por justiça.

O caso de Isabella é mais complexo. Podemos até suportar homicídios, mas não o assassínio de criança, que tenha como suspeito alguém da família. Somos tomados pelo horror e surge a necessidade incontrolável de acompanhar o caso, uma urgência em saber se as suspeitas se confirmam. Em caso negativo, haverá um certo alívio; em caso positivo, uma sensação de fim do mundo que nos acompanhará por um tempo.

E, como se tudo isso não bastasse, o crime envolveu pessoas que são como a maioria dos que estão acompanhando o caso - de classe média, que se reúnem em família nos finais de semana, vão a supermercado, têm carro, casa e curso superior. Nada a ver com barbáries cometidas em favelas longínquas, por gente miserável, sem nenhuma instrução, com as quais confortavelmente lidamos, fazendo de conta que elas habitam outro planeta.

O quadro é assustador. Já se fala que, no Brasil, a cada minuto, uma criança ou adolescente é vítima de violência doméstica e que, em média, duas crianças são mortas, por dia, por quem delas deveria cuidar. Se esses crimes tivessem a mesma repercussão do caso Isabella, será que suportaríamos o noticiário sem o risco de um colapso nervoso ou de terminarmos nos acostumando a ponto de nos tornarmos indiferentes?

Será que não é menos doloroso eleger, de tempo em tempo, um símbolo dessa nossa dura realidade, como fizemos com João Hélio há um ano e agora com Isabella, para que possamos nos chafurdar na dor e na revolta por todos os absurdos que sabemos que acontecem todos os dias? Ou será que tanta ânsia não tem origem na face sombria, obscura, tenebrosa de nossa personalidade, na porção ignorante que ainda existe em cada um de nós e que pode até nos levar a matar sem piedade?

Maraci Sant'Ana


14 de abril de 2008

Também espirituais


Publicado no Tribuna do Brasil de 8/6/2007
Caderno TBPrograma, Coluna Psicoproseando...com Maraci


Não dá mais para negar as evidências de que nós não somos apenas matéria, mas, antes de tudo, espírito. Por isso costumo recomendar aos meus pacientes que, além da psicoterapia e do eventual uso de medicação, façam relaxamento, ouçam boas músicas, assistam a bons filmes, leiam bons textos e, principalmente, exercitem a fé.

Vivemos num mundo ainda muito materialista, esquecidos de que não somos um corpo que abriga um espírito. Somos um espírito que usa um corpo, instrumento indispensável para que estejamos neste planeta. E somos parte de um todo perfeitamente integrado e harmônico. Nunca estamos sós. Estamos, todo o tempo, interagindo energeticamente com os outros humanos, com os animais, com os vegetais, com os minerais, com um mundo visível e com um mundo invisível, com o universo, com o próprio Criador.

Nesta semana, uma paciente me dizia o quanto está preocupada com a irmã, que já esteve internada por um transtorno psiquiátrico, que, de repente, por conta própria, suspendeu a medicação que vinha tomando há anos, com sucesso, e entrou numa espécie de surto. E foi conversando que descobri que a doente, além de não estar sendo acompanhada por um psicoterapeuta, não pratica nenhuma espécie de religião.

Costumo dizer que não estamos neste mundo a passeio, mas a trabalho. Isso também envolve prazer, mas mais dificuldades, que fazem parte do tipo de vida que ainda levamos. As pessoas estão sempre em crise. Quando não é por falta de dinheiro ou por um desentendimento familiar, é por um outro tormento qualquer. E até mesmo quem está com tudo em ordem pode, sem mais nem menos, sentir-se invadir por um enorme vazio existencial.

Como é possível acreditarmos que alguém que sofre de um problema que é primariamente da alma consiga superar essas dificuldades apenas com medicação, sem um apoio emocional, sem um socorro espiritual?

Viver não é brincadeira não. E é muito mais do que muitos imaginam. É ter consciência do que realmente somos, que vai muito além do que costumamos ver no espelho. Viver é procurar, pacientemente, incessantemente e profundamente o autoconhecimento. Viver é trabalhar para a própria melhoria e para a melhoria do outro, do planeta, do universo. Viver é expandir a consciência. Viver é buscar o divino que existe em cada um de nós, sem exceção.

Assim, se você está doente, procure um médico. Se está emocionalmente fragilizado, procure um psicoterapeuta. Mas tenha em mente que você é um ser espiritual. Se tem fé, exercite-a. Se não conseguir fazer isso sozinho, procure uma igreja, casa de oração, uma religião, seja ela qual for. O importante é que você se sinta espiritualmente acolhido. Todos os caminhos levam a Deus. Até sexta-feira !